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Política
20/02/2019 15:00:00

Reforma da Previdência traz oportunidade de articulação entre partidos de oposição PSol busca ganhar espaço no campo progressista, PDT quer


Reforma da Previdência traz oportunidade de articulação entre partidos de oposição PSol busca ganhar espaço no campo progressista, PDT quer

Em meio à primeira grande crise política do governo de Jair Bolsonaro, a oposição tenta se unir na véspera do envio da reforma da Previdência ao Congresso Nacional, na próxima quarta-feira (20). Na Câmara dos Deputados, o trabalho é para construir pontes após a divisão na eleição da presidência da Casa.

Presidente do PSol, Juliano Medeiros lamenta o episódio e afirma que a expectativa é de uma atuação conjunta em temas como mudanças na aposentadoria e investigações do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno.

“Claro que ficaram fissuras, cicatrizes das disputas da presidência da Câmara, mas a gente vai trabalhar para garantir o diálogo e o enfrentamento da oposição para enfrentar essas matérias. Não há nenhuma divergência que exista que esteja acima da necessidade de estar unido contra a retirada de direitos”, afirmou ao HuffPost Brasil.

Do outro lado, a líder da minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), também acenou uma aproximação. “Nós nunca nos afastamos. Os blocos nunca foram programáticos. Foram pontuais para definição de ocupação dos espaços da Câmara”, afirmou à reportagem. Ela se reúne na próxima terça-feira (19), com o líder do PT, Paulo Pimenta (PT-RS).

Presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) diz que uma das prioridades é alinhar a atuação no Parlamento. “A gente tem discutido muito a necessidade de estarmos mais organizados e unidos no Congresso para enfrentar temas que serão polêmicos no sentido dos direitos”, afirmou ao HuffPost Brasil.

Na formação de blocos, PDT e PCdoB se alinharam à base do vencedor da eleição para o comando da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), enquanto PT, PSB, PSol e Rede montaram outro grupo. Candidato da esquerda, Marcelo Freixo (PSol-RJ) ficou em terceiro lugar, com 50 votos.

Como consequência, os dois principais cargos da oposição foram divididos. Previsto pelo regimento da Câmara, a liderança da minoria ficou com Jandira. Além de ter direito a uma estrutura de cargos, a líder pode encaminhar votações no plenário e participa da reunião do Colégio de Líderes, em que são definidas as propostas que serão votadas.

Já a liderança da oposição ficou com Alessandro Molon (PSB-RJ). O cargo foi criado em 2017, por demandas políticas após a criação da liderança da maioria, quando  Michel Temer assumir o poder.

LUIS MACEDO/CÂMARA DOS DEPUTADOS
“Nós nunca nos afastamos. Os blocos nunca foram programáticas. Foram pontuais para definição de ocupação dos espaços da Câmara”, diz líder da minoria, Jandira Feghali (PCdo-RJ).

Reforma da Previdência

A expectativa é que a chegada da proposta de emenda à Constituição (PEC) ao Congresso, prevista para próxima quarta-feira (20) impulsione esse alinhamento.

“Temos que confrontar aberta e inteiramente a proposta do governo. Ela ainda não veio, mas, pelo discurso e conceito, vai prejudicar trabalhadores de um lado e favorecer os bancos do outro”, afirmou Jandira.

No entendimento da deputada, o objetivo central da reforma é a capitalização, regime que é uma espécie de poupança individual. “Para fazer capitalização nos moldes de hoje, não precisa de reforma. Só faz sentido a capitalização como eles estão pensando se for para abrir para o sistema financeiro aberto os servidores [que hoje têm o Funpresp] e baixar o teto do regime geral para favorecer mais os bancos. Tá nítido que o centro da proposta deles é esse”, completou.

Apesar de o ministro da Economia, Paulo Guedes, defender a capitalização, o governo não confirmou se a mudança estará na PEC. O único detalhe divulgado oficialmente na última semana foi a adoção das idades mínimas de 65 anos para homens e 62 para mulheres, com período de transição de 12 anos.

O caso do PDT e de Ciro Gomes

A articulação para que os 6 partidos, que somam 134 deputados, se unam ainda precisa de ajustes e envolve interesses partidários.

Na próxima terça, o candidato derrotado na disputa presidencial em 2018 Ciro Gomes (PDT) irá debater a reforma da Previdência em evento do PDT em Brasília ao lado do deputado Mauro Benevides (PDT-CE), assessor econômico de seu programa de governo.

O parlamentar, que recentemente repetiu publicamente suas duras críticas ao PT, também é crítico às ideias de Guedes sobre capitalização. Ele acredita que a inclusão de todos trabalhadores, independente da renda, será prejudicial para os mais pobres.

Benevides é cotado para presidir a comissão especial da PEC das mudanças de aposentadoria, mas ainda não há um alinhamento dos partidos de oposição sobre esse movimento.

″É muito difícil que a gente tenha, em qualquer comissão que seja, um presidente que possa expressar posição divergente daquela que o Rodrigo Maia representa e, consequentemente, divergente do governo”, afirmou o presidente do PSol, Juliano Medeiros.

De acordo com ele, o partido defende outras medidas ligadas à seguridade social, como fim da DRU (desvinculação das receitas da União), cobrança da dívida de empresas que não pagaram a Previdência, fim das desonerações em folha de pagamento e inclusão de militares e do Judiciário no regime geral de aposentadoria.

THIAGO GADELHA VIA GETTY IMAGES
Derrotado nas urnas em 2018, Ciro Gomes debate reforma da Previdência em Brasília e PDT pode conquistar presidência da comissão da PEC sobre o tema.

Protagonismo na oposição

Além da busca por uma atuação em conjunto, os partidos de oposição têm adotado medidas práticas distintas no enfrentamento ao governo Bolsonaro. Tanto o PT quanto o PSol apresentaram projetos de decretos legislativos para sustar os efeitos de medidas do Executivo, como a flexibilização da posse de armas e o enfraquecimento da Lei de Acesso à Informação.

O PCdoB, por sua vez, apresentou uma ação de inconstitucionalidade contra o decreto que facilita o armamento no STF (Supremo Tribunal Federal).

O enfrentamento também explora fragilidades políticas. PT e Psol apresentaram requerimento de convocação para que o ministro Gustavo Bebianno explique suposto desvio de recursos do Fundo Partidário em 2018. Presidente do PSL no período eleitoral, o homem de confiança de Bolsonaro é suspeito de liberar recursos para candidaturas laranja. Ele nega as acusações.

A bancada do PSOL também protocolou representação contra o partido do presidente da República na Procuradoria Geral da República, para apurar o caso.

Com o desgaste político do PT, a eleição de Marcelo Freixo e o aumento da bancada da Câmara, o PSol tem buscado ganhar espaço no campo progressista.

“Alguns partidos defendem uma oposição mais comedida, dizem até oposição propositiva. Outros como o PT, estão debatendo qual é a tática mais adequada. A nossa tática é de uma oposição bastante intransigente ao governo. Isso vai credenciando o PSol para ser, digamos, o líder de um bloco de oposição”, disse o presidente da sigla.

EFE
“A defesa do Lula é a condução da nossa política porque nós vemos no Lula a síntese de tudo aquilo que o Brasil está passando, das injustiças, abuso de poder, retirada de direitos', diz Gleisi Hoffmann (PT-PR).

Defesa de Lula é prioridade do PT

A cúpula do PT, por sua vez, continua tendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como principal liderança e orientador. “A defesa do Lula é a condução da nossa política porque nós vemos no Lula a síntese de tudo aquilo que o Brasil está passando, das injustiças, abuso de poder, retirada de direitos, destruição de uma pauta social que nós construímos ao longo do tempo”, afirmou Gleisi Hoffmann.

Desde que a comunicação com o ex-presidente, preso em Curitiba (PR), foi limitada, Gleisi tem conversado com ele por cartas, bilhetes e por intermédio de outras pessoas. A parlamentar garante que ele continua à frente da condução da sigla. “Ele está preocupado com o destino do Brasil, do povo brasileiro. Ele tem dito para nós ‘isso é um governo de destruição, não de construção’.” 

O PT começou, na última sexta-feira (15), a circular com caravanas sob o tema “Lula livre, pelos direitos do povo”. Candidato do partido derrotado na eleição presidencial, Fernando Haddad participou de ato no Ceará com a CUT (Central Única dos Trabalhadores).

A sigla ainda não fechou a agenda das próximas cidades, mas o protagonismo não será só do ex-presidenciável. Gleisi e governadores como Wellington Dias, do Piauí também irão viajar pelo País, em busca de uma aproximação da sigla com a base e movimentos sociais, uma das demandas ouvidas no período eleitoral.

https://www.huffpostbrasil.com/ 



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