As manchas de óleo que surgiram desde o início de setembro, identificadas como petróleo cru, ainda de origem desconhecida, já atingiram mais 200 localidades do litoral nos nove estados do Nordeste, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). E agora chegou ao Rio Manguaba, em Porto de Pedras, causando a perda de 70% da produção de ostras.
Segundo membros da Associação Mariostra, a perda prejudica diretamente mais de 20 famílias que trabalham com o cultivo das espécies.
Imagens que circulam nas redes sociais desde a noite da última terça-feira (22) mostram as ostras contaminadas no estuário.
O detalhe é que o local é próximo ao maior santuário de peixes-boi do país.
“A princípio sabemos que 70% da produção foi atingida prejudicando em média 22 famílias. Amanhã [quinta-feira, 24], aproveitando a maré baixa, ostreicultoras estarão no cultivo juntamente com técnicos do IABS [Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade], coordenação da pesca estadual e federal para fazer um levantamento técnico, prejuízos causados e definir ações. Após esta visita que será feita a partir das 7h da manhã, é que poderemos ter maiores informações sobre os impactos causados e prejuízos econômicos”, comenta Jovina Ferreira Lopes, tesoureira da associação.
Jovina acrescenta que os membros da associação trabalham com as ostras nativas e com as sementes de ostras desenvolvidas no Laboratório da Universidade de Santa Catarina.
Outro membro da Associação Mariostra, Pedro Oliveira, disse que a substância avançou mais de 300 metros para dentro do rio e atingiu o estuário das ostras.
“Com certeza o mangue também está sendo contaminado, assim como os animais que vivem por lá. As ostras, por exemplo, vieram de Santa Catarina e tiveram que passar por uma adaptação em laboratório para conseguir a reprodução nas nossas águas, que são mais quentes que as do Sul. Todo nosso trabalho foi perdido. Agora, resta saber se vamos ter apoio do poder público”, lamenta.
A reportagem da Tribuna Independente entrou em contato com a assessoria de comunicação de Porto de Pedras que explicou algumas situações.
“A questão está distorcida – devido à administração municipal e o impasse com a colônia. Na verdade, a colônia tem vínculo direto com o Governo Federal e não municipal, temos o conhecimento que ela existe, mas até então achávamos que ela estava desativada, foi surpresa para o poder municipal. Até então, pra gente da Prefeitura não tem nenhuma atividade de ostras em Porto de Pedras.” Já sobre as manchas de óleo no rio Manguaba, a assessoria disse que aparentemente está tudo tranquilo.
A assessoria explica ainda, que as manchas vieram na maré alta, mas quando a maré seca, ela volta com o óleo na mesma proporção que trouxe, e que teria ficado apenas um resquício ou outro nos galhos, mas fora isso nada de impacto maior. ‘‘Rapidamente o pessoal da secretaria de obra e limpeza contorna isso. O rio continua apto para banho e navegação e demais atividades’’.
IMPASSE
Jovina Ferreira afirma que produção existe e que tanto o governo federal quanto o municipal têm conhecimento. ‘’Não sabemos quem disse que não existe. Até porque, a Secretária da Agricultura e Pesca, através do senhor Farias, tem conhecimento deste cultivo e do trabalho de reorganização’’.
PEIXE-BOI
Para os membros da associação Mariostra, os peixes-boi que passam por reabilitação no estuário no Rio Tatuamunha que também fica em Porto de Pedras, podem ser prejudicados já que foram vistos no Manguaba depois que o piche chegou no local.
A prefeitura de Porto de Pedras ressalta que no santuário do peixe-boi foram colocadas as barreiras de proteção e o local está sendo monitorado, e até o momento sem alteração.
PONTAL DO PEBA
Em Alagoas, já são cerca de 30 pontos de praias registrados com o piche segundo o último relatório do Ibama divulgado no dia 19. E de acordo com o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), até ontem, já foram recolhidos 662 toneladas do produto.
Imagens que circulam também em grupos de aplicativo de mensagens e nas redes sociais mostram o impacto ambiental que vem sendo causado.
No Pontal do Peba em Piaçabuçu, próximo da foz do Rio do São Francisco, no mesmo local do óleo, também foi feito o registro de milhares de Massunim – Marisco/Bivalve, morto nesta quarta-feira (23).
Fonte: Tribuna Independente / Lucas França