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Alagoas
08/02/2020 12:00:00

Como será a quarentena, em Anápolis, dos brasileiros que retornarão da China


Como será a quarentena, em Anápolis, dos brasileiros que retornarão da China

Dezoito dias confinados, passando por três aferições diárias dos dados vitais e sem direito a receber visitas. Essas são algumas das condições com as quais os brasileiros e seus familiares que serão resgatados na China concordaram antes de embarcar, nesta sexta-feira (7), nos dois aviões enviados pelo governo brasileiro.

A quarentena será feita na Base Aérea de Anápolis, em Goiás, localizada a cerca de 5 km do centro da cidade e a cerca de 160 km de Brasília, onde há 2 hotéis de trânsito para militares.

Serão coletadas amostras respiratórias na chegada do grupo repatriado ao Brasil e no 14º dia de quarentena. Se, no entanto, alguém apresentar sintomas durante o confinamento, outras amostras respiratórias deverão ser recolhidas. 

O HuffPost ouviu fontes envolvidas na operação de preparo da Base Aérea para receber os repatriados. Segundo elas, há preocupação com o bem-estar dessas pessoas e “será feito o máximo para melhorar o período da quarentena” e tornar os 18 dias, inclusive pelo fato de haver crianças, “menos cansativos”.

Ao vistoriar a base na terça (4), o tenente-brigadeiro Marcelo Damasceno, secretário de Economia, Finanças e Administração da Aeronáutica afirmou que a presença de crianças entre os repatriados faz ser redobrado o cuidado no local, chegando a falar em ”área de lazer”, sem contudo dar detalhes. 

No caso das crianças, inclusive, será permitido que elas fiquem junto a seus pais “se tiver disponibilidade”. A orientação para os outros casos é que eles fiquem em quartos individuais. 

Um dos hotéis da base aérea - o destinado a oficiais - tem 40 suítes, com TV,
frigobar, ventilador, telefone e ar condicionado. Já o outro prédio, que hospeda suboficiais e sargentos, tem 34 quartos duplos, com TV e ventilador.

As instalações possuem Wi-Fi, e deve ser permitido aos repatriados portar equipamentos eletrônicos. 

Segundo informações constantes no portal especial que o Ministério da Saúde criou para acompanhamento da doença, “as investigações sobre transmissão do novo coronavírus ainda estão em andamento” e “ainda não está claro com que facilidade” o vírus se espalha. Contudo, já se sabe que “a disseminação de pessoa para pessoa, ou seja, a contaminação por contato, está ocorrendo”. 

Por isso, uma das preocupações das equipes responsáveis pelos repatriados nos hotéis de trânsito é “seguir normas de higiene” e segurança sanitária. Outro ponto de preocupação é sobre a circulação do ar e limpeza dos filtros de ar condicionado. 

 

Regras da quarentena presentes no questionário que os interessados na repatriação preencheram: 

1 - A quarentena no Brasil terá duração de 18 dias.

2 - O preenchimento desse questionário é obrigatório.

3 - Você ficará em quarto individual e deverá permitir aferir seus dados vitais diariamente, 3 vezes ao dia.

4 - Se os indivíduos forem da mesma família poderá ficar no mesmo quarto se tiver disponibilidade. 

5 - Você não terá direito a visitas durante a quarentena. 

6 - Iremos coletar amostras respiratórias na sua chegada ao Brasil e décimo quarto dia. 

7 - Se apresentar algum sintoma durante a quarentena, outras amostras respiratórias poderão ser coletadas. 

8 - Não é permitido o embarque com animais e produtos agrícolas. 

9 - Você terá direito despachar uma bagagem de 23 kg e levar uma bagagem de mão na cabine da aeronave de até 10 kg nos padrões estabelecidos pela ANAC para voos nacionais e internacionais. 

10 - Ao desembarcar no Brasil os procedimentos legais e administrativos migratórios e aduaneiros serão realizados na base militar. 

11 - Não haverá viagem de retorno para China por conta do Estado. 

12 - Na chegada em Wuhan a equipe médica irá te examinar para certificar que você não tem nenhum sintoma. 

13 - Se for verificado qualquer sintoma sugestivo da infecção pelo novo coronavírus no momento do embarque você não será repatriado. 

Situação inédita

Vários detalhes ainda serão definidos nos próximos dois dias, uma vez que trata-se de um protocolo inédito no País. Por exemplo, ainda falta decidir como se dará a circulação das pessoas pela base. Sabe-se que, por se tratar de um ambiente militar, não haverá livre trânsito por todo o complexo de 1.650 hectares. 

Porém, a lei de quarentena aprovada pelo Senado no fim da tarde de quarta distingue essa situação do isolamento. Portanto, não se espera que os repatriados sejam obrigados a ficar ilhados em seus respectivos quartos pelos 18 dias em que estarão em Anápolis. 

DIVULGAÇÃO MINISTÉRIO DA DEFESA
Sem viagem nos próximos dias, presidente Bolsonaro cedeu aeronaves que usa para traslados para buscar brasileiros e parentes na China.

A nova lei define como quarentena “restrição de atividades ou separação de pessoas suspeitas de contaminação das pessoas que não estejam doentes, ou de bagagens, contêineres, animais, meios de transporte ou mercadorias suspeitos de contaminação, de maneira a evitar a possível contaminação ou a propagação do coronavírus”. 

Este conceito é diferente de “isolamento”. Fontes do governo destacaram a necessidade dessa diferenciação e registraram que apenas pessoas que estiverem com sintomas de coronavírus devem ser isoladas.

“Separação de pessoas doentes ou contaminadas, ou de bagagens, meios de transporte, mercadorias ou encomendas postais afetadas, de outros, de maneira a evitar a contaminação ou a propagação do coronavírus”, ressalta o texto aprovado pelo Congresso. 

Desta forma, se alguém apresentar sintomas, estes sim entrarão em confinamento, ainda em Anápolis. Apenas se o caso se agravar e seja necessário algum cuidado mais específico, haverá duas aeronaves à disposição na Base de Anápolis para levar o eventual paciente ao HFA (Hospital das Forças Armadas) em Brasília. 

Haverá visitas técnicas das equipes dos Ministérios da Defesa, Saúde e Anvisa e dos próprios ministros até lá, além de uma série de reuniões para definir os detalhes que ainda faltam. 

DIVULGAÇÃO MINISTÉRIO DA DEFESA
Duas aeronaves presidenciais da FAB saíram de Brasília no início da tarde desta quarta com previsão de retorno na manhã de sábado.

Rumo à China

Na quarta, por volta de 12h30, decolaram os dois aviões presidenciais da Força Aérea Brasileira que vão resgatar os brasileiros e parentes que manifestaram interesse na repatriação. Até esta quarta-feira (5), de acordo com o Ministério da Saúde, o grupo era formado por 34 pessoas. O número, contudo, ainda pode mudar - tanto outros interessados podem aderir, como alguém pode manifestar sintoma da doença e ser deixado para trás, conforme as regras que todos aceitaram. 

Cada uma das aeronaves, com capacidade para 30 passageiros, irá para Wuhan com 11 tripulantes, seis médicos militares e um ligado ao Ministério da Saúde. 

Entre a ida e a volta, estimam-se 62 horas de viagem, com escalas em Fortaleza, Las Palmas (Espanha), Varsóvia (Polônia), Ürümqi (China) e, enfim, Wuhan. O mesmo trajeto será feito na volta, com a diferença de que o pouso, ao invés de ser feito em Brasília, ocorrerá na Base Aérea de Anápolis. A previsão é de desembarque na cidade goiana na manhã de sábado (8).

Segundo Damasceno, o Instituto de Medicina Espacial enviou do Rio de Janeiro especialmente para a viagem um equipamento chamado “bolha” para o caso de alguma pessoa apresentar sintomas de coronavírus no retorno ao Brasil. 

O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, explicou que a bolha é um “equipamento respiratório”. “Nenhum sintomático irá embarcar, mas caso alguém venha a desenvolver sintomas durante o voo, ele tem este tipo de equipamento que pode isolar este paciente de maneira mais restrita”. 

DIVULGAÇÃO MINISTÉRIO DA DEFESA
Ministro da Defesa, Fernando Azevedo, inspecionou os aviões da FAB que decolaram na quarta rumo a Wuhan para buscar os interessados na repatriação.

Atualização do coronavírus

Apenas na China, até a noite de quarta, já havia mais de 28 mil pessoas infectadas pelo coronavírus e 564 mortes pela doença. 

Segundo o Ministério da Saúde, 99% dos casos confirmados está concentrado na China. Há pessoas infectadas em outros 25 países. 

No Brasil, não há nenhum caso confirmado da doença e 11 suspeitos são monitorados. Desde as primeiras suspeitas, 21 possibilidades já foram descartadas. Os dados são atualizados diariamente.

Para se precaver para possíveis casos que venham a se confirmar, a pasta informou que irá adquirir insumos ao custo de R$ 140 milhões. Serão comprados itens como máscaras cirúrgicas e máscaras cirúrgicas diferenciadas (MP95), protetores faciais e óculos, luvas, álcool gel, aventais, entre outros. 

O secretário-executivo da pasta, João Gabbardo dos Reis, explicou que estes são materiais que não se perdem. “Mesmo que, no final das contas, não tenhamos necessidade de todos esses insumos adquiridos, eles serão usados futuramente, pois são materiais de uso normal no tratamento de doenças respiratórias”, disse na quarta. 

Há um outro processo de licitação em andamento, este para garantir a instalação de mil leitos de UTI (Unidades de Terapia Intensiva), que irão ser colocados “de acordo com a demanda, com a evolução da doença”. Segundo Gabbardo, os locais serão instalados em uma semana, preferencialmente em hospitais de referência, conforme a necessidade, sem que as unidades atuais sejam desativadas. 

“Vamos pedir para que hospitais de referência possam ir já providenciando locais novos para serem instalados. Não vamos substituir leitos de UTI por novos leitos de UTI. O hospital vai ter que apresentar outra área física que esteja sendo usada por leitos convencionais para instalar, se necessário, as UTIs e preparando rede elétrica, de gás e oxigênio, etc. Deixar tudo pronto para, se necessário, a gente entrar e fazer instalação dos equipamentos.”



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