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Municípios
30/07/2019 14:30:00

Moradores de Paulo Jacinto ainda esperam entrega de “novo” hospital após 7 anos


Moradores de Paulo Jacinto ainda esperam entrega de “novo” hospital após 7 anos

No dia 18 de junho de 2010, os alagoanos almoçavam e acompanhavam pelo noticiário local a tragédia que atingiu 26 municípios do estado. Ninguém esperava que o nível do rio Mundaú e Paraíba subiriam mais de seis metros acima do normal e provocaria uma enchente que arrastou tudo o que via pela frente.

Dias depois, quando todo o volume de água voltou à origem, os moradores enxergavam apenas destroços cobrindo o asfalto das ruas. “A água entrou pela frente de casa e ficou 50 centímetros do chão. O volume de água era muito alto e começou a derrubar as paredes dos imóveis. No outro dia, a gente conseguiu limpar as coisas com todo o sacrifício, sem água e energia. Ficamos ilhados por que a ponte tinha quebrado. Foi horrível”, relatou a moradora Yara Cavalcante.

De acordo com a Defesa Civil estadual, ao todo, 15 municípios afetados decretaram calamidade pública. Os primeiros números contabilizados davam conta de que pelo menos 607 pessoas estavam desaparecidas, 73 mil desabrigadas e 34 mortas em todo o estado.

Em Paulo Jacinto, localizada no Agreste de Alagoas, o cenário era o mesmo. Mas, para os cidadãos dessa cidade, uma notícia surgiu com tom de esperança. Por meio do Programa da Reconstrução do governo – criado após a enchente -, a cidadezinha com cerca de 7.426 habitantes iria ganhar uma Unidade de Saúde Mista no conjunto Santa Inês, que foi construído para abrigar as famílias vítimas da tragédia.

O que as pessoas não esperavam era que o projeto passaria de uma gestão estadual para outra e não seria finalizado. Atualmente, há nove anos da enchente e sete do início das obras, os moradores pedem o ativamento das atividades e denunciam que as ruínas do que deveria ser um hospital estão sendo utilizadas como motel e salão de festas.

PRIMEIRA TENTATIVA

Em 2012, durante o mandato do ex-governador Teotônio Vilela (PSDB), a construção da Unidade de Saúde Mista de Paulo Jacinto iniciava com a promessa de que teria capacidade para 80 leitos e iria beneficiar também os municípios vizinhos, como Mar Vermelho, Chã Preta, Quebrangulo e Viçosa.

Com 2.200 m², os planos para o local ainda envolviam a abertura de um espaço para urgência e emergência. Além disso, a implementação de atendimentos ligados a odontologia, psicologia, obstetrícia, pediatria e clínica médica. Na época, o Ministério das Cidades informou que a obra estava orçada em R$ 6 milhões.

Ao mesmo tempo, o governo federal, através do Ministério da Saúde (MS), liberou R$ 26 milhões para Alagoas com o objetivo de reforçar as atividades de assistência médica e para auxiliar na reconstrução de hospitais parcialmente ou totalmente destruídos.

Fato esse que gera reclamações entre a população paulo-jacintense. Eles expõem que apenas recentemente um muro menor dos fundos da Unidade Mista Marina Lamenha, que caiu com a força da enxurrada de 2010, foi reconstruído. A enchente derrubou parte da lavanderia do prédio. “Até hoje tem umas rachaduras nas paredes. Tem muito mato onde era o muro grande que caiu”, disse Yara.

Enchente de 2010 danificou parte do hospital local

FOTO: CORTESIA

Por outro lado, a prefeitura de Paulo Jacinto afirmou que todos reparos nas partes comprometidas foram realizados com a utilização de recursos próprios do Município. “Construímos um novo muro, a lavanderia e pintamos todo o prédio. Conseguimos ainda melhorar as condições de todos os mobiliários.”

Três anos depois do início do projeto da nova Unidade de Saúde Mista, a Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (SESAU) alegou, durante o primeiro ano do governo Renan Filho (MDB), que a obra parou em razão de uma dívida da gestão passada. Já os moradores contaram que os 15 funcionários deixaram de ir trabalhar por falta de pagamento.

“O hospital no Conjunto Santa Inês tem mais espaço e condições de atender. Não levaram adiante e eu acho que seria bom pra cidade, pois ela cresceu mais para o conjunto. Infelizmente, a obra está lá abandonada. Os animais entram. Horrível a situação”, explicou Yara.

SEGUNDA TENTATIVA

Naquele mesmo ano, o governo Renan Filho dava os primeiros passos e renovava, mais uma vez, a esperança do povo. Isso porque, em março de 2015, a então secretária de Saúde do Estado viajou até Paulo Jacinto para inspecionar o local.

No momento, ela lembrou que há cinco anos a população “aguarda pelas obras” e prometeu que até novembro de 2015 o hospital seria entregue. No entanto, o prédio continuou deixado de lado e, conforme a estudante Crislayne Rodrigues, os moradores do conjunto Santa Inês se queixam do compromisso da gestão.

Cerca de 730 dias passaram e o que parecia ser um novo passo foi dado. Na presença de diversas pessoas, o governador Renan Filho e o então secretário de Estado da Saúde, Christian Teixeira, assinaram, em setembro de 2017, uma carta de intenção que autorizava a finalização do projeto. Na ocasião, inclusive, foi lembrado que os atendimentos iriam acontecer perto de casa, “sem a necessidade de se deslocarem para a capital.”

Unidade de Saúde Mista ficou conhecida pelos moradores como “Elefante Branco”

FOTO: CORTESIA

Até os dias atuais, os paulo-jacintenses relatam o descaso e a situação de abandono. “Saúde é algo que todos precisamos. Esse hospital seria muito importante para nós pelo fato de que sempre precisamos sair para cidades vizinhas quando precisamos de assistência médica, principalmente em casos de emergência. Sem contar que a cidade cresceu muito depois da entrega do novo residencial”, concluiu Crislayne, que foi atingida pela enchente de 2007 e presenciou a destruição de 2010.

À Gazetaweb, o Município frisou que, desde o início da gestão do prefeito Marcos Antonio de Almeida, ofícios foram enviados e reuniões com o governador Renan Filho e o atual Secretário Estadual de Saúde tentaram ser marcadas para cobrar a retomada das obras. Inclusive, segue aguardando novos movimentos em relação a conclusão da Unidade.

Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SESAU) esclareceu que 70% das obras do novo Hospital Municipal de Paulo Jacinto já foram executadas e que a outra parte deve ser retomada após a conclusão do processo de rescisão do contrato firmado com a construtora licitada pela gestão do governo passado.

ATENDIMENTO MÉDICO

“Seria ótimo. Eu não precisaria ir pra outra cidade quando precisasse”. Esse é o relato do paulo-jacintense Sebastião Emidio, que mora próximo ao “Elefante Branco” – como o prédio ficou conhecido pelos moradores -, e teve que viajar até Maceió para tratar de uma intoxicação. Ele suspeita que o hospital local não tinha os recursos para os procedimentos necessários.

“Fui duas noite. Na primeira eu fui para Palmeira dos Índios fazer um exame de sangue e na segunda para Maceió ver como eu estava ou se eles falavam algum diagnóstico diferente. Eu estava sentindo febre, dor de cabeça, tontura e os olhos queimando”, explicou.

Atualmente, Unidade Mista Marina Lamenha atende a população

FOTO: REPRODUÇÃO/TV GAZETA

Além disso, Sebastião lembrou que, primeiramente, apenas tomou soro e ingeriu a medicação paracetamol. Em seguida, foi encaminhado aos outros municípios em uma ambulância, que, conforme a prefeitura de Paulo Jacinto, é disponibilizada durante todos os dias e tem capacidade para deslocar 15 pacientes para fazer tratamento, exames ou consultas na capital alagoana.

Crislayne Rodrigues ainda explicou que o hospital existente só presta o atendimento básico e, por isso, o novo poderia mudar a situação. “Tem dentista, ginecologistas, vacinação, pré-natal e, às vezes, tem um clínico geral. Mas, quando a coisa é séria, eles mandam para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Viçosa ou vão para Palmeira dos Índios.”

Dessa forma, o Município ressalta que, atualmente, a população tem acesso ao “atendimento 24h, com médicos plantonistas todos os dias e uma equipe de enfermagem e de demais categorias, visando atendimento célere e de qualidade para todos os usuários.”

O órgão também frisou que a conclusão da Unidade de Saúde Mista seria considerada como um “grande avanço”. Já que a estrutura trará uma ampliação no acolhimento e atendimento dos pacientes, o aumento no número de procedimentos disponíveis e a diminuição na quantidade de pessoas buscando tratamento em outras cidades.

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