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Alagoas
06/05/2019 10:30:00

Apesar dos números do IBGE, voluntários fazem a diferença na vida de milhares de alagoanos


Apesar dos números do IBGE, voluntários fazem a diferença na vida de milhares de alagoanos
Ilustração

Em Alagoas, somente 1,3% da população realiza algum trabalho voluntário. É a menor taxa do país, segundo dados de 2018, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgada em abril pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na contramão - e apesar desses números - uma legião de alagoanos faz a diferença de vida de milhares de crianças, idosos, moradores de rua e animais abandonados. A reportagem do CadaMinuto foi em busca de alguns deles e confirmou: fazer o bem, faz bem.

Segundo a psicóloga Roseanne Albuquerque, os benefícios do trabalho voluntário, principalmente na área emocional, são inúmeros também para quem o executa e, entre eles, se destacam os estímulos ao desenvolvimento pessoal, ao bem-estar, à pró-atividade e a empatia, além da sensação de se sentir útil e conhecer outras pessoas. Nessa relação, não só quem recebe ganha, mas que dá também é muito recompensado.

Atividades voluntárias podem inclusive promover a redução do stress e aliviar a ansiedade reforçou Roseanne. “O voluntário percebe que pode contribuir com seu trabalho não só para colocar em redes sociais, porque assim não funciona, mas sim para que possa ser altruísta e ampliar todo o repertório dele emocionalmente e se tornar uma pessoa bem melhor, o que com certeza irá agregar muito valor à sua vida”, explicou a psicóloga.

Limites

Roseanne alerta, porém, que para se tornar voluntário é necessário que a pessoa tenha “condições” de desempenhar a atividade escolhida e, em alguns casos, é necessário acompanhamento especializado para se fortalecer e só então poder ajudar os outros. “Uma vez que, por exemplo, alguém depressivo queira atuar atendendo ligações de pretensos suicidas, ou uma pessoa com filho pequeno deseje desenvolver alguma atividade junto a crianças abusadas sexualmente, deve ter sim algum preparo e adotar cuidados”.

“Antes de desenvolver trabalhos voluntários junto a pessoas com problemas emocionais é preciso avaliar a estrutura de personalidade desse voluntário pois, alguns vão desenvolver resiliência, porém outros não vão conseguir, pelo nível de fragilidade emocional, por isso é preciso o acompanhamento de profissionais capacitados”, aconselhou a psicóloga.

Banho Solidário

“Ser voluntário é uma opção de vida que fiz quando vi um ser humano na minha frente comer lixo. Foi a pior cena que presenciei. Enquanto meu coração bater, vou dedicar meu tempo, dons e talentos em favor do meu irmão que está na rua ou em vulnerabilidade social”, afirmou o autônomo Fabiano José dos Santos, coordenador do Banho Solidário, projeto que proporciona a centenas de pessoas, na capital, “luxos” que a maioria de nós tem diariamente: um banho de chuveiro completo, com água quente, roupas limpas, alimento e atenção.

Fabiano atua há 17 meses como voluntário no projeto e, segundo ele, apesar dos números apontados na pesquisa, até hoje nenhuma ação deixou de acontecer por falta de voluntários. “Ao longo da nossa caminhada temos encontrado muitas pessoas envolvidas e comprometidas com projetos sociais. A cada ação recebemos novos voluntários que, impactados com o quanto um banho faz diferença na vida do ser humano, voltam trazendo amigos, familiares... Se você quer que o mundo mude, que essa mudança comece em você. Se cada pessoa fizesse um pouco, o mundo seria melhor”, falou.

O trabalho voluntário fez com que Fabiano enxergasse o mundo de forma diferente, valorizando as pequenas coisas: “Percebi o quanto um sabonete, escova e creme dental, shampoo e condicionador, papel higiênico e absorvente são itens capazes de trazer dignidade a uma pessoa. Fico muito feliz em fazer parte de um projeto que faz a diferença na vida de pessoas, que a sociedade não quer enxergar, mas estão lá, debaixo de marquises e viadutos... Você que está perguntando como posso ajudar? Olhe do lado... Ser voluntário faz você ser Humano”.

Fabiano concluiu lembrando que o Brasil tem mais de 100 mil pessoas em situação de rua, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Saúde mental

Para Arnaldo Santtos, psicólogo voluntário do Centro de Promoção de Saúde, Educação e Amor à Vida (Cavida) há quatro anos e meio, a carência de voluntários é uma realidade sim, pelo menos em sua área de atuação. “Em nosso site (www.cavida.org) é possível perceber a nossa dificuldade em selecionar voluntários. No ano passado fizemos dois editais e poucos foram selecionados. Este ano fizemos novamente. Entraram, recentemente, oito novos voluntários”, contou.

O psicólogo, que ocupa também a vice-presidência do Centro, onde realiza atendimento psicoterápico uma vez por semana, explicou que o local conta com 20 voluntários, sendo 16 psicólogos e quatro acolhedores (aqueles que fazem, em um primeiro momento, o acolhimento das pessoas que procuram por psicoterapia): “Damos prioridade às pessoas de baixa renda, àquelas que apresentam ansiedade, depressão e que cometeram tentativa de suicídio”, disse.

Ele explicou que todos os voluntários passam por um treinamento antes de atuarem no Cavida, e  contou que o Centro também realiza, todos os anos, o curso de Capacitação sobre prevenção ao suicídio, que está na XI edição e começa no dia 11 deste mês de maio: “Acredito que seja o único curso de capacitação do Estado voltado exclusivamente para o tema suicídio”.

Chamando a atenção para o fato de as faculdades não discutirem o tema suicídio, Arnaldo disse à reportagem que o interesse pelo tema, e pelo voluntariado na área, surgiu quando, no 5º período de Psicologia, participou de um minicurso intitulado “O inominado”.

“Fazer um trabalho voluntário é muito gratificante. Você não está preocupado em ganhar dinheiro e sim ajudar pessoas e no nosso caso, especialmente, porque são pessoas que estão bastante fragilizadas emocionalmente, devido aos agravos (mentais) que apresentam ou podem surgir no futuro. É muito bom saber que alguém, depois da psicoterapia, tomou um rumo melhor na vida. Não tem preço. Ajudar pessoas a sair de uma situação de desequilíbrio emocional e até de um transtorno e seguir a vida é muito gratificante”, descreveu Arnaldo, completando: “O mundo seria melhor que se todos fizessem um pouco mais para o outro”.

Causa animal

Há mais de dez anos, a empresária e designer Lwa Beserra presta serviços voluntários na causa animal, em atendimento a idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade, quando teve a oportunidade de participar da primeira edição do The Street Store em Maceió, projeto que começou na África e tem como propósito proporcionar um dia especial a moradores de rua.

“Minha principal motivação é desfrutar da alegria de ajudar ao próximo. Alimentar a alma, me sentir útil e fazer a minha parte por um mundo melhor”, afirmou, sobre os motivos que a levaram a se tornar voluntária. A designer acredita que, apesar da carência apontada na pesquisa, a depender da área há um número relevante de pessoas envolvidas com o voluntariado em Alagoas.

Para quem deseja ingressar na “corrente do bem”, o conselho de Lwa é o seguinte: muita espiritualidade, paz interior e a certeza de que está contribuindo para um mundo melhor. “Identifique o segmento onde mais gosta de trabalhar, e mergulhe de corpo e alma. Nada se compara a sensação de ser útil e ajudar alguém, seja uma pessoa ou um animal. Minha atuação sempre foi mais forte na causa animal pela demanda existente. Aprendi a respeitar os animais e ensinei isso os meus filhos”, destacou.

Somente na proteção animal, Lwa trabalha há mais de dez anos, alimentando e prestando pequenos cuidados a animais de rua, com a ajuda de doações e realizando ações de conscientização social sobre a importância da castração e do combate ao abandono. “A parceria com ONGs de proteção animal me permite participar de feiras de adoção, mutirões de banho e limpeza. Defensora do meio ambiente, também organizei e participei de vários mutirões de limpeza ambiental e conscientização. E não me limito a ser voluntária, incentivo e conto com a participação dos meus filhos nessas ações”.

Eis a nova geração que pode mudar ainda mais a cara do trabalho voluntário em Alagoas.

Cada Minuto



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