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Alagoas
22/12/2019 23:00:00

Número de vegetarianos aumenta e opções ficam cada vez mais atraentes

Maceió já tem restaurantes e mercados especializados, piqueniques veganos e até nutricionistas voltadas para esse público


Número de vegetarianos aumenta e opções ficam cada vez mais atraentes

Segundo uma pesquisa Ibope realizada em 2018, 14% da população brasileira se declara vegetariana. São 29 milhões de pessoas que não comem carne. Esse número representa um crescimento significativo comparando com uma pesquisa similar em 2012, que apontava apenas 8%.

Ainda é comum encontrar resistência, achar que esse estilo de vida impõe uma alimentação sem sabor e limitada. Mas os adeptos garantem que é um universo bastante atraente. Segundo Isaac Neves, da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) – núcleo Maceió, as opções vegetarianas e veganas aqui na cidade estão muito longe do esperado, mas houve avanço. “Estão aumentando a cada dia. Hoje Maceió tem muito mais opções veganas do que há quatro ou cinco anos”.

Em alguns casos, as pessoas sentiram falta de variedade, começaram a fazer elas próprias e acabaram abrindo o próprio negócio. Em outros, o mercado percebe que há demanda de público e inclui opções no cardápio.

O representante da SVB Maceió constata. “Locais exclusivamente veganos são raros. Mas estabelecimentos com alguma opção ou opções já são muitos. Já é possível variar bastante”.

Leila Amanda e Jaqueline Galvão se juntaram e abriram o Espaço Annanda, primeiro restaurante totalmente vegano em Maceió. “Não estudamos o mercado. Eu queria um espaço saudável, encontrei Jaque e descobri que ela tinha se tornado vegana, criamos o lugar porque não tinha lugar pra se alimentar aqui”, explica Leila.

Chef e nutricionista de restaurante vegano, Jaqueline Gusmão apresenta um dos pratos do espaço (Foto: Edilson Omena)

Com um cardápio totalmente livre de origem animal, a refeição no local pode ser sim uma verdadeira experiência gastronômica, com sabor e variedade. Os pratos são elaborados pela chef Jaqueline Galvão, que também é nutricionista, por isso têm uma composição calculada para garantir o equilíbrio nutricional nas refeições, segundo as proprietárias.

A capital alagoana já tinha restaurante vegetariano, mas totalmente sem carne é o primeiro. O mercado abraçou e nesse período a tendência tem sido ampliação de opções. Hoje, em média 100 pessoas comem no local entre almoço, lanches e jantar. “Não só o público vegano, muitas pessoas que comem produtos de origem animal acabam consumindo também”.

Uma curiosidade é que o termo vegana ainda carrega um pouco de preconceito. O restaurante, que no início trazia o termo vegano na propaganda, precisou substituir por “sem origem animal”. “Muitas pessoas nem experimentavam por achar que não tinha gosto, começaram a experimentar e gostaram. Tem muita resistência com o nome”.

Adaptações ainda são necessárias na vida de quem não come carne

Apesar dos avanços, esse público ainda encontra algumas dificuldades. Em muitos momentos é preciso adaptação para conviver socialmente em uma cultura predominantemente onívora (que se alimenta de vegetais e animais).

Isaac Neves, da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) em Maceió, explica que as pessoas que escolhem ter uma alimentação sem carne, ou até mesmo totalmente livre de origem animal (veganas), enfrentam obstáculos sociais e culturais. “Às vezes incompreensão das pessoas quanto aos motivos. Mas são questões circunstanciais que a cada dia estão sendo superadas. Está cada vez mais fácil ser vegetariano. A motivação costuma ser maior que os obstáculos”.

Sobre o convívio social, ele acredita que há pessoas mais abertas e outras mais resistentes, mas é preciso haver compreensão de todos os lados. “Muita gente acha algo muito distante da sua realidade, mas admira nossa postura. Há sim os que fazem piadas e ficam na defensiva porque sentem que estamos criticando o modo de vida deles apenas por termos essa atitude diferente, mas não se trata disso”.

Jessica Gusmão vive essa realidade há mais de 3 anos. Se sentindo acolhida pelos amigos e familiares, ela não tem grandes problemas no dia a dia. “No início era mais complicado a alimentação fora de casa, mas eu sempre tinha/tenho algum lanche na bolsa caso eu esteja em locais que não há opções veganas”.

Mas ela acredita que essa é uma realidade que não se aplica a todas as pessoas. “A maioria dos lugares que possuem opções é na parte baixa da cidade. Nem todo mundo tem acesso a isso. O que falta aqui é alimentação vegana inclusiva e mais acessível em termos de valores. Tem lugares com opções veganas que cobram bem mais caro que um prato semelhante com partes de animais, por exemplo”.

Izabel é bióloga e a preocupação com a natureza a sensibilizou. Há seis meses mergulhou em documentários e leituras sobre o assunto e decidiu parar de vez de consumir produtos de origem animal. “Estava sempre me sentindo culpada em relação a essas pequenas coisas, que na verdade causam um impacto gigante”.

Nesse período, ela vê boas opções. “Os lugares mais novos, principalmente como os donos da minha geração, entre 25 e 40 anos, estão mais antenados. Já tem gente fazendo congelados, marmitas, hambúrgueres…. acho que a tendência é melhorar mesmo”.

Chef e nutricionista de restaurante vegano, Jaqueline Gusmão apresenta um dos pratos do espaço (Foto: Edilson Omena)

Seus hábitos mudaram. Cozinha mais, passa mais tempo na parte de legumes, verduras e frutas do mercado e se dedica à leitura de rótulos. “E se marcam alguma coisa pra comer em algum restaurante eu já dou uma olhada no cardápio antes, pra saber se tem alguma opção vegana ou quase vegana (que dá pra adaptar) ou se só a famosa batata frita. E agora, nunca, nunca mesmo, saio de casa sem alguma comidinha na bolsa. Amendoim, fruta, castanhas, uva passa, barrinha de cereal…. alguma besteirinha”, relata.

Independente do tempo que está nesse estilo de vida a maioria das pessoas concorda que essa escolha acaba desenvolvendo o hábito de cozinhar por conta das opções que ainda são limitadas. “Já gosto de cozinhar e preparar minhas comidas sabendo exatamente o que tem dentro. Isso transformou muito minha relação com a comida. Já até penso em fazer curso de culinária!”, conta Izabel.

Hebert Zagalo não come nada de origem animal há apenas 6 meses e afirma que o paladar muda. “O sabor da comida fica muito mais apurado”.

Para driblar as dificuldades a SVB sugere ampliar o convívio com o tema. “A melhor coisa a se fazer é procurar buscar informações na internet, onde há diversos portais especializados, e conviver com os vegetarianos e veganos mais experientes. No site da SVB há e-books úteis. Na SVB Maceió organizamos mensalmente um piquenique vegano, aberto a qualquer pessoa. Há grupos de WhatsApp de vegetarianos de Alagoas”, reforça Isaac.

Especialista dá dicas para manter equilíbrio nutricional

A nutricionista Tacy Santana concorda que o número da oferta de opções vegetarianas ainda é uma dificuldade. “Às vezes, chegamos num restaurante e existe uma única opção que se resume a alface, tomate e cebola! Mas existem receitas vegetarianas muito mais diversas e saborosas! Hoje quem trabalha com alimentação precisa se ajustar a essa demanda do mercado, pois o número de vegetarianos e pessoas sensibilizadas com o assunto está aumentando e, consequentemente, a procura por esses produtos.”

Apesar disso, ela acredita que adotar essa alimentação é mais fácil do que parece. “Não precisa ser uma tarefa difícil e é possível realizar refeições equilibradas fora de casa. Acredito que uma grande dificuldade percebida pelos vegetarianos é a confiabilidade nas informações sobre a composição das preparações. Por exemplo, quando se pede um caldinho de feijão é preciso saber se foi cozinhado com carne, linguiça ou outro produto animal.”

“Por exemplo, na hora do almoço em um self-service, você pode montar seu prato com uma porção de arroz, duas de feijão, legumes e frutas. Basta substituir a carne vermelha por sete colheres de sopa de leguminosas como o feijão.  Se você tiver algumas castanhas guardadas com você, melhor ainda! Ai você já tem um prato equilibrado e fácil de montar em qualquer estabelecimento”, orienta a nutricionista.

Do ponto de vista nutricional, Tacy Santana afirma que a transição requer cuidado e orientação para garantir o equilíbrio, mas que pequenos ajustes podem ser feitos de forma fácil. “Porém, não deixe de procurar uma nutricionista, pois é preciso adequar essas quantidades à suas necessidades”.

Mesmo em outros tipos de restaurantes, ela acredita ser possível ampliar o leque de opções. “Vários locais aceitam realizar modificações, como uma substituição de produtos, para adaptar pratos do cardápio.”

Esclarecendo que há diferentes tipos de vegetarianos, a nutricionista conta que as dificuldades variam. Para quem consome ovos e laticínios (ovolactovegetariano) há menos restrição. “Existem várias opções de refeições, para todos os momentos, desde o nosso tradicional cuscuz com ovos e lanches como salgados com recheio de queijo”.

Para vegetarianos estritos e veganos (que não comem nada de origem animal), as opções são mais limitadas, mas existem vários locais especializados na cidade. “Nesse caso é preciso saber se a preparação leva manteiga, por exemplo. Mas na maioria das vezes isso se resolve rapidamente com uma conversa”.

A nutricionista menciona alternativas como frutas e tapioca com coco, além das opções para alérgicos a ovos e lactose que também podem ser veganas. Em todo caso, ela sugere que estejam sempre preparados. “Organização pode facilitar bastante a vida. Ter sempre um lanche, já procurar locais que ofereçam opções vegetarianas ou até contatar o local para confirmar a disponibilidade desse tipo de refeição caso você esteja se programando para ir com antecedência”.

Ela tranquiliza as pessoas que em algum momento específico sintam dificuldade na rua. “Se por algum motivo não foi possível fazer uma refeição equilibrada fora de casa, não tem problema. Na próxima refeição, em casa, tenta compensar. Não é uma refeição que vai determinar sua saúde, o importante é o equilíbrio ao longo do dia e da semana”.

Tribuna Hoje



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