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Economia
21/08/2019 14:00:00

Guerra comercial entre EUA e China pode levar país a recessão, diz Volpon


Guerra comercial entre EUA e China pode levar país a recessão, diz Volpon
Tony Volpan economista
Logo após as eleições de 2014, quando a ex-presidente Dilma Rousseff foi reeleita, o economista Tony Volpon, que cuidava das pesquisas sobre mercados emergentes no escritório do banco japonês Nomura, em Nova York, fez um alerta antecipando que ela seria obrigada a mudar o rumo da política econômica para corrigir os erros cometidos no primeiro mandato. Essa história é contada no seu novo livro Pragmatismo sob coação: petismo e economia em um mundo de crises, recém-publicado pela Alta Books Editora.
 
Ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC) e economista-chefe do banco suíço UBS, Volpon afirma que o cenário externo teve influência no impeachment de Dilma. Além disso, admite que, em caso de nova recessão global, o Brasil será afetado. “Se a conjuntura externa piorar ainda mais, isso pode limitar o espaço para a queda da Selic (taxa básica de juros, atualmente em 6% ao ano)”, alerta. Para ele, na guerra comercial entre Estados Unidos e China, “ninguém sai ganhando”. “Dado que o nível de atividade está ao redor de 1%, em tese, não precisaríamos de um grande choque externo para entrar em um novo processo recessivo”, pontua ele, que está revisando as projeções. A seguir, a entrevista concedida por Volpon ao Correio:

O mercado está cada vez mais turbulento com ameaça de recessão global. Quais os riscos para a economia brasileira que está fraca e próxima de nova recessão?

Dado que o nível de atividade está ao redor de 1%, em tese, não precisaríamos de um grande choque externo para entrar em um novo processo recessivo. Mas temos algumas vantagens. Primeiro, acabamos de aprovar uma robusta reforma da Previdência. Se esse esforço continuar, não somente com uma reforma tributária mas também com um processo forte de privatizações e concessões, o Brasil vai se destacar como uma das poucas economias emergentes executando reformas estruturais. A crise global deve diminuir o volume de recursos indo aos emergentes, mas pelo menos o Brasil deve ser uma fatia maior desse bolo menor.
 
Em uma guerra comercial entre as duas maiores potências econômicas e militares do mundo, ninguém sai ganhando. Na Ásia, especificamente, há grande integração da cadeia de oferta regional com a China. Já há movimentos de recolocar parte da produção fora da China em direção a outros países, mas isso é um processo lento e custoso. Além do mais, devemos ter em mente que a questão comercial é somente uma dimensão de uma rivalidade geopolítica entre os Estados Unidos e a China e que, pela proximidade geográfica que os países asiáticos tem com Pequim, será muito difícil fazer uma opção clara em se manter na órbita americana a longo prazo.
 
 

O senhor foi diretor do BC durante o período conhecido como dominância fiscal, quando a política monetária não era capaz de controlar o surto inflacionário. Hoje,os juros nunca foram tão baixos, a inflação está sob controle, mas o fiscal continua ruim e o desemprego se mantém elevado. Quando o país vai recuperar o equilíbrio das contas públicas?

 
Isso é uma pergunta interessante, porque demonstra a complexidade da relação monetária e fiscal. De fato, por algumas métricas, a situação fiscal piorou entre a passagem dos governos Dilma e Temer, mas, ainda assim, a inflação desabou. Isso demonstra que a questão cíclica, ou a contribuição da recessão e queda da inflação, foi muito mais importante do que supunham aqueles que achavam que era tudo ligado ao fiscal. Na questão fiscal, a verdade simples é que montamos uma estrutura de gasto pressupondo que as altas taxas de crescimento do período Lula eram permanentes. Boa parte da história do governo Dilma foi a descoberta dolorosa de que isso não era verdade, e que aquelas taxas eram consequências de uma conjuntura internacional específica, que acabou com a grande crise financeira de 2008. Esse é o problema, que já era evidente em 2012, e ainda estamos tentando solucionar.


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