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Especial
28/01/2020 21:00:00

Crescem denúncias de desrespeito aos direitos dos idosos em Alagoas


Crescem denúncias de desrespeito aos direitos dos idosos em Alagoas

As denúncias de desrespeito aos direitos da população idosa aumentaram em Maceió. A constatação é do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa (CMDPI), que também fiscaliza a implementação das políticas nacional e local destinadas a este segmento da sociedade.

A maior parte dos informes levados ao conhecimento do colegiado diz respeito à prática de violência física e financeira.

A maioria dos casos acontece no ambiente doméstico. É justamente dentro de casa, onde se deveria ter o conforto e segurança, que as vítimas sofrem maus-tratos, incluindo as agressões, ou têm os bens furtados por pessoas mais próximas, até então de extrema confiança.

A presidente do conselho, Tereza Rosa Lins Vieira, também representante da Associação Nacional de Gerontologia do Estado de Alagoas (ANG/AL), acredita que é cultural, no Brasil, pensar que o idoso é invisível, descartável e com prazo de validade vencido. Na capital, também no Estado, o cenário é semelhante, levando em consideração que, aqui, faltam serviços adequados para garantia destes direitos.

“Com a visibilidade que o colegiado tem tido, percebemos que o número de denúncias a respeito da negligência com a população idosa cresceu bastante. Ainda estamos compilando os dados, mas, no ano passado, recebemos mais de 30 informes e boa parte era sobre violência contra este público”, informou.

Ela explica que, pela vulnerabilidade, muitos idosos são vítimas de golpes. Acabam emprestando os documentos pessoais para terceiros sob a promessa de que serão beneficiados, mas amargam prejuízo. Os maus intencionados conseguem até contrair empréstimos em nome destas pessoas ou fazem compras com o cartão de crédito.

“Quando recebemos estes informes, encaminhamos aos órgãos competentes porque o conselho não tem poder de polícia e não tem competência para visitar os lares. Os únicos espaços que fiscalizamos são as instituições de longa permanência [os abrigos] e, nestes locais, procuramos averiguar se a lei que beneficia os idosos está sendo respeitada”, destaca.

Outro fator, apontado por ela, para que as denúncias sejam mais frequentes, é o trabalho com outros órgãos visando o amparo à pessoa idosa em Alagoas. O CMDPI assinou termo de cooperação técnica com o Ministério Público Estadual (MPE) e a Vigilância Sanitária e, desde então, atua em conjunto, desenvolvendo ações de fiscalização, conscientização e orientação.

Um canal que tem ajudado bastante a conhecer a realidade deste público é o Disque 100 (Direitos Humanos). Por meio dele, as informações chegam e podem ser checadas quanto à veracidade. “Tentamos dar encaminhamento a todas as denúncias que chegam e acompanhar as providências que são tomadas. Especificamente, o conselho tem atuado mais forte em hospitais, clínicas e bancos para verificar se a lei que garante prioridade no atendimento está sendo cumprida. O idoso deve ser atendido prioritariamente e de imediato”, explica.

A Polícia Civil notifica e atua na investigação de casos envolvendo violência contra os idosos. Questionado sobre a estatística com os dados do ano passado, o responsável pelo setor que compila os números informou que as tabelas não foram concluídas.

QUASE 400 MIL ALAGOANOS TÊM MAIS DE 60 ANOS

Especialista em envelhecimento, membro do CMDPI e coordenador do Centro de Convivência Especializado na Pessoa Idosa, Crismédio Vieira cita a falta de qualidade, de respeito e educação como fatores que afetam diretamente a terceira idade. E lembra que, em até cinco anos, o Brasil será o sexto país com mais idosos do planeta. Em Alagoas, 10% da população já passou dos 60 anos (são quase 400 mil habitantes).

Segundo ele, estes dados mostram que as pessoas estão vivendo mais, porém se não tiver interesse do poder público, o envelhecimento ficará cada vez mais comprometido. “O número de abuso, maus tratos, falta de educação no transporte coletivo e dentro das famílias são corriqueiros. É como se as pessoas não deixassem a ficha cair que estamos ficando mais velhos e todos seremos prejudicados”.

Vieira diz que, além de sofrer com a violência, os idosos enfrentam sérios abalos psicológicos. São ameaçados, excluídos das rodas de discussão, escorraçados do mercado de trabalho e precisam lidar, diariamente, com o abandono. “São marcas irreparáveis na vida de um ser humano”, avalia.

Quanto aos perrengues financeiros, o público da terceira idade, geralmente, se vê obrigado a depender de terceiros para receber os salários e/ou fazer outras transações bancárias. “Em 79% dos casos, a decepção é grande. Os idosos criam laços afetivos muito grandes e, vez por outra, têm que lidar com o furto do dinheiro ou a perda do cartão de crédito, utilizado indevidamente pela pessoa até então de confiança”.

Outro fator decisivo para desrespeito aos direitos dos idosos é a ignorância. Crismédio Vieira destaca que são raras, ou inexistentes, as campanhas educativas que abarcam esta população. Segundo ele, a lei é clara ao responsabilizar o poder público para garantia destes direitos.

“Aqui no Brasil a política para pessoa idosa não está tão difundida e fortalecida quanto às que são ligadas a outros públicos, como as crianças, adolescentes e os LGBTs”, ressalta.

Denúncias sobre desrespeito aos idosos podem ser direcionadas ao CMDPI pelos telefones (82) 3315-4508/ 3312-5934 ou pelo e-mail cmi.maceio@gmail.com. O relato pode ser feito de forma anônima.

Gazeta Web

 



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