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Comportamento
15/04/2019 18:00:00

A epidemia da solidão gay


A epidemia da solidão gay
Ilustração
Eu ficava tão animado quando a metanfetamina acabava.

Este é o meu amigo Jeremy.

“Enquanto tem”, diz ele, “você continua usando. Quando acaba, rola uma coisa tipo: ‘Ah, ótimo, agora posso voltar para a minha vida’. Eu ficava acordado o fim de semana inteiro, ia a essas festas de sexo e depois me sentia uma merda até quarta-feira. Cerca de dois anos atrás mudei para a cocaína, porque conseguia trabalhar no dia seguinte.”

Jeremy me diz isso de uma cama de hospital, seis andares acima de Seattle. Ele não vai me contar as circunstâncias exatas da overdose que teve, só que um estranho chamou uma ambulância e ele acordou aqui.

Jeremy não é o amigo com quem eu esperava ter essa conversa. Até algumas semanas atrás, não imaginava que ele usasse nada mais pesado que martínis. Ele é elegante, inteligente, não come glúten, o tipo de cara que sempre está de camisa de botão, não importa o dia da semana. Quando nos conhecemos, há três anos, ele me perguntou se eu conhecia um bom lugar para fazer CrossFit. Hoje, quando pergunto como são os dias no hospital, a primeira coisa que ele diz é que não tem Wi-Fi e que está atrasado nos e-mails de trabalho.

“As drogas eram uma combinação de tédio e solidão”, diz ele. “Costumava voltar do trabalho esgotado na sexta à noite e pensava: ‘E agora?’ Então ligava para comprar metanfetamina e checava na internet se tinha alguma festa acontecendo. Era isso ou assistir a um filme sozinho.” 

Jeremy [1] não é meu único amigo gay que passa por um período difícil. Malcolm mal sai de casa, exceto para o trabalho, porque sua ansiedade é tão grave. Jared sofre de depressão e dismorfia corporal, que reduziram sua vida social basicamente a mim, à academia e a casos arranjados pela internet. E Christian, o segundo cara que beijei, que se matou aos 32 anos, duas semanas depois que seu namorado terminou com ele. Christian foi a uma loja de festas, alugou um tanque de hélio, começou a inalar o gás e enviou um e-mail para seu ex. Ele queria ter certeza de que o ex encontraria seu corpo.

Durante anos notei a diferença entre meus amigos heterossexuais e meus amigos gays. Enquanto metade do meu círculo social desapareceu em relacionamentos, crianças e subúrbios, a outra metade luta contra o isolamento e a ansiedade, as drogas pesadas e o sexo desprotegido.

Nada disso se encaixa na narrativa que me contaram, que contei para mim mesmo. Como eu, Jeremy não cresceu intimidado por seus pares ou rejeitado por sua família. Não se lembra de ter sido chamado de bicha. Ele foi criado em um subúrbio da costa oeste por uma mãe lésbica. “Ela saiu do armário para mim quando eu tinha 12 anos”, diz ele. “E duas frases depois me disse que sabia que eu era gay. Eu mal sabia naquele momento.” 

Por https://www.huffpostbrasil.com/



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