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Especial
20/01/2019 07:35:00

Acidentes com ciclistas crescem em AL e HGE registra mais de 550 casos em 2018


Acidentes com ciclistas crescem em AL e HGE registra mais de 550 casos em 2018
Ilustração

Era uma tarde de junho de 2017 quando Ivan Oliveira de Assis, de 30 anos, estava saindo da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) conduzindo sua bicicleta. Ele foi pedalando até chegar a um cruzamento próximo ao Hospital Universitário (HU) e tentou ultrapassá-lo tranquilamente. No entanto, no mesmo instante, foi surpreendido por um automóvel saindo de uma rua oposta.

No momento, Ivan, que estava do lado esquerdo e com um maior fluxo de carros, percebeu que precisava ir rapidamente para o acostamento. Ele começou a tentar sinalizar com a mão para pedir passagem ao motorista, porém o condutor decidiu colocar o veículo atrás do ciclista. 

 

"O carro estava bem rápido. Quando ele percebeu, freou o veículo e travou o pneu da bike. Daí, eu fui jogado para frente e caí por cima do braço no asfalto. Na hora, nem percebi direito que tinha quebrado. Pelo menos ele parou o carro, chamou o Samu e ficou esperando até o pessoal chegar", relatou o estudante, antes de acrescentar que, após o acidente, ele foi encaminhado ao Hospital Geral do Estado (HGE). 

Assim como ele, outros 514 ciclistas vítimas de acidentes no trânsito foram atendidos no HGE em 2017, de acordo com a assessoria de comunicação da unidade hospitalar. Já em 2018, o levantamento mostra que o número apresentou um aumento de 42 casos em relação ao ano anterior, sendo 556 atendimentos ao todo. 

Diante disso, o presidente da Associação Alagoana de Ciclismo (AAC), Antônio Facchinet, acredita que a falta de sensibilidade dos motoristas de veículos com quatro rodas é um dos maiores motivos para o alto índice de acidentes envolvendo ciclistas.  

"Isso com certeza se mantém assim pela falta de educação e sensibilidade dos nossos motoristas, pois quem está na bicicleta é um ser humano e, muitas vezes, eles acham que o cidadão é quem está atrapalhando a via. Eles não sabem da responsabilidade que existe para os motoristas com aquele cidadão", contou. 

Para melhor exemplificar, Facchinet lembra o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Conforme ele, o texto diz que os veículos motorizados maiores são responsáveis pelos veículos menores e os não motorizados como as bicicletas. E, além disso, os motoristas deveriam manter uma distância de, ao menos, um metro e meio dos outros.

SEGURANÇA EM PRIMEIRO LUGAR

 

Maria José pedala desde 2011 e chegou a sofrer dois acidentes

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Uma parte dos ciclistas usa a bicicleta para se exercitar ou se divertir. No entanto, um outro grupo começou a pedalar para conseguir se locomover para trabalhar, estudar, ir ao médico, entre tantos diversos destinos. Como é o caso de Maria José do Nascimento, de 57 anos, que comprou uma 'bike' em 2011 para economizar no transporte. "Faço todo meu deslocamento de bicicleta. A não ser que eu vá para uma festa chique, onde precise ir mais arrumada", disse. 

 

Tendo em vista essa situação cotidiana, a funcionária pública concorda que os ciclistas devem buscar sempre se proteger enquanto transitam pelas vias, como: buscar conduzir a bicicleta com atenção e respeitando as regras de trânsito. 

"Evitar a contramão, não andar ou correr entre os carros e ter atenção ao ultrapassar carros parados. Também devemos ficar alertas com as portas dos carros estacionados para perceber se tem gente dentro e se elas vão abrir repentinamente. Ainda podemos sinalizar fazendo gestos com as mãos", aconselhou ela. 

Maria José revelou que já passou por dois acidentes de trânsito enquanto pedalava. Em um deles, a ciclista estava indo para o município de Boca da Mata, no interior de Alagoas, com um grupo e acabou deslizando no asfalto molhado ao sair da pista para o acostamento. No segundo, um carro de passeio colidiu com a traseira da bicicleta no momento em que ela ultrapassava um veículo parado.

Em 2018, a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) registrou quatro colisões envolvendo ciclistas em Maceió. Devido a isso, o presidente da AAC ressalta que outras medidas devem ser levadas em consideração quando a segurança é uma das prioridades e "manter-se visível" é uma obrigação. 

"Nós sempre informamos aos ciclistas que usem roupas claras, coloquem lanternas e até faróis para que o motorista consiga enxergar a bicicleta. Ela é algo pequeno em relação aos automóveis e, às vezes, quando ficam dividindo as ruas com os carros, é preciso chamar atenção. É importantíssimo que a gente esteja com a visibilidade em alerta", explicou Antônio, ao lembrar que os materiais de proteção devem ser usados em várias partes do corpo.  

"Eles devem usar luvas e capacetes para, quando tiver uma queda ou um acidente, se protegerem. Mesmo que ninguém use, é precisar usar a cotoveleira e a joelheira, elas são muito importantes. É preciso pensar até em que sapato calçar. Se for descalço ou com uma sandália aberta pode acabar tirando 'um pedaço do dedo', é bom algo que seja fechado e proteja o pé inteiro", disse.

 

Juliana Agra instrui que ciclistas não andem muito próximo à sarjeta

FOTO: RAYSSA CAVALCANTE

 

 

Aliado a isso, a representante do Coletivo de Ciclistas Urbanos de Maceió (Ciclomobi), Juliana Agra, instrui que os ciclistas não andem muito próximo à sarjeta - o escoadouro das águas pluviais em estradas, ruas e avenidas que beiram o meio-fio das calçadas. Segundo ela, uma distância adequada pode ajudar ao condutor da 'bike' a desviar de qualquer ocorrência.

"Se aconteceu uma 'fina' você não tem pra onde escapar e acaba caindo se andar colado na sarjeta. Não é também que o ciclista vá andar no meio da ciclo faixa, mas deve ficar a distância de um braço do acostamento pra ter espaço suficiente para desviar de algo. Isso impede, por exemplo, que os motoristas façam uma ultrapassagem mais perigosa. Ficar nessa distância força com que o motorista pense que não dá pra passar porque a bicicleta está no meio", explicou.

Para completar, Facchinet ainda frisa que a segurança deve ser uma preocupação de todos os motociclistas, motoristas de carros, de caminhões e de ônibus. Para ele, é preciso que as pessoas reduzam a velocidade ao tentarem ultrapassar um ciclista em qualquer via. Além de manter a distância prevista pelo Código de Trânsito Brasileiro, que, muitas vezes, não é respeitada pelos condutores dos grandes veículos. 

Como exemplo, o presidente afirma que os motoristas de ônibus da capital são ruins com os ciclistas. "Nós já participamos de projetos da SMTT voltados para os motoristas de ônibus, mas eles precisam ser retomados e reforçados. Eu não acredito que seja só uma questão com o profissional, mas seja a dificuldade de estar dirigindo um veículo muito grande e a bicicleta ser pequena. Às vezes eles não conseguem enxergar a bicicleta, não acredito que seja intencional. Porém, é um absurdo o que acontece quando os motoristas de ônibus passam dando cada 'fino' na gente."

PROTESTOS COMO HOMENAGEM

 

Ivan Oliveira revelou que já sofreu quatro acidentes de trânsito

FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Os ciclistas estão sujeitos a serem vítimas de um acidente em qualquer horário ou lugar. Cada esquina pode ser uma surpresa e, muitas vezes, não tão agradável. Isso porque, em alguns casos, quem está pedalando acaba perdendo a vida e deixando um desfalque no grupo a que pertence. 

 

Quando isso acontece, as associações de Maceió organizam e se unem em protestos simbólicos para chamar a atenção da sociedade para aqueles que também usam as vias da cidade. "Nós procuramos fazer um protesto que não atrapalhe ninguém e nem o trânsito. Eles duram entre 15 e 20 minutos e servem pra falar daquele acidente causado por algum motorista", falou Antônio Facchinet. 

Para Ivan, citado no início da reportagem, essas manifestações pacíficas são importantes para mostrar que o ciclista tem o direito de pedalar naquele lugar e para alertar os órgãos responsáveis sobre a questão da mobilidade urbana.

"Boa parte do tempo quando estou pedalando ou acontece algum acidente,  vejo o pessoal vim com o argumento de que a rua não é lugar de bicicleta e que bicicleta tem que andar na ciclovia. Seria ótimo se existissem ciclovias e ciclofaixas na cidade toda, mas, independente disso, tenho o direito de pedalar no trânsito também, sem sofrer ameaça dos carros", destacou ele, que pedala desde 2015 e  já sofreu quatro acidentes de trânsito. 

Um dos protestos registrados pela Gazetaweb, aconteceu em março de 2018 após o militar aposentado, subtenente José Ronaldo Souza, de 57 anos, ser atropelado por um carro enquanto pedalava com um grupo de amigos, no município de São Miguel dos Campos, em Alagoas. Na ocasião, os ciclistas se concentraram no local conhecido como Corredor Vera Arruda, no Stella Maris, e seguiram até o bairro Pontal da Barra, em Maceió. 

Gazetaweb




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