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Polícia
27/04/2019 18:00:00

"Não há integração entre as polícias Civil e Militar”, afirma presidente do Sindpol


Ricardo Nazario do Sindpol

A polêmica após a prisão de um policial civil na cidade de Maragogi ganhou repercussão essa semana após o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Alagoas (Sindpol), Ricardo Nazário ter dito que acredita numa possível guerra entre a PC e a Polícia Militar. O comandante-geral da PM, coronel Marcos Sampaio, rebateu e disse que a fala de Ricardo foi infeliz. Entretanto, em entrevista exclusiva ao site Cada Minuto, o presidente do Sindpol disse que não há integração entre as polícias, mas que “isso fica nos bastidores para que a sociedade não tome conhecimento”.

No Cada Minuto entrevista deste sábado, o presidente do Sindpol também fala sobre as delegacias do estado, visto que segundo ele, menos de 1% conseguiu avançar; falou sobre a necessidade de um concurso público e do caso Roberta Dias.

Confira a entrevista abaixo:

1) Você disse que acredita numa possível “guerra” entre a PC e a PM. Fora esse caso do policial preso em Maragogi, teve outro caso que te fez pensar assim?

Na verdade não estamos nos atendo a essa situação que houve lá na cidade de Maragogi. O que nós estamos externando a sociedade com essa nota publicada para toda a imprensa alagoana, de uma possível guerra entre policiais (Civis e Militares), e não a Polícia Militar e a Polícia Civil como instituição é que há dois anos tivemos uma situação de uma guarnição da Polícia Militar aonde ela fez uma abordagem a uma policial civil, uma mulher evangélica, uma senhora, dentro do seu veículo com a família, saindo da igreja. A guarnição se identificou, mandou ela deitar no chão. Ela (a mulher) disse que estava desarmada. Esse foi o estopim. Estou há um ano e meio já gestão e esse foi o primeiro caso que a gente se deparou. Enviamos um ofício ao comandante-geral da polícia militar, coronel Marcos Sampaio, onde ele nos recebeu. E na reunião com o comandante geral, externamos a preocupação de que houvesse uma padronização na abordagem quando o policial se identificar. A guarnição deve colher a identificação e se detectou que se trata realmente de um policial, liberar o policial da sua abordagem.

Em Julho de 2017, na reunião com o comandante-geral da polícia militar disse que iria mais além. Não só para o policial civil iria fazer uma recomendação, mas para todas as forças de segurança. Na abordagem de um agente penitenciário, guarda municipal, policial federal, etc. Então saímos feliz da reunião com o comandante geral. E dois anos após (a reunião) só aumentaram as reclamações. Então os policiais civis vêm ao sindicato reclamando das abordagens de alguns policiais militares. Não todos, alguns. A reunião com o comandante-geral não surtiu efeito, pelo contrário, não houve providências por parte do comando, ele não teve preocupação com relação a isso. Então vem a nossa indagação, preocupação, porque o policial civil anda armado, ele é uma força da segurança pública. O que nós queremos evitar é um possível problema, confronto entre as forças de segurança.

2) Por qual motivo o sindicato apontou que não há integração entre as polícias?

Primeiro que, as forças de segurança, a polícia civil e militar, elas têm suas arestas institucionais de décadas. Só que fica nos bastidores para que a sociedade não tome conhecimento disso. E como estamos nessa nova gestão, estamos externando essa situação porque queremos que alguma autoridade do Estado de Alagoas se posicione, abrace a causa e dê um basta nessa situação. Porque quem sai perdendo com essas arestas é a sociedade. Afirmamos que não há integração, por exemplo, nos centros de segurança pública, esse projeto do Estado, CISP, “pegaram” duas instituições que tem suas arestas e “jogaram” dentro de um prédio e disse 'agora a polícia está integrada”. É como você “pegar” dois irmãos que não se dão bem e colocarem para morar dentro do mesmo quarto. Não dá certo. É isso que nós estamos externando para a sociedade e afirmando que não há integração porque são instituições que vem com essa problemática, e vem com essa disputa acirrada de qual polícia é melhor, qual polícia prende mais, qual polícia é a mais próxima do governo do Estado. Tem tudo isso dentro das instituições de Segurança Pública. E devido a isso, acaba externando para os policiais que estão na ponta, efetivando o serviço da segurança pública, que ficam com essas arestas, infelizmente. Essa é a afirmação do porquê não existe essa integração entre os policiais. E fica bem claro para a sociedade que não é só do governo do Estado de Alagoas. É um fato em todos os Estados do país. Mas nós como integrantes da segurança pública e representantes da categoria dos policiais civis, estamos pedindo ajuda às autoridades. Que olhem para essa situação e deem um basta, que os policiais civis e militares consigam sentar com as autoridades e construam um padrão de abordagem quando houver envolvimento entre um agente de segurança. São essas situações que a gente afirma que não há integração.

3) O Sindpol vem cobrando melhorias nas Delegacias do Estado. Esse cenário tem mudado? Ou as delegacias continuam numa situação precária?

Das 141 delegacias do Estado de Alagoas,  menos de 1% conseguiu avançar. É praticamente zero o investimento na estrutura das delegacias de polícia do Estado. O único investimento que houve foi “dar um banho de causa nas paredes”, maquiar algumas coisas. O que houve foi esse projeto da CISP. Que é um projeto já fracassado no Estado. O governo anterior implantou um projeto parecido com a CISP o antigo CIAPC, que hoje é a Central de Flagrantes, na Av. Fernandes Lima, e que também era parecido com a estrutura do CISP e foi um fracasso. Lá tinha espaço para a perícia criminal, área de peritos, bombeiros, polícia militar, polícia civil. Aquela festa que era na inauguração, como é agora com a CISP. E agora acabou o governo, acabou a integração, acabou tudo. Mas o dinheiro, o recurso público foi investido.

4) O Sindpol tinha pedido o afastamento dos delegados que investigavam a morte da Roberta Dias. Esse pedido foi acatado? Como anda o processo?

Na verdade, a Delegacia Geral através do Delegado-Geral, eles decidiram não afastar os delegados da investigação, mas o Sindpol entende que, depois que nós notificamos a sociedade de toda a situação, do inquérito policial do “caso Roberta”, houve um desfecho favorável para os policiais civis, onde teve policiais presos, onde teve toda uma rotina do seu dia-a-dia afetada, porque saiu na mídia que os policiais eram os acusados da morte. E ao final o inquérito inocentou os policiais civis. Então entendemos que houve justiça, apesar de não ter um afastamento dos delegados do inquérito policial, mas  houve a justiça onde chegou o final do inquérito, inocentado os policiais civis.

5) Vocês pedem que seja realizado um concurso público para a Polícia Civil. Como está atualmente esse cenário? O número de policiais supre a necessidade?

Na verdade, a Polícia Civil pede socorro. Hoje temos um quadro efetivo de 1.600 policiais civis, onde 600 estão aptos a se aposentarem. E existe uma lei de 1993 que estipula quatro mil policiais civis. Então a defasagem é muito grande. No mínimo teria que dobrar esse número. O Sindpol vem com uma campanha nas redes sociais, fazendo outdoors, solicitando a sensibilidade do Governador Renan Filho para que realize os concursos gerando, pelo menos, 1.500 vagas de policiais civis. Estamos pedindo ajuda, também, às pessoas, para que usem as rede sociais e sensibilizem o Governador do Estado para que ele faça isso (o concurso). Mais policiais civis é melhor atendimento nas delegacias, é celeridade na realização dos B.O, para que a população não demore tanto na hora de realizar o boletim de ocorrência, as viaturas da polícia militar não esperam tanto para realizar o procedimento nas centrais de flagrantes, é mais policiais civis acelerando os inquéritos policiais de homicídios, de roubo, estupro, feminicídio. Enfim, quem tem o papel de investigar os crimes são os policiais civis, e aí a população não vê, com mais rapidez, os crimes esclarecidos, não por ineficiência, mas por falta de policiais civis para dar celeridade ao monte de inquéritos que existem nas delegacias.

6) Como presidente do sindicato, quais são os principais desafios enfrentados?

É um tema que não pára porque o Governo não dá a devida melhoria, que é a estrutura das delegacias. Desde o início da nova gestão o governo não vem melhorando as delegacias de polícia. Então esse é um pleito recorrente. Nós conseguimos a implementação de um aumento salarial de dois anos atrás, e nós conseguimos implementar agora, em dezembro. Temos o pleito do IPCA, que é a recomposição da perda inflacionária. São lutas que, por questões internas, que atinge a sociedade. Porque quando nós brigamos para que tenha mais policiais, que tenha delegacias em condições melhores de atender o povo. A população quer ser atendida e chega naquele local tenebroso. É isso que a gente quer mudar. Melhorias nas delegacias, melhorias dos equipamentos, das viaturas. Toda essa problemática são situações recorrentes e que a nossa gestão vai ficar sempre brigando. Até porque o nosso governo não dá a devida atenção. É primordial ter concurso público urgente da polícia civil.

Cada Minuto



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