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Especial
15/09/2019 11:30:00

Braskem divulga pesquisa que contesta relatório sobre afundamento do Pinheiro


Braskem divulga pesquisa que contesta relatório sobre afundamento do Pinheiro

Pesquisadores da Universidade de Houston, um dos maiores centros de geologia do mundo, revelaram inconsistências na interpretação de algumas metodologias usadas pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) sobre os fenômenos geológicos nos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro, em Maceió. Por solicitação da Braskem, empresa acusada em relatório de causar problemas geológicos no Pinheiro, os pesquisadores avaliaram o relatório da CPRM e encontraram, além da imprecisão na metodologia, falhas na análise dos mapas que identificaram a instabilidade no solo e a não consideração de efeitos naturais presentes na região, entre outros pontos.

A equipe de geofísicos da Universidade de Houston, formada pelos pesquisadores Aibing Li, Rob Stewart e Yingcai Zheng, realizou estudos para analisar a subsidência (afundamento) e eventos sísmicos nos três bairros. Em maio deste ano, a CPRM divulgou relatório preliminar que apontou a atividade de extração do sal-gema como a principal causa dos fenômenos verificados na região.

O relatório dos pesquisadores da Universidade de Houston aponta que a CPRM usou de metodologias que podem ter levado a erro de interpretação. Destaca, por exemplo, que a autarquia tirou conclusões sobre a condição das cavernas usando dados que não poderiam ser utilizados para isso. Além disso, alertam os pesquisadores da universidade americana, na descrição do trabalho de interferometria realizado para estudar a subsidência na margem leste da Lagoa Mundaú, que a CPRM inseriu o ?Mapa de integração dos processos de instabilidade do solo?. Esse mapa mostra uma subsidência que coincide com a área das minas de sal, mas há também uma substancial deformação mais ao sul, distante da área de extração de sal. "Esse afundamento, fora da região das minas, sugere um mecanismo de deformação não relacionado à extração de sal", aponta o estudo americano.

Outra importante conclusão dos pesquisadores foi no estudo das "assinaturas" das ondas sísmicas, que demonstrou que os tremores nos bairros foram de origem natural. Os pesquisadores de Houston identificaram "grande amplitude de onda Lg e pequena amplitude de ondas P vindas do abalo sísmico de 3 de março de 2018", o que comprova ter sido um tremor de origem natural.

A CPRM manifestou, no relatório divulgado em maio passado, que "se percebe claramente que a fonte sísmica está próxima à superfície e não se trata de um evento tectônico (isto é, natural) causado por uma falha no embasamento".

Os pesquisadores americanos usaram um supercomputador também para fazer uma modelagem em três dimensões, simulando um eventual desabamento de todas as cavernas de sal da região. O resultado foi "67 vezes menor do que a subsidência medida pela interferometria, o que é uma enorme disparidade", diz a conclusão do estudo. "Isso indica que algum outro mecanismo ou mecanismos, não relacionados às cavidades de salmoura, deve ser a causa dominante causando a subsidência".

Os estudos contratados pela Braskem corroboraram uma das percepções da CPRM: a de que deve haver várias causas para o problema. Entre essas causas, diz a universidade americana, estão a retenção de água da chuva no solo, o que contribui para a instabilidade do terreno do Pinheiro, saturado de líquido, durante os tremores naturais. De acordo com o estudo, a lubrificação do solo causada pela má conservação da rede de drenagem, esgoto e abastecimento do Pinheiro, associada às falhas geológicas naturais do subsolo, agravam as avarias causadas nas ruas e construções pelo adensamento do terreno.

A Braskem, que discorda de pontos das análises do laudo apresentado pela CPRM, diz, por meio de sua assessoria de Comunicação, que "não há, até o momento, comprovação técnica sobre as causas dos eventos geológicos dos bairros, o que é fundamental para a definição das soluções robustas". Por isso, a petroquímica disse ter buscado a opinião de pesquisadores e especialistas para melhor compreensão do fenômeno.

A Universidade de Houston é um importante centro de pesquisa de Geofísica e Sismologia, instalada na cidade que é considerada o polo técnico mundial da indústria do petróleo. No Estado do Texas, onde está localizada, a exploração de sal é expressiva, adicionalmente às atividades de exploração de gás e petróleo.

 

Problema geológicos atingem ruas e casas do Pinheiro

FOTO: ASCOM DEFESA CIVIL

Pesquisadores

Os professores que participaram da pesquisa já passaram por outras instituições internacionalmente reconhecidas, como o MIT (Massachusetts Institute of Technology) e a Universidade da Califórnia. Rob Stewart, coordenador da equipe de pesquisadores, é Diretor do Allied Geophysical Labs, com Ph.D em Geofísica pelo MIT e integra o Texas Board Professional Geoscientists. Ele é canadense, país que tem reconhecida experiência na geologia. Também participaram da pesquisa os professores Aibing Li (PHD em Geofísica pela Brown University) e Yingcai Zheng (Ph.D. em Sismologia pela University of California).

O relatório da Universidade de Houston será disponibilizado para os órgãos públicos e autoridades competentes. A própria CPRM, em seu relatório sobre os eventos de Maceió, indicou que novos estudos poderiam ser incorporados ao resultado inicial para a melhor compreensão dos fatores que desencadearam os processos geológicos no bairro Pinheiro.

"Acreditamos que os estudos e evidências apresentados poderão servir de subsídio para a CPRM cumprir sua missão de melhorar o entendimento dessas questões e ajudar na busca de uma solução para as pessoas e Maceió", complementam os pesquisadores no estudo encomendando pela Braskem.

 

Moradores do Pinheiro aguardam por soluções

FOTO: RAYSSA CAVALCANTE 

Moradores

Moradores do Pinheiro querem distância da polêmica entre Braskem com os técnicos da CPRM. Os líderes do Movimento S.O.S Pinheiro afirmam que parte dos três bairros efetivamente está afundando. Eles manifestam apoio ao relatório conclusivo elaborado pelos técnicos do Ministério das Minas e Energia. O documento da autarquia federal responsabiliza a mineradora de salmoura pelos problemas geológicos nos três bairros. Atestam que as minas estão com problemas de afundamento.

O prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), se posicionou também ao lado dos moradores, continua cobrando do governo estadual apoio para as famílias prejudicadas que abandonaram as suas casas por causa do afundamento. A prefeitura também negocia com o governo federal ajuda para aluguel social, moradias do Minha Casa Minha Vida para as famílias prejudicadas e apoia a mobilização por indenizações.

Gazetaweb



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