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Alagoas
23/09/2019 12:00:00

Estudo sugere que álcool pode ser mais danoso às mulheres


Estudo sugere que álcool pode ser mais danoso às mulheres

A ingestão exagerada de álcool é uma das principais causas de doenças no fígado, como a cirrose e a hepatite alcoólica. E as consequências podem ser ainda piores para as mulheres, segundo um experimento norte-americano. Em estudo com ratos, cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Missouri identificaram que as fêmeas são mais sensíveis ao efeito da substância e, consequentemente, a lesões hepáticas. Segundo os autores, o resultado pode ajudar no desenvolvimento de abordagens preventivas e medicamentosas para humanos.

“Alguns consumidores crônicos de álcool podem beber por vários anos e ainda ter vidas relativamente saudáveis, mas muitos são suscetíveis a danos no fígado quando bebem demais. O fígado é a força metabólica do corpo. Por isso, lesões nele podem causar danos a outros órgãos”, ressalta Shivendra Shukla, professor de farmacologia médica e fisiologia da Universidade de Missouri e principal autor do estudo, divulgado recentemente na revista Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics.

Nos experimentos, os cientistas analisaram os efeitos do álcool no metabolismo de quatro ratos fêmeas e quatro ratos machos. Os animais tinham a mesma idade e o mesmo peso. Em intervalos de 12 horas, as cobaias recebiam a mesma quantidade de álcool três vezes seguidas. Quatro horas depois da última etapa, a equipe coletou e analisou o tecido do sangue e do fígado dos roedores.

 

Segundo a equipe, os resultados foram surpreendentes. A concentração de álcool no sangue das fêmeas era duas vezes maior do que a dos machos. “Nossa pesquisa mostrou que, em apenas três episódios de consumo excessivo de álcool, as fêmeas de rato sofreram mais lesões no fígado do que os machos”, frisa Shivendra Shukla. “O peso corporal, a gordura e a idade podem influenciar a quantidade de álcool que afeta o metabolismo, mas esse não é o caso. É possível sugerir que as diferenças apareceram devido a diferenças de sexo dos animais.”

 

A equipe acredita que a alcoolização mais rápida nas fêmeas tem um motivo fisiológico. A enzima álcool desidrogenase, responsável pela metabolização da substância no corpo, é encontrada em pouca quantidade no organismo delas, o que as deixa mais suscetíveis a danos causados pela ingestão da substância. Nos machos, acontece o contrário. A enzima é encontrada em níveis elevados e, por causa disso, a droga é metabolizada mais rapidamente, acelerando a sua eliminação pelo fígado.

 

As análises também mostraram a existência de lesão hepática, caracterizada por esteatose hepática, em todos os ratos, mas o dano foi maior nas fêmeas. Elas tiveram quase quatro vezes mais acúmulo de gordura no fígado, condição que pode funcionar como um gatilho para outras inflamações. “Essa elevação de esteatose nas fêmeas pode ser associado ao aumento das enzimas transaminases séricas, que é bem significativo em lesões hepáticas agudas”, aponta Shukla.

Câncer

Outra associação entre a ingestão de álcool e desencadeamento de doenças chamou a atenção da equipe. Após o consumo excessivo da substância, a proteína diacilglicerol quinase alfa (DGKa), que atua no crescimento do câncer, demonstrou estar elevada no cérebro dos ratos. Também houve diferença quanto ao sexo: a DGKa aumentou em 20% nos machos e em 95% nas fêmeas. “Qualquer papel induzido pelo álcool que essa proteína desempenhe no câncer  é desconhecido e deve continuar a ser investigado no futuro”, frisa Shukla.

Gastroenterologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Vinícius Machado afirma que essa descoberta pode evidenciar um papel cancerígeno do álcool no organismo. O especialista acredita que o estudo traz um alerta, especialmente para mulheres que têm hábito de ingerir álcool. “Dados como esses podem orientar campanhas de esclarecimento e de prevenção de danos, alertando em especial as mulheres sobre sua maior vulnerabilidade. Além disso, podem contribuir para o desenvolvimento de drogas que possam atuar de forma protetora nas vias metabólicas delas. Mas enquanto não dispomos desses recursos, a melhor prevenção das doenças ligadas ao alcoolismo é evitar os excessos”, evidencia.

Helena Moura, psiquiatra especialista em dependência química e membro da Associação Brasileira de Estudos em Álcool e Drogas (ABEAD), explica que o consumo excessivo de álcool para as mulheres se caracteriza por ingerir quatro doses ou mais em um curto período de tempo. Para os homens, considera-se a ingestão de ao menos cinco  doses. “A pesquisa demonstra que não há necessidade de ser alcoólatra para ter problemas relacionados ao álcool. Se a pessoa bebe uma ou duas vezes ao mês e o padrão for de consumo do álcool em excesso, ela também está prejudicando a saúde e se expondo a situações de risco”, ressalta.

Segundo a especialista, o estudo reforça constatações de outras pesquisas sobre o consumo excessivo de álcool por mulheres. “Como o álcool é consumido por uma ampla parcela da população, é importante compreender os prejuízos que pode trazer. O interesse no padrão de ingestão excessiva tem crescido bastante, em especial por ser um hábito comum entre os mais jovens”,  pontua Helena Moura.

Os cientistas acreditam que estudos adicionais em humanos serão necessários para entender melhor como o consumo excessivo dessa droga afeta homens e mulheres, e as causas metabólicas para essas diferenças. “Infelizmente, o álcool tem sido glamourizado. É perigoso. Não beba muito. A pesquisa é muito clara”, alerta Shukla.

Correio Braziliense



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