28/03/2024 10:15:06

Política
26/02/2019 09:00:00

Após conquistar comando do Congresso, DEM exige cargos no governo

Com as presidências da Câmara e do Senado nas mãos, DEM reivindica cargos no governo, sem depender de critérios exclusivamente técnicos para indicações


Após conquistar comando do Congresso, DEM exige cargos no governo

As vitórias do DEM nas eleições para presidente da Câmara e do Senado foram apenas o começo do renascimento do partido. A legenda, agora, se movimenta para crescer no vácuo do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, dentro do Congresso e no próprio Palácio do Planalto. No Parlamento, o partido se articula para liderar as negociações com o governo em troca de cargos. No Planalto, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), acomoda, desde o início do ano, apadrinhados políticos de aliados na Esplanada dos Ministérios, segundo afirmam correligionários do presidente.

No Congresso, o discurso é de que o próprio Bolsonaro terá de pedir para o DEM auxiliar na articulação. Mas isso terá um preço. Em troca de apoio pela aprovação da reforma da Previdência, o governo está disposto a oferecer cargos de segundo escalão para baixo por meio do “banco de talentos”, mecanismo que tem por objetivo “profissionalizar” as indicações políticas. Inicialmente, a proposta foi ironizada por líderes e pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Agora, maturada, abriu caminho para a barganha de postos mais altos.

Em reunião de expoentes de partidos com Bolsonaro amanhã, o líder do DEM e do bloco vencedor das eleições na Câmara, Elmar Nascimento (BA), vai colocar na mesa de negociações a proposta de que aliados ocupem cargos de primeiro escalão. Ou seja, ministérios. “Se o governo está achando que vai nos tratar com banco de talentos e segundo escalão, está se enganando. Não vai dar. Se quer governar só com militares, é uma escolha. Sem reforma ministerial, terá dificuldades para compor base. Ninguém está atrás de marmita. Poder, ninguém dá, tem que arrancar, e Elmar vai levar isso a ele”, afirma o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ).

Na Esplanada, no primeiro escalão e em alguns postos chave do segundo, o governo dispõe de 12 integrantes oriundos das Forças Armadas, excluindo o vice-presidente, Hamilton Mourão, ocupando postos de primeiro e segundo escalões. O estopim da revolta de aliados foi a substituição de Gustavo Bebianno, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral, pelo general Floriano Peixoto. “Supostamente, a maioria dos parlamentares não quer cargos. Mas cada um sabe o valor que tem seu mandato. Se o governo quer compor a base, então coloca os generais para articular. Parlamentar quer respeito, ser ouvido e atendido”, alerta Sóstenes.

O DEM se mantém na dianteira das articulações com o governo e conta com o respaldo de líderes do bloco, que inclui o PP, PSD, MDB, PR, PRB, PSDB, PTB, PSC, PMN e o próprio PSL. A curto prazo, lideranças não têm esperança de que o governo ceda postos de primeiro escalão. Mas avaliam que Bolsonaro pode mudar de ideia, à medida que sinta dificuldades para aprovar as reformas na robustez proposta pelas equipes técnicas. A retórica capitaneada pelo DEM é que há parlamentares e indicados com qualificação técnica e política para exercer cargos de alto escalão no governo.

Aliados entendem que o governo foi eleito com o discurso de combater o “toma lá da cá” —, a acomodação de apadrinhados condicionada à troca de apoio na aprovação de reformas. Mas vão alertar o incômodo com o “banco de talentos”, visto como desmerecimento e discriminação com a categoria política. “Por uma base mais qualificada, é importante que o governo compatibilize qualificação política e técnica qualificada. Terá que avaliar bem o discurso para não transparecer discriminação e radicalização com a base. Há indicados e parlamentares ficha limpa qualificados que podem ocupar, inclusive, o primeiro escalão”, aconselha o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), vice-líder da legenda no Senado

Prestígio

No Planalto, Onyx é o responsável pelas articulações. O ministro, no entanto, é acusado de privilegiar o próprio partido nas interlocuções. Levantamento da agenda oficial do ministro aponta que, desde 2 de janeiro, recebeu em 12 oportunidades filiados do DEM. O PSL foi prestigiado em 10 ocasiões, excluindo as reuniões com o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). O MDB, o PSD e o PSDB aparecem divididos em terceiro com mais prestígio, com sete ocasiões na agenda. “As articulações com o DEM vão muito bem. Com outros partidos e a base do próprio Jair, não”, criticou um correligionário de Bolsonaro.

A avaliação de alguns integrantes na bancada do PSL é que Onyx usa o poder da caneta de articulador político para prestigiar aliados e se cacifar dentro do DEM para fazer concorrência à articulação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dentro do partido e na Câmara. A própria vitória de Alcolumbre no Senado é encarada como uma interferência do ministro, que trabalhou nos bastidores para o sucesso do correligionário.

Na Esplanada, Onyx é apontado como responsável pela indicação do secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Julio Semeghini, ex-deputado federal pelo PSDB. Também teria reconduzido Robson Tuma, ex-deputado federal pelo DEM, para a Superintendência do Patrimônio da União em São Paulo. Outra indicação do ministro seria a de Felipe Sartori Sigollo, do PSDB, para ser secretário executivo adjunto da Secretaria Executiva do Ministério do Desenvolvimento Social. A assessoria da Casa Civil nega que o ministro tenha feito as indicações.

Correio Braziliense



Enquete
Se fosse fosse gestor, o que você faria em União dos Palmares: um campo de futebol ou a barragem do rio para que não falte agua na cidade?
Total de votos: 93
Notícias Agora
Google News