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Saúde
19/09/2019 19:00:00

O que é a terapia menstrual e como ela busca conectar mulheres a seus ciclos

Metodologia de seis encontros foi criada por terapeuta argentina e tem ganhado adeptas no Brasil.


O que é a terapia menstrual e como ela busca conectar mulheres a seus ciclos

Conhecer cada fase do ciclo menstrual – e todas as mudanças no corpo que podem ocorrer nesse processo. Olhar para as fases da vida e identificar os medos, incertezas e questões que apareceram em cada uma. Esses são os primeiros passos da jornada de autoconhecimento proposto por terapeutas menstruais às mulheres que buscam se curar de alguma questão.

E quem acha que a conversa é muito “alternativa” e que não se baseia em pesquisas e fatos está enganado. Os motivos que levam mulheres a buscar essa terapia são bastante conhecidos – e estudados. Podem ser desde cólicas e cistos no ovário, endometriose, dificuldade de engravidar e até mesmo traumas adquiridos ao longo da vida. Tudo isso é fonte de trabalho para a chamada terapia menstrual.

De acordo com Janaina Morais, terapeuta e pedagoga menstrual e criadora do projeto Meu Corpo, Meu Sangue, “a prática é uma terapia holística que vai tratar de questões que envolvem o ciclo feminino, enfermidades relacionadas ao útero, ovários, trompas, canal vaginal, colo uterino e tudo que envolva esse universo relacionado ao ciclo menstrual”.

Ela mesma começou seus estudos e formações após iniciar uma busca por alternativas para tratar de seus ovários policísticos. “Senti carência de pessoas que pudessem me ajudar que não fosse através da medicina tradicional alopática. Havia dez anos que eu tomava pílula por conta disso e pensava por quanto tempo mais teria que tomar? E não encontrava alternativa. E a gente já sabe que ela não é tratamento para nenhum tipo de enfermidade.”

Assim descobriu a terapia menstrual. A prática, que tem se popularizado no Brasil, foi criada pela argentina Zulma Moreyra que desenvolveu uma metodologia de seis encontros. O primeiro é mais explicativo sobre o trabalho e já serve para a paciente apontar suas necessidades e questões.

“Os outros quatro seguintes a gente trabalha cada fase do ciclo menstrual e cada fase da vida: infância, adolescência, vida adulta e velhice, que são também equivalentes as fases do ciclo menstrual, e tem um encontro final de fechamento”, explica Janaína.

Cada consulta envolve uma parte reflexiva atrelada a uso de ervas, práticas de massagens e rituais, a serem definidos com cada mulher. “Entendemos que as enfermidades surgem a partir de um desequilíbrio que não é meramente fisiológico, é também emocional, espiritual e energético e temos que olhar o histórico da pessoa como um todo, algo bem completo, vemos cada fase da vida. Como foi a menarca (a primeira menstruação), porque às vezes ali tem marcas de um processo doloroso, como é a vida sexual dela, como ela lida com sua fertilidade, os desejos, como é a relação com os pais, os avós.”

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Com as atividades práticas das consultas, a ideia é trabalhar desbloqueio de emoções, autocuidado, relaxamento e limpeza do organismo.

Caroline Amanda Borges, Terapeuta Menstrual, fundadora da Yoni das Pretas, Membro das Psicopretas/Terapretas, tem atuado nas áreas de desigualdades raciais e de gênero com ênfase na saúde das mulheres negras, fala sobre o objetivo da prática.

“A gente não trata de doença. Entendemos que toda a sintomatologia é reflexo de uma prática e uma experiência. O principal benefício é a possibilidade de oferecer ferramentas e mecanismos para que as mulheres possam estabelecer uma relação de consciência da sua ciclicidade e ser o seu próprio centro”.

Assim, com as atividades práticas das consultas, a ideia é trabalhar desbloqueio de emoções, autocuidado, relaxamento e limpeza do organismo e do útero, por exemplo, aliada a dietas específicas e rituais de purificação. Algumas das atividades podem ser realizadas também em grupo de mulheres.  

Janaína pontua que, apesar de haver uma metodologia comum, cada terapeuta pode criar especificidades no seu atendimento.

“No meu caso, eu trabalho um pouco diferente porque atuo dentro da área de ginecologia autônoma e natural e [o atendimento] vai muito de acordo com a disponibilidade da pessoa. Se ela tem disponibilidade de fazer um trabalho contínuo, a gente faz. Mas às vezes, a mulher tem questões muito pontuais e específicas. Às vezes ela quer só informações sobre o ciclo, só informações sobre como tratar uma candidíase, sobre ovário policístico”.

A terapia menstrual não possui contra indicações e toda mulher pode realizar o atendimento, inclusive jovens que acabaram de iniciar o contato com os seus ciclos menstruais. “Todas estão aptas a fazer. Seria fundamental se uma menina que acaba de entrar em menarca possa viver a experiência da terapia menstrual e experimentar uma introdução às alterações do próprio corpo com as ferramentas da terapia menstrual”, aponta. 

“E também pode servir para mulheres que estejam em um momento criador e numa fase gestacional ou que queriam gestar e para mulheres que estejam no contexto de plenipausa, comumente conhecida como menopausa, no sentido de conferir a essa mulher o valor que para nós ela realmente tem, [já] que está na fase da vida em que ela já reuniu experiências com todas as fases anteriores”, explica Carol.

Mas quais são as novas alternativas?

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Apesar de haver uma busca maior pelo tipo de terapia, ainda há falta de conhecimento sobre o que é e algumas ideias equivocadas.

As terapeutas indicam que o aumento por esse tipo de atendimento cresceu muito nos últimos anos. Para Caroline, essa mudança ocorre por que as mulheres passaram a se posicionar de outra maneira na sociedade.

“O crescimento é exponencial porque tem sido insustentável administrar as demandas sociais, então se dá também por conta dessas imposições e como as mulheres tem se colocado até nisso, do ponto de vista de saúde e saúde mental e emocional para dar conta dessas demandas e elas têm se apoiado cada vez mais nas dimensões da sua ciclicidade para conferir um modus operandi sustentável de administração da vida e das demandas”.

Janaína também destaca a busca por tratamentos diferentes e considerados alternativos, como foi o caso dela.

“Se eu manifesto ovário policístico é porque meu organismo está em desequilíbrio e não é só receitando pílula que vai resolver. Então as mulheres têm buscado outras alternativas. Não é ser contra a ginecologia alopática não, muito pelo contrário, ela oferece várias coisas importantes, mas é uma questão de valorizar todos os tipos de saberes, é a busca de uma união, porque a alopatia é ótima para quando é emergencial. Mas para o que é crônico, aí tem que se investigar e se tratar de outra maneira”, defende.

Apesar de haver uma busca maior pelo tipo de terapia, ainda há falta de conhecimento sobre o que é e algumas ideias equivocadas. Janaína lembra que em suas primeiras oficinas sobre o tema, muitas mulheres chegavam sem saber bem do que se tratava e pensavam ser algo mais técnico.

“É o que estão acostumadas, [achavam] que eu ia olhar o corpo da pessoa e passar informações técnicas, mas não é. É um estudo diferente. É algo que algumas pessoas ainda não entendem muito bem, mas estamos tentando trazer outra ciência, não diminuindo as outras, como eu já disse”.

Para Carol, um desafio importante para ser observado é o acesso desse tipo de terapia. “Tenho muita preocupação e tenho me esforçado para desenvolver cada vez mais mecanismos para que as mulheres de baixa renda possam acessar essas ferramentas”, diz. 

Afinal, o objetivo também é aumentar essa roda cada vez mais e lembrar da importância de (re)conhecer todas as fases da vida - e dos ciclos - da mulher.

https://www.huffpostbrasil.com



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