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24/03/2009 00:00:00

Municípios


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Gazetaweb - Janaina Ribeiro com colaboração de Wanessa Oliveira

Uma gravação, feita por meio de aparelho celular, desmascara o que seria uma suposta compra de votos feita em benefício do prefeito eleito de São José da Laje, Márcio José da Fonseca Lira, mais conhecido como ‘Dudui’. Na ligação telefônica o agricultor Inaldo Valentim Valença Júnior, passa-se pelo vereador Henrique Valença (do qual é irmão) – que apoiou a chapa encabeçada por Dudui - e conversa com um homem chamado Geraldo Cândido de Almeida, que seria o aliciador de eleitores dentro da Usina Serra Grande e estaria com um cadastro formado por 60 eleitores, que teriam seus votos comprados pelo valor de R$ 50,00.

A seguir, trechos de uma das gravações: Clique aqui para ouvir a 1ª gravação


Júnior Valença: ‘essa lista aí, eu vou mandar um cara numa moto buscar. Quantos têm (quantidade de pessoas)? Cinqüenta que tu falasse?

Geraldo: Não, sessenta.

Júnior Valença: Sessenta? Fizesse a conta toda? Quanto deu tudo? Quanto tudo?

Geraldo: Não é cinqüenta (R$ 50,00), né?

Júnior Valença: É, vezes sessenta. Então dá R$ 3 mil conto.

Geraldo: É, dá três.

Júnior Valença: Ó, não sai de casa, se o telefone tocar, não atenda não, só o meu.

Geraldo: Ó, e os outros pessoal? Eu fui lá, naquela mulher, da professora, fui na missa, tá tudo certinho com o pessoal.

Júnior Valença: Tudo a R$ 50,00?

Geraldo: Foi.

Júnior Valença: Agora me diz uma coisa, lá são quantos lá?

Geraldo: Agora na rua do Pajal, eu não quero que tu acerte esse negócio não.

Júnior Valença: É sem futuro lá, né?

Geraldo: É sem futuro.

Júnior Valença: Agora me diz uma coisa, e estão rondando a tua casa é?

Geraldo: E apois, rapaz. É moto, às vezes fica um carro. E eu só olhando pela brecha.

Júnior Valença: Eu acho que é melhor mandar um moto-táxi aí, pegar aí na tua casa, essa lista. Entendeu? Anotasse como? Nome e o quê mais?

Geraldo: Nome, a secção. O problema é que o Dudui ficou doidinho porque tem o número da secção.

Júnior Valença: Botasse o número do título?

Geraldo: Botei e tem deles que é CPF. É mais CPF.

Júnior Valença: Pronto, pois tá bom.

Em outras gravações, Júnior Valença volta a ligar para Geraldo e combina o local em que o suposto motoqueiro vai pegar a ‘lista de cadastro’. Seria às 22h. Ouça:

Clique aqui para ouvir a 2ª gravação

Clique aqui para ouvir a 3ª gravação


Nesta gravação abaixo, Júnior Valença diz que ‘correu’ da polícia para não ser preso no momento em que entregaria a quantia que havia sido combinada com Geraldo. O acusado diz que a investidura da PF foi ‘bocada’, mas depois, desconfia que não é Henrique Valença que está ao telefone.

Clique aqui para ouvir a 4ª gravação


Depoimento à Polícia Federal

De posse da gravação, Júnior Valença resolveu denunciar o suposto esquema de corrupção que envolveria seu irmão, Henrique Valença e o então candidato a prefeito Dudui.

Ele prestou depoimento ao delegado Daniel Granjeiro de Souza, no dia 11 deste mês, no Fórum Municipal de São José da Laje. À autoridade policial, o agricultor confirmou que recebeu informações de que Henrique Valença e Geraldo – que trabalha como fiscal do armazém de açúcar da Usina Serra Grande – ‘estariam cooptando eleitores’.

Júnior Valença também confirmou que se fez passar por seu irmão, em conversas telefônicas com Geraldo, e que foi dessa forma que ele conseguiu a suposta comprovação de que estaria sendo praticado o crime de compra de votos por parte da coligação “A Vez do Povo’.

Foram muitas as denúncias de compra de votos que recebemos. Quando o Geraldo me confirmou o esquema, eu marquei com ele para entregar os R$ 3 mil e combinei com a Polícia Federal para montarmos o flagrante. Acontece que, no dia do suposto pagamento, o Geraldo foi com a esposa e a lista com o cadastro dos eleitores estava de posse da mulher dele. Quando ela viu a chegada da PF, imediatamente colocou o papel dentro da blusa e os policiais por serem homens, não puderam revistá-la. Resultado? O delegado mandou convocá-lo no outro dia, ouviu-o e depois o liberou. Não tivemos acesso ainda ao depoimento dele, por isso, não sabemos se ele admitiu o crime ou não”, disse Júnior Valença.

PF não abriu inquérito

O delegado responsável pelas investigações, Daniel Granjeiro, não chegou a instaurar inquérito. Ele alegou que não foram encontradas provas contra Dudui. “Para caracterizar corrupção eleitoral é necessário ter alguém que confirme q recebeu dinheiro ou a proposta da compra de votos. Mesmo que eu ouça uma pessoa dizendo que havia uma lista, eu tenho que ter essa lista. E daí não apareceu ninguém com essas provas. No desdobramento das nossas primeiras investigações, o Geraldo até citou algumas pessoas, mas nenhuma delas confirmou a prática do crime. Então, não temos mais nada a fazer. E o Geraldo também alegou que reconheceu a voz de Júnior Valença e que, por isso, falou todas aquelas coisas porque queria saber até onde ele iria. Além disso, é preciso que se diga que o Júnior Valença errou em se passar pelo irmão”, declarou a autoridade policial.

Granjeiro também afirmou que a Polícia Federal enviou todas as informações apuradas para o Ministério Público Eleitoral. Remetemos as informações ao promotor Jorge Dória para que o órgão avalie a necessidade de pedir o aprofundamento nas investigações”, explicou ele.

Júnior Valença contesta o posicionamento da PF. “Armamos um flagrante. Se só havia homens na Polícia Federal, o casal deveria ser detido e a mulher, revistada por uma policial feminina quando chegasse à sede do Fórum. Até eu que não sou policial, sei que, só prestando depoimento no dia seguinte, o Geraldo teve tempo de montar a sua defesa e dá um jeito de sumir com a lista”, criticou ele.

Quanto à alegação da PF de que Geraldo teria dito que reconheceu ser Júnior Valença no outro lado da linha, o agricultor foi enfático: “E por que então ele foi lá para receber os R$ 3 mil? Por que ele iria se expor dessa forma?”, questionou.

A Gazetaweb tentou contato com o promotor de São José da Laje, Jorge Dória, mas ainda não conseguiu localizá-lo. O juiz da comarca, José Braga Neto, informou que nenhuma denúncia formal chegou até o seu gabinete. “Cheguei recentemente aqui no município e não estou sabendo de nada oficialmente. Esse processo deve estar junto a Justiça Federal”, disse ele.

Já o superintendente da PF, José Pinto de Luna, está em Brasília e negou ter conhecimento da comprovação de prática de crime eleitoral na cidade.

Geraldo Cândido e Dudui se defendem

Geraldo Cândido de Almeida negou todas as acusações. Ele diz que está sendo vítima de uma armação política. “Nas eleições de 2008 eu fiz campanha para o Neno (Paulo Roberto Pereira de Araújo), só que neste ano eu não quis trabalhar para ninguém. Só que o Henrique Valença me procurou e me pediu voto para o Dudui e eu dei a minha palavra. Acho que foi isso que deixou o pessoal do outro lado com raiva. Como eles souberam que eu estava pedindo voto para o Dudui e que eu sou uma pessoa que tem muita simpatia aqui na Serra Grande, resolveram armar contra mim. Eu sou inocente”, assegurou o fiscal.

Ele também confirmou que prestou depoimento à Polícia Federal. “Eu disse a PF que sabia que era o Júnior Valença que estava falando comigo no telefone e que por isso, eu fiquei dando corda à conversa dele. Queria saber até onde ele queria chegar. O Júnior não soube nem se identificar e disse logo que era o ‘Rico’ no telefone. Mas com o Henrique eu não tenho essa intimidade e ele nunca se apresentou a mim com esse apelido”, contou.

Quando questionado sobre o porquê dele ter ido ao encontro para receber os supostos R$ 3 mil, Geraldo se defendeu com nervosismo: “Eu queria olhar para cara do Júnior e perguntar por qual motivo ele estava fazendo aquilo comigo, queria conversar com ele. Não fui na intenção de receber nenhum dinheiro”, disse, negando que sua mulher, Gilvanete, teria escondido a lista de cadastro dentro da blusa quando avistou a chegada das autoridades policiais. “Isso é uma calúnia. Ela nem queria ir comigo”, garantiu.

O prefeito eleito, Dudui, também nega o aliciamento de eleitores. “Dessa história a única coisa que sei é que o irmão do Henrique se fez passar por ele. Quero dizer que não conheço nenhum Geraldo e que o Henrique Valença foi sim meu cabo eleitoral. Ele é do meu lado’, resumiu.

Henrique Valença não conseguiu ser localizado pela nossa reportagem. Em contato telefônico no número da sua residência, fomos informados de que ele estaria em uma ‘fazenda que não pega nem celular”.


Novas denúncias serão entregues

Júnior Valença insiste na acusação de compra de votos. Ele assegura que está de posse de novas gravações que incriminam a chapa encabeçada por Dudui.

“Amigos nossos estiveram com alguns eleitores que confirmaram ter vendido seus votos e gravaram essas conversas. Numa das casas, um cidadão diz que recebeu R$ 1 mil para dividir com os demais eleitores aliciados. Em outra, uma pessoa diz que a família ganhou R$ 300,00 para votar em Dudui e que o dinheiro foi dividido com todos da casa. Já uma terceira pessoa diz que recebeu os R$ 50,00, mas não votou nele e ainda afirma que se for preciso, depõe na polícia dizendo que compraram o seu voto”, revelou Valença.

O agricultor disse estar confiante que a Justiça vai apurar o caso. “Sei que aqui em Alagoas a justiça nem sempre é feita. Mas confio que as denúncias serão apuradas. Nossos sentimentos não deverão ser de indignação e descrédito para sempre”, desabafou.

Resultado das eleições

Márcio José da Fonseca Lira, o Dudui, venceu as eleições em São José da Laje com 6.244 votos, representando um percentual de 51,55%. Marcos José de Andrade Rocha, o Marcos do Hospital, ficou em segundo lugar, com 5.869 votos. A cidade possui 15.117 eleitores.

De acordo com informações obtidas pela Gazetaweb , a desavença entre os irmãos Valença se deu no início deste ano, na ocasião em que foram montadas as chapas que disputariam as eleições suplementares. Henrique Valença teria manifestado o desejo de ser o candidato a vice-prefeito na chapa de Marcos do Hospital. Entretanto, depois de uma pesquisa de intenção de votos realizada na cidade, ficou comprovado que a irmã de Henrique e, consequentemente de Júnior Valença, Carly Valença, possuía maior índice de aprovação do que o irmão vereador. E por conta desse resultado, ela foi a escolhida para compor a chapa. Henrique não teria aceitado a proposta de ficar com o comando de duas secretarias municipais e se aliou a Dudui.



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