23/04/2024 13:09:21

Maceió
19/01/2020 18:00:00

Desocupação de bairros após afundamento afeta toda a cidade, alerta arquiteta


Desocupação de bairros após afundamento afeta toda a cidade, alerta arquiteta

desocupação de parte de quatro bairros de Maceió – ao todo 17 mil pessoas – tem levantado diversos questionamentos. Um deles é a disponibilidade de imóveis na cidade para abrigar cada família que será retirada. Outro ponto importante é o impacto dessa realocação para a cidade. A Tribuna Independente ouviu especialistas e envolvidos no assunto para entender de que forma esse movimento afeta as configurações da capital alagoana.

De acordo com a arquiteta e urbanista Isadora Padilha, o impacto da realocação vai além da busca por imóveis vagos. A questão tem influência direta no planejamento da cidade e precisa entrar como um ponto prioritário.

“A desocupação vai afetar toda a cidade. Não é possível pensar a situação destes bairros como algo isolado. Principalmente agora que são quatro bairros. Na região lagunar, uma das regiões mais importantes da cidade e do estado. Tem o fato histórico, da formação histórica e cultural. Essa é uma região extremamente frágil, área de manguezal, área de estuários, que são áreas muito sensíveis. Tradicionalmente é uma área de baixa renda, é uma região que vem sendo precarizada dentro da cidade e passa por mais isso. Esse é um momento chave para Maceió, pode ser aproveitado: de uma tragédia, eu retiro elementos para ser feito algo pela cidade. E porque não pegar esse momento para pensar o que será feito? É claro que de imediato é preciso garantir a segurança, a vida e o bem estar dessas pessoas, para que conduzam suas vidas de maneira digna, mas é preciso que outras pessoas se proponham apensar o que não vem sendo pensado: o planejamento”, afirma a arquiteta.

Tremor mais significativo e sentido por moradores do Pinheiro e região
ocorreu em 3 de março de 2018 (Foto: Adailson Calheiros / Arquivo)

Do ponto de vista do mercado imobiliário, o cenário possui algumas complicações. Segundo o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Alagoas (Ademi-AL), Jubson Uchôa, a expectativa é de que haja um esgotamento na disponibilidade de imóveis. “Sabemos que o atual estoque de imóveis da capital não é o suficiente para atender a esta demanda – o que, certamente, abrirá espaço para novas construções”, pontua.

Os órgãos de controle, Defensorias Públicas do Estado (DPE) e União (DPU), e Ministérios Públicos do Estado (MPE) e Federal (MPF) foram questionados em coletiva realizada durante a semana sobre a disponibilidade de imóveis para abrigar todos os 17 mil moradores que sairão das regiões afetadas. Na avaliação dos órgãos, a retirada não será imediata e uma parcela desses moradores já saiu, a exemplo do Pinheiro.

Bairro do Pinheiro (Foto: Marco Antonio / Secom Maceió)

“É preciso considerar que as pessoas não sairão todas de uma vez. Mais de 2 mil pessoas já saíram do bairro do Pinheiro desde o ano passado. Além disso, o acordo prevê que a Braskem faça a contratação de imobiliárias que façam a pesquisa e localização de imóveis para amenizar o dano a essas famílias”, descreveram os órgãos de controle.

Não há consenso sobre necessidade de realocação com planejamento

Sobre o assunto, a Tribuna Independente também esteve em contato com a Braskem, Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-AL) e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-AL) e Prefeitura de Maceió.

Segundo a Braskem a prioridade é retirar as famílias das áreas de risco. “A Braskem reitera que a prioridade, neste momento, é a remoção das pessoas das áreas de resguardo e de risco. A empresa firmou convênio com imobiliárias para auxiliar os moradores no processo de identificação de novos imóveis”, comenta em nota.

Em resposta à Tribuna, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo pontua que ainda não possui dados referentes ao caso. Segundo a entidade, só é possível um posicionamento após a coleta de informações.

Já o Crea afirma que não tem competência para avaliar o assunto, o que caberia à Prefeitura de Maceió.

A Prefeitura de Maceió respondeu que tem realizado ações desde o início da problemática, mas que a realocação, planejamento e a possível indisponibilidade de imóveis é de responsabilidade da Braskem.

No bairro Mutange, realocação tem gerado especulação sobre valores dos imóveis entre os proprietários (Foto: Adailson Calheiros)

“A Prefeitura de Maceió, por meio de suas diversas secretarias, superintendências e demais órgãos, sob coordenação da Defesa Civil Municipal, trabalhou em diversas ações com o objetivo de retirar os moradores que estão em situação de risco nos bairros afetados pela instabilidade do solo. Participou de encontros e reuniões com os demais órgãos envolvidos, como Ministério Público Estadual de Alagoas, Ministério Público Federal e Defensoria Pública, além do Governo Federal, através do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Defesa Civil Nacional e Ministério do Desenvolvimento Regional, entre outros, procurando contribuir no processo que visa assegurar a preservação da segurança e da vida da população. Agora, diante do acordo firmado entre a Braskem e todos os diretamente envolvidos, cabe à mineradora a retirada e realocação das pessoas, ação que a Prefeitura de Maceió  acompanhará”, diz o executivo municipal.

Isadora Padilha defende que a discussão de maneira integrada, não apenas considerando a responsabilização de um em detrimento do outro.

“Onde estão as cabeças pensantes dos órgãos públicos e entidades? Pensando e propondo soluções do que fazer com esse tecido urbano, de como lidar com isso depois que aconteceu. Eu entendo que existe uma necessidade de informações mais concretas. O que se sabe é que a Lagoa está subindo e invadindo vários trechos de imóveis. Já se falou em dolina, sinkhole, possibilidade de afundamento súbito. Isso vai acontecer? Não vai? É possível prever? Há soluções de fato? Sabemos que a Braskem irá apresentar relatório no final e março. Mas até lá qual o grau de risco? Mas isso não é impeditivo para que se pense, que se discuta o que fazer. É isso que vem faltando. Falta começar a discutir o planejamento de Maceió de maneira integrada, pensar o tecido urbano, qual o impacto e quais as possíveis soluções para esse problema dentro da cidade de Maceió”, enfatiza.

Tribuna Hoje



Enquete
Na Eleição de outubro, você votaria nos candidatos da situação ou da oposição?
Total de votos: 39
Notícias Agora
Google News