29/03/2024 03:30:28

Saúde
04/02/2019 15:30:00

Depressão pós-parto: a maternidade vivida de outra maneira; tratamento é fundamental


Depressão pós-parto: a maternidade vivida de outra maneira; tratamento é fundamental
Ilustração

“Passei por muitas coisas durante a gestação, não conseguia me sentir próxima da minha filha mesmo estando dentro de mim. Até hoje, não consigo entender como é se sentir ser mãe”. Relatos como esse, da universitária Marina Santos (nome fictício), mostram que nem sempre a chegada de um filho resulta em alegria. Falar sobre depressão pós-parto ainda é tabu e muitas mães que passam por esse tipo de depressão preferem o silêncio e pela falta de informação ou de conhecimento, não fazem tratamento.

Marina engravidou aos 23 anos e disse que, mesmo com a confirmação, ignorou a gestação. “No primeiro mês achei estranho minha menstruação atrasar e fiz logo um teste. O teste deu positivo, mas ignorei. Segui ignorando por meses as mudanças em meu corpo, mas eu sabia que tinha algo acontecendo”.

A universitária conta que, quando a filha nasceu, passou por muito stress e isso fez com que parasse de amamentar cedo. “Por um ano, só sabia chorar e me isolar. Comecei a aproveitar mais a minha filha, mas ainda não consigo me sentir mãe. Hoje sou outra pessoa, mas foi difícil demais conseguir olhar para isso de uma forma bonita”, confessou Marina.

A depressão pós-parto é uma doença que nem sempre é notada e que necessita do apoio da família e de amigos. Segundo o Ministério da Saúde, a cada quatro mulheres, mais de uma apresenta sintomas de depressão no período de 6 a 18 meses após o nascimento do bebê.

A psicóloga Rayane Oliveira explicou ao Cada Minuto que é uma doença de causalidade multifatorial, mas as possíveis causas mais mencionadas em estudos estão relacionadas a fatores hormonais, histórico pessoal ou familiar de transtornos afetivos, ausência de uma rede de apoio e eventos de vida estressantes.

“É fundamental esclarecermos que a mulher não desenvolve um quadro depressivo porque quer ou porque fez ou deixou de fazer alguma coisa, e é importante que, principalmente a família, as pessoas que estão ao redor da mulher mãe, tenham essa compreensão e consigam acolher e apoiar essa mulher”, afirma a psicóloga.

Segundo Rayane, é preciso ter cuidado para não negligenciar o quadro, minimizando os sintomas, nem também patologizar, transformando o puerpério (também chamado de resguardo ou quarentena) em doença.

“Tristeza profunda e por tempo prolongado, desesperança, isolamento, perda de prazer e interesse nas atividades, sentimentos de inutilidade e/ou culpa, insônia, alteração no apetite, irritabilidade, são alguns sintomas da DPP. É importante uma análise profissional cuidadosa e completa, porque alguns destes sintomas podem estar presentes mesmo em mulheres não deprimidas”, avalia Rayane.

No final de 2018, o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 98/2018, que determina avaliação psicológica de gestantes e mães de recém-nascidos com o objetivo de identificar a tendência ao desenvolvimento da depressão pós-parto, foi para análise do Senado. Sendo assim, as mulheres que apresentarem indícios de depressão pós-parto devem ser encaminhadas para acompanhamento psicológico. 

O tratamento da DPP é composto por acompanhamento psicológico e psiquiátrico, para associação ou não do tratamento farmacológico. Vale lembrar que o tratamento com medicamentos e psicoterapia é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A psicóloga afirma que o tratamento é fundamental e existem estudos que apontam que transtornos psiquiátricos não tratados acarretam maiores riscos nos cuidados pós-natais e na vinculação mãe-filho. Além disso, é possível que uma mulher, que já teve depressão pós-parto, tenha novamente.

“Infelizmente, ainda encontramos muita resistência na procura por ajuda profissional e na adesão ao tratamento, entre outras coisas, devido à pressão que as mães recebem da sociedade, como um todo, para se sentirem felizes e plenas apenas por ser mães. Isso aumenta o isolamento, a vergonha em falar sobre o que está acontecendo com ela, e o sentimento de culpa, trazendo a probabilidade de adoecimento ou do agravamento do quadro já presente”, finalizou.

Segundo Rayane, é importante, dentro das possibilidades, buscar medidas de promoção de saúde mental, como o pré-natal psicológico, individual ou em grupo e grupos terapêuticos, por exemplo.

Cada Minuto



Enquete
Se fosse fosse gestor, o que você faria em União dos Palmares: um campo de futebol ou a barragem do rio para que não falte agua na cidade?
Total de votos: 95
Notícias Agora
Google News