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Economia
05/02/2020 14:00:00

Mercado espera a queda da taxa Selic para 4,25% ao ano


Mercado espera a queda da taxa Selic para 4,25% ao ano

A primeira reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) começa nesta terça-feira (4/2). E, se depender das projeções predominantes no mercado financeiro, vai terminar, nesta quarta-feira (5/2), com o anúncio de um novo corte da taxa básica de juros (Selic). A expectativa é de que a taxa caia de 4,5% para 4,25% ao ano, visto que a inflação continua sob controle e a recuperação da economia ainda caminha a passos lentos.

Caso chegue a 4,25%, a Selic marcará nova mínima histórica. Segundo o Boletim Focus, no qual o BC reúne as expectativas de analistas do mercado, ela deve permanecer nesse patamar, pelo menos, até o fim deste ano. Especialistas dizem que, como a expectativa da inflação de 2020 caiu para 3,4% no Boletim Focus de nesta terça-feira (4/2) — muito abaixo da meta oficial de 4% —, há espaço para um novo corte de juros, medida que reduz o custo do crédito e, desse modo, incentiva o consumo e contribui com a retomada da economia brasileira.
 
Uma taxa de juros mais baixa pode também permitir um nível mais alto de inflação. Entretanto, nas condições atuais, isso não é considerado um problema. “Ter uma inflação abaixo da meta é um erro tão grande quanto ter uma inflação acima da meta. Significa que o juro está acima e o emprego, abaixo do que poderiam estar. Então, é possível baixar um pouco mais os juros para estimular o consumo, a produção e o emprego”, explicou o economista-chefe da Quantitas Gestão de Recursos, Ivo Chermont.
 
Ele destacou que riscos como o choque no preço das carnes, que elevou a inflação em dezembro, e o surto do coronavírus, que fez o dólar subir nos últimos dias,  já foram absorvidos pela expectativa de inflação de 3,4%. Por isso, não devem interromper o ciclo de queda da Selic.
 
“A expectativa é de que haja um novo corte dos juros, a despeito das incertezas globais, porque toda a volatilidade não tem alterado o risco inflacionário. O câmbio foi pressionado e o Brasil tem passado por muitos choques de preços, mas, mesmo assim, as expectativas de inflação seguem controladas. Em janeiro, que foi um mês de muita volatilidade, elas até caíram”, acrescentou o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani.
 
Por conta do entendimento de que novo corte da Selic já é praticamente certo, a maior atenção dos analistas estará no recado que deve vir depois do anúncio oficial da nova taxa, na ata em que o comitê apresenta as razões da decisão e as perspectivas da política monetária para médio e longo prazos.
 
“O principal recado pode ser o de que o atual ciclo de redução da Selic chegou ao fim. Até porque o ajuste foi feito, já está dado. O novo corte de 0,25% seria um ajuste muito fino, visto que os juros de dois dígitos já ficaram para trás”, avaliou o economista-chefe da Daycoval, Rafael Cardoso. A Selic tem tido quedas sucessivas desde 2015, quando estava em 14,25%.
 
Contudo, também fica a expectativa de que o corte da Selic tenha algum efeito nos juros cobrados ao consumidor, que ainda são bem mais elevados que a taxa básica. O pleito foi levantado pelos representantes do setor produtivo, que querem estímulos mais fortes ao consumo e à produção.
 
“As taxas ainda não voltaram ao patamar pré-2014”, observou o presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. Ele disse, contudo, que não é tão simples reduzir essa distância entre a taxa básica e as taxas cobradas no mercado. “Depende do ambiente econômico. Os bancos mantêm o spread alto por conta do risco, porque a economia ainda está andando de lado, o desemprego é elevado e eles, portanto, não têm garantia de que vão receber os empréstimos de volta. Por isso, só voltaremos àquele patamar de juros quando a economia crescer de forma mais consistente”, afirmou, lembrando que as decisões da política monetária só geram impactos na economia depois de pelo menos seis meses.

Indústria tem dados negativos em 2019 

A indústria amargou mais um ano de resultados negativos. Balanço divulgado nesta segunda-feira (3/2) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) explica que, apesar das altas ensaiadas ao longo do período, o setor acabou 2019 com uma queda de 0,8% no faturamento, redução nas horas trabalhadas, diminuição do número de empregados e massa salarial menor.
 
De acordo com a CNI, cinco dos seis indicadores da indústria pioraram em relação aos números registrados em 2018. Com a queda do faturamento, as horas trabalhadas na produção foram reduzidas em 0,5%. E isso impactou diretamente a situação do emprego industrial: o setor cortou em 0,3% o número de empregados e ainda achatou em 1,5% rendimento real desses trabalhadores, o que diminuiu em 1,9% a massa salarial real da indústria.
 
O único indicador que teve resultado positivo foi o que mede o uso da capacidade instalada das fábricas. A redução da ociosidade, contudo, foi pequena: de 0,1%. Apenas 77,7% do parque industrial brasileiro está sendo usado hoje em dia. Os outros 22,3% seguem parados, à espera da recuperação da atividade econômica.
 
Economista da CNI, Marcelo Azevedo não indicou quais segmentos industriais foram mais afetados. Mas explicou que os números são o reflexo de uma série de fatores. Segundo ele, o aumento de demanda até ocorreu, mas não foi tão grande quando o esperado, já que a retomada da economia tem sido lenta. Não bastasse isso, o aumento de demanda foi, em boa parte, atendido por empresas estrangeiras, já que, diante do alto custo e da baixa competitividade do setor produtivo nacional, muitas vezes ainda é melhor importar do que encomendar um produto à indústria local.

Mercado externo

“O problema é que muito dessa demanda não está sendo atendida pela indústria nacional. E, por isso, não reflete na produção”, afirmou Azevedo. Ele acrescentou que o mercado externo também não ajudou, fazendo com que as exportações brasileiras caíssem em 2019 em decorrência de fatores como a crise da Argentina e a desaceleração da economia mundial.
 
Apesar disso, o economista da CNI não classifica 2019 como um ano perdido para a indústria. Ele diz que, mesmo sendo de apenas 0,1%, o aumento do uso da capacidade instalada é algo positivo. “Além disso, vimos que a saúde financeira das empresas melhorou e que o problema da demanda já não é tão grande. Então, começamos 2020 um pouco melhores”, alegou.
 
Por conta desse entendimento, a indústria tem boas expectativas para este ano: a projeção é de um PIB industrial de 2,8%, maior que o PIB brasileiro, estimado em 2,1%. Azevedo explica que a reforma tributária pode contribuir para a melhora da competitividade nacional e, por isso, pede que a agenda de reformas continue sendo a prioridade do governo e do Congresso em 2020.
 
Além disso, ele lembra a expectativa é de que a economia brasileira cresça mais neste ano, o que eleva a demanda por produtos industriais. “Esperamos que a atividade econômica melhore e que isso se reflita na geração de empregos do setor”, disse o economista. 


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