Imagens que falam: O martírio de uma praça que agoniza no coração de Maceió

Nas lembranças da infância e adolescência de muitos maceioenses, hoje passando dos 40, vivem as imagens de uma bela e majestosa praça, cercada por um dos mais ricos conjuntos arquitetônicos da cidade de Maceió, incluindo a Igreja do Bom Jesus dos Martírios (inaugurada em 1881*), o Palácio Floriano Peixoto (1902*) e o palacete da Intendência Municipal (1910*), antigas sedes dos governos estadual e municipal, respectivamente.

Estamos falando da Praça dos Martírios, que por muito tempo, devido à sua localização, era passagem obrigatória de pedestres em deslocamento para pegar condução que ligava o Centro e os bairros do Bom Parto, Mutange, Bebedouro e adjacências. Era também ponto de encontro de casais enamorados; de crianças a brincar no passeio em família; de amigos a compartilhar uma boa conversa ou lanche de fim de tarde, antes de voltar para casa. E por sua estrutura física (espaço largo, dotado de bancos, arquibancada e mirante/púlpito), tornou-se palco de grandes manifestações políticas, cívicas e religiosas.

Por muito tempo, o cenário de grande beleza arquitetônica foi incrementado com uma fonte luminosa, que enchia de magia o anoitecer, esguichando para o alto, jatos coloridos que ao sabor do vento proporcionavam uma charmosa dança das águas. Sim, aquele monumento com aparência de ‘cuia’ revestida de cerâmica azul, era um dos principais atrativos da praça.

A fonte foi inaugurada em 1963 (no governo Luiz Cavalcanti e na administração do prefeito Sandoval Caju) e após o apogeu, viveu longos anos transbordando o abandono dos governantes. Chegou a ser reativada em 2005, pelo governador Ronaldo Lessa (e prefeito Cícero Almeida), quando a Praça dos Martírios passou por sua última reforma e ganhou o pavilhão das bandeiras dos municípios alagoanos, que ainda sobrevive. Infelizmente a reativação da Praça não sobreviveu ao descaso dos governos posteriores e a antiga fonte, hoje se apresenta suja e às vezes lamacenta, com a água da chuva.

Muito do que já foi a Praça dos Martírios, hoje são apenas doces recordações – das ‘jovens tardes de domingo’ vividas nos ‘velhos tempos’. Outrora majestosa, a praça agoniza, abandonada à própria sorte, numa dura realidade que se retrata no lixo que se espalha nos seus arredores; na destruição e na deterioração de equipamentos e prédios antigos, a exemplo do palácio da Intendência Municipal – que virou depósito de lixo e de dejetos humanos – e da deterioração do casario antigo, em estilo colonial, que divide a mesma faixa de calçada com o imponente Palácio dos Martírios – hoje Museu de Cultura Floriano Peixoto. Nem a barraca de lanche e a banca de revista resistiram aos maus tratos.

Faz tempo que a praça, inaugurada em 1908(*) está abandonada, entregue à própria sorte, apesar de sua vizinhança com o Palácio República dos Palmares (atual sede do Governo estadual) e com o centro comercial de Maceió.

Um desrespeito dos governantes – estadual e municipal. E mesmo que se diga que cuidar de praças é tarefa da Prefeitura, deve ser interesse dos dois estabelecer parcerias a salvar a Praça dos Martírios como patrimônio do Estado e do Município. Em qualquer outra cidade deste país desmemoriado esse espaço teria sobrevivido como espaço da cultura, dos encontros de amigos após o trabalho e de visitação turística, em toda a sua extensão e arredores.

Afinal, não existem apenas sol e mar em Maceió! Existe um patrimônio histórico  e cultural a ser cuidado.

(*) As referências de datas são do post História de uma praça chamada martírios, de Edberto Ticianelli

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