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Brasil
16/07/2019 12:00:00

Frango com salmonela: Quais os riscos da bactéria e por que o Brasil tem regras 'mais brandas' que a Europa


Frango com salmonela: Quais os riscos da bactéria e por que o Brasil tem regras 'mais brandas' que a Europa

Faz um pouco mais de uma semana que uma notícia alarmou consumidores brasileiros. Uma investigação da ONG Repórter Brasil com o jornal britânico The Guardian e Bureau of Investigative Journalism revelou que cerca de 1 milhão de frangos congelados brasileiros foram vetados no Reino Unido por não atenderem aos padrões sanitários da Europa e voltaram para o Brasil, onde foram vendidos in natura ou processados.

De acordo com a apuração, toneladas de aves foram embargadas nos portos ingleses entre abril de 2017 e novembro de 2018 por apresentarem mais de 3,3% de contaminação de salmonela, bactéria encontrada na carne crua que pode ser fatal.

Como o Brasil aceita uma taxa maior de contaminação por salmonela, as carnes voltaram para o País e foram comercializadas de duas formas: cozida e processada, para uso em produtos como nuggets e salsichas, se o frango apresentar bactérias com risco potencial à saúde humana, ou in natura, no caso de o frango ter bactérias que não apresentam risco à saúde. 

Após o caso vir à tona, consumidores passaram a questionar o atual controle de qualidade da carne no Brasil e se o frango é “menos saudável” por aqui do que na Europa. Isso porque, enquanto a agência europeia Food Standards Agency (FSA) tolera cerca de 3% de contaminação por salmonela em frangos, a regulamentação em nosso País aceita até 20% de contaminação.

Para entender melhor sobre o assunto e os verdadeiros risco da contaminação por salmonela, o HuffPost Brasil conversou com a professora Ligia Alvarenga Inácio, responsável por cursos de Segurança dos Alimentos no Senac. 

A seguir, perguntas e respostas sobre contaminação de frango no Brasil:

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Frango com salmonela é realmente perigoso para a saúde humana?

Na verdade, o frango, como qualquer outra ave, tem salmonela no seu trato intestinal. Segundo Alvarenga, o perigo está na granja em que ele é criado e no abatedouro, pois o local precisa ter o máximo controle higiênico-sanitário para que essa bactéria não contamine todo o ambiente e a carne do animal. 

“Na verdade, o risco de consumir frango com salmonela é muito baixo porque a carne é cozida, frita ou assada, e o cozimento mata a bactéria”, afirmou a especialista. “O perigo maior é consumir o frango cru.”

Por que o Brasil tem uma legislação mais “branda” do que a Europa? 

Segundo Alvarenga, não há um motivo claro para que o Ministério da Agricultura tenha estabelecido uma aceitação de 20%.

“Provavelmente esse limite tenha surgido de pesquisas e de recomendações que estipularam que essa porcentagem não traz danos à saúde humana. Não é um limite para população entrar em desespero”, tranquilizou a professora do Senac. “A Europa escolheu ser mais rigorosa, mas é um limite [no Brasil] que não causa prejuízo para a população.”

Em entrevista ao G1, em 2018, a professora de Ciências da Saúde Letícia Casarin afirmou que a tolerância maior no Brasil pode estar relacionada ao histórico do País, onde era muito comum contaminação por salmonela.

Como saber ao certo que a salmonela foi eliminada do frango? 

A salmonela é eliminada do alimento quando a temperatura está por volta de 70ºC. Mas como geralmente não temos um termômetro na cozinha, Ligia Alvarenga Inácio sugere que o jeito mais seguro de matar a bactéria é cozinhar, fritar ou assar bastante a carne. Não coma o frango se ele tiver partes rosadas ou cruas, mesmo no meio da carne.

“O frango cru tem uma coloração mais rosada. Se ele estiver branquinho ou dourado, já garante que esse frango está livre de bactérias.”

Onde a salmonela é encontrada? 

A bactéria é encontrada no intestino das aves e dos seres humanos. O que acontece é que a granja precisa ser muito bem higienizada, uma vez que o frango elimina a bactéria pelas fezes. Se isso não acontece, elas podem contaminar o ambiente e até contaminar o solo, que por sua vez, tem o risco de contaminar a água. Dessa maneira, se tiver uma horta por perto e ela for irrigada pela água contaminada, todas as verduras podem ser contaminadas. 

“Por isso é fundamental que hortifrutis sejam bem higienizadas”, recomendou a professora do Senac.

É normal ter salmonela no frango. O problema é a higiene da granja e do abatedouro para que a bactéria não contamine o ambiente. Mas é impossível um frango sem salmonela.
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Como lavar corretamente as frutas, verduras e legumes consumidos crus, para evitar contaminações?

O procedimento de hortifruti, de modo geral, é lavar em água corrente, tirar o excesso de terra e outra sujeira e, após isso, deixar o alimento imerso em água com cloro ou água sanitária utilizada em alimentos. Para saber a proporção correta, é preciso prestar atenção no rótulo do cloro ou da água sanitária própria. Deixe o alimento imerso de 10 a 15 minutos, enxágue novamente em água corrente e, só assim, o consumo será seguro. 

Quais são os sintomas mais comuns de contaminação por salmonela? 

Os principais sintomas são dores abdominais, diarreia, vômito e, em alguns casos, febre. Dependendo da carga de contaminação, os sintomas podem ser mais intensos. 

O risco é maior entre idosos e crianças, que podem se desidratar muito rápido e ter complicações mais sérias. “Se o indivíduo tem um sistema imunológico bom, ele se recupera entre dois ou três dias. Porém, grupos de risco precisam procurar um médico o quanto antes porque podem sofrer grave desidratação, o que em alguns casos, pode levar à morte”, ponderou a professora do Senac Ligia Alvarenga Inácio. 

Ovo também pode conter salmonela? 

Assim como o frango, o ovo também precisa ser cozido ou frito.

Sabe aquela gema mole, que derrete? Também não é aconselhável seu consumo, segundo a professora do Senac. “Gema mole pode conter salmonela.”

Além do frango e do ovo, quais outros alimentos que podem ter a bactéria? 

“O maior risco é o que chamamos de contaminação cruzada, que é quando uma pessoa manipula um frango contaminado e, sem lavar as mãos ou os utensílios, manipula outros alimentos que não serão cozidos”, explicou Alvarenga. 

Então, por exemplo, há um grande risco de contaminação quando você corta o frango cru, e depois, corta a salada com a mesma faca, ou manipula o frango cru, não lava as mãos, e pega outros alimentos, contaminando-os.

Existem dados que indicam que a maior contaminação por salmonela é a cruzada, quando espalhamos as bactérias do frango cru por todo o ambiente.

É o que acontece com sushis e outras carnes, como a bovina. “Não é habitual ter salmonela no peixe, mas é possível a contaminação durante a manipulação do peixe”, explicou.

Diante do risco, a especialista recomenda consumir esses alimentos crus apenas em estabelecimentos de confiança. 

https://www.huffpostbrasil.comv



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