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Saúde
30/01/2020 08:00:00

Mal de Parkinson pode 'começar' antes do nascimento, diz estudo


Mal de Parkinson pode 'começar' antes do nascimento, diz estudo

Um novo estudo investigando a origem da doença de Parkinson jogou células do cérebro de pacientes em um verdadeiro "túnel do tempo".

O objetivo foi identificar, especificamente em pacientes com manifestação precoce do Parkinson — diagnosticados entre os 21 a 50 anos de idade —, o que pode ter dado "errado" nestas células em sua formação. Pessoas diagnosticadas com Parkinson nesta faixa etária correspondem de 5 a 10% do total de pacientes com a doença.

Em geral, o Parkinson ocorre quando neurônios que produzem a dopamina, substância que participa da coordenação de movimentos musculares, morrem ou têm funcionamento deteriorado. Com isso, sintomas começam a aparecer — geralmente a partir dos 60 anos — e a piorar, como rigidez nos músculos, lentidão nos movimentos corporais, tremores e perda de equilíbrio. Não existe hoje tratamento que cure a doença, mas sim terapias que contribuem para amenizar sintomas e desacelerar o progresso do quadro.

Mas ainda não está satisfatoriamente respondido o que leva a essas falhas — estima-se que cerca de 10% dos casos são causados por mutações em genes específicos, e sabe-se também, de forma incipiente, que pode haver uma combinação de fatores ambientais e genéticos.

Por isso, uma equipe do Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles, EUA, resolveu justamente investigar os casos de jovens pacientes com Parkinson sem histórico familiar da doença e também sem mutações associadas ao Parkinson.

Para tal, os cientistas geraram as chamadas células-tronco pluripotente induzidas (iPSCs, na sigla em inglês). Estas são geradas levando células adultas ao seu estado primitivo embrionário. Assim, as células-tronco pluripotente induzidas podem produzir qualquer tipo de célula do corpo humano, e geneticamente idêntica às células do paciente em si.

No caso deste estudo, publicado no periódico Nature Medicine, os autores coletaram células do sangue dos pacientes, geraram iPSCs e então neurônios produtores de dopamina (neurônios dopaminérgicos). Estes então foram observados em laboratório. A primeira etapa do estudo envolveu três pacientes com Parkinson precoce e três pessoas em um grupo controle; depois, houve uma nova rodada de checagem com mais pacientes.

Placas com material líquido e outros equipamentos de laboratório em cima de mesaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEstudo gerou as chamadas células tronco pluripotente induzidas (iPSCs, na sigla em inglês)

"Nossa técnica nos forneceu uma janela no tempo para ver como os neurônios dopaminérgicos podem ter funcionado desde o início da vida de um paciente", explicou Clive Svendsen, líder do estudo, pesquisador e professor do Cedars-Sinai, em um comunicado à imprensa.

No laboratório, a equipe detectou duas anormalidades importantes nestes neurônios: o acúmulo de uma proteína chamada alfa-sinucleína, presente na maioria das manifestações de Parkinson; e lisossomos defeituosos, estruturas celulares que funcionam como "latas de lixo" para decomposição e descarte de proteínas e material celular. Justamente esse mau funcionamento pode levar ao acúmulo da alfa-sinucleína.

"Parece que os neurônios dopaminérgicos podem continuar a manipular a alfa-sinucleína por um período de 20 ou 30 anos, causando então o surgimento dos sintomas de Parkinson".

Clive Svendsen, o líder do estudo, ao lado da pesquisadora Nur Yucer, conversam sobre imagem microscópica de neurônios produtores de dopaminaDireito de imagemDIVULGAÇÃO/CEDARS-SINAI
Image captionClive Svendsen, o líder do estudo, e a pesquisadora Nur Yucer conversam sobre imagem microscópica de neurônios produtores de dopamina

Os pesquisadores dizem esperar que, com estas descobertas, um dia possa ser possível detectar — e tratar — o Parkinson preventivamente, inclusive em jovens. No presente estudo, eles também testaram o efeito de alguns medicamentos nos neurônios, observando que alguns foram capazes de reduzir os níveis de alfa-sinucleína na célula.

Agora, os autores do artigo na Nature Medicine querem verificar com a mesma técnica se também há anormalidades detectadas nas células de pacientes com outros perfis, como aqueles com mais de 50 anos de idade.

Bbc Brasil



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