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Alagoas
24/04/2019 08:30:00

Rotina de seca: Moradores de Paulo Jacinto vivem o drama de ficar até 5 dias sem água

Falta de estrutura da Casal e inércia dos representantes políticos da cidade impõem sacrifício do desabastecimento à população


Rotina de seca: Moradores de Paulo Jacinto vivem o drama de ficar até 5 dias sem água
Represa em Paulo Jacinto

Imagine ficar até cinco dias por semana sem abastecimento de água. Agora, imagine isso se tornar uma rotina que se arrasta meses e meses! Há tempos a população de Paulo Jacinto, município da Zona da Mata, localizado a cerca de 100 km de Maceió, vem sofrendo problemas no abastecimento. Ora pela falta, ora pela péssima qualidade da água que vez ou outra na semana, chega às torneiras.

PJ – Tabela de rodízio de abastecimento Casal

O racionamento é oficial e se assemelha aos das piores secas enfrentadas nos municípios sertanejos – o que não é o caso. No cronograma estabelecido pela Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) cada comunidade tem direito a dois dias de abastecimento na semana. Em alguns casos, são dois dias seguidos e, nos outros cinco, cada um se vira como pode. O Conjunto Santa Inês, na parte alta da cidade, por exemplo, recebe água às quartas e quintas-feiras e fica os outros cinco dias de torneira vazia. A Rua Santos Dumont, e adjacências, no Centro, são abastecidas às sextas e sábados.

As reclamações são muitas e reincidentes. E as razões delas também.  O problema afeta toda a cidade e traz em si componentes impressionantes, como as imagens da água que sai das torneiras na cor de caldo de feijão – às vezes mais escura – após vários dias desabastecidas.

A essas queixas, somam-se informações de que o reservatório que abastece a cidade está sempre cheio.

Fomos até lá, conferir. De fato, a barragem aparenta estar no seu nível normal. E mesmo considerando problemas de manutenção que se revelam na grande extensão de vegetação aquática e nos sinais de assoreamento, tem água suficiente para abastecer a cidade com uma população estimada em 7,5 mil habitantes (IBGE-2018).

Assim sendo, o que explica e o que justifica essa situação de desassistência e angústia vivida pela população de Paulo Jacinto? A quem cabe resolver esse problema?

A responsabilidade pelo abastecimento é da Casal, não resta dúvida. Mas falta força de vontade e de representatividade política – isso inclui prefeito e vereadores – para encarar o problema como prioridade, mover gestões e promover ações para exigir dos órgãos competentes a solução para o problema que afeta a população.

Para isso foram eleitos e são muito bem pagos.

O QUE DIZ A CASAL

O assunto é longo, por isso dividimos em tópicos. A situação é grave e precisa de respostas. Por que o sistema da Casal não consegue abastecer uma cidade cuja população, hoje estimada em 7,5 mil habitantes, é menor do que a constatada no censo de 1970 (9,3 mil habitantes), quando o sistema foi implantado?

Em busca de respostas procuramos a Casal.

PJ – Estação de Tratamento da Casal – Foto Fátima Almeida

A Estação de Tratamento (ETA) do sistema de abastecimento de água de Paulo Jacinto é do século passado (década de 70). E embora a população geral do município tenha reduzido nesses quase 50 anos (de 9,3 mil para 7,5 mil habitantes), a cidade cresceu em extensão territorial e ocupação da área urbana assistida. Mas a Estação de Tratamento (ETA) não acompanhou esse crescimento. Nunca passou por uma obra de reforma ou ampliação. Está ultrapassada, segundo a Casal. E mesmo tendo muita água no manancial, a quantidade captada e tratada não é suficiente para abastecer toda a cidade ao mesmo tempo. Por isso o rodízio.

Atualmente,  o sistema conta com duas bombas na captação de água da barragem para a Estação de Tratamento: uma em operação e outra de reserva. São suficientes para atender à capacidade limite da ETA (que é de 70 metros cúbicos de tratamento por hora) – assim diz a Casal. Portanto, o problema não é a bomba, mas a capacidade da Estação.

Para colocar mais água, somente após reforma e ampliação.

ÁGUA ESCURA

Além do desabastecimento, tem também a cor da água, que assusta e a indica imprópria para o consumo. A Casal admite que a barragem recebe grande contribuição de matéria orgânica que, com o passar do tempo, vai assoreando o reservatório. E em anos recentes não se tem notícia de nenhuma ação de desassoreamento.

(Bem que a Prefeitura poderia ajudar nisso, né?).

Mas garante que faz limpeza periódica para retirar plantas aquáticas, como baronesas, “sempre que é possível e necessário” – tá na hora de dar uma geral! – e assegura que antes de ser distribuída à população, essa água passa pela ETA e somente é enviada à cidade se estiver dentro dos padrões de potabilidade determinados pelo Ministério da Saúde.

Por que, então, a tonalidade escura que sai das torneiras? O problema, é o mesmo: a idade da rede de distribuição, cuja tubulação em boa parte da cidade, tem a mesma idade da ETA, sem nunca ter havido uma substituição. Essa tubulação antiga cria crostas que ressecam e se soltam com a força da água, quando o abastecimento é retomado após paradas longas – como é o caso atual, com o rodízio estabelecido – e a ela se mistura, chegando às torneiras.

O QUE FAZER?

A atual gestão da Casal culpa ‘o passado’, por nunca ter tratado prioridade a necessidade de reestruturar a ETA de Paulo Jacinto. Tomara que o façam agora, que a companhia de abastecimento canta as glórias de uma recuperação econômico financeira que já registra três anos seguidos – desde 2016 – de superávit, após décadas de déficit.

Fala também de um convênio firmado com o Governo do Estado em 2017 que estabelece o rateio paritário de um total de R$ 100 milhões entre a Casal e a Sefaz, para investimentos em obras de melhoria dos sistemas de abastecimento em todo o Estado, e a cidade de Paulo Jacinto está contemplada. Segundo a Casal, a Estação de Tratamento de Água da cidade será modernizada e terá sua estrutura e capacidade operacional duplicadas. A obra começou há cerca de um ano, mas a encontramos parada. Dizem que “será retomada após a Semana Santa”.

Quando vai terminar? Só Deus sabe.

Mas até lá, a Prefeitura, a Câmara de Vereadores e a própria Casal não podem ficar inertes diante do sofrimento da população. A contratação de carros-pipa seria uma medida razoável para ajudar no abastecimento. Por menos que tudo isso que está acontecendo, tem cidades com situação de emergência decretada. Seria o caso?

Que o Sangue de Cristo opere esse milagre em defesa de uma população que encontra-se abandonada à própria sorte. E que cure também a inércia dos homens do poder!

éassim



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