Maior fabricante brasileira de armas de fogo, a Taurus foi a principal empresa impactada no mercado financeiro com o decreto de flexibilização do uso de armas assinado nesta terça-feira (15), pelo presidente Jair Bolsonaro.
O decreto acaba com a exigência de comprovar a “efetiva necessidade” de se ter uma arma. De acordo com o texto, poderão comprar armas proprietários de estabelecimentos comerciais, agentes de segurança, moradores de área rural ou de unidades federativas com taxa superior a 10 homicídios por 100 mil habitantes em 2016, “conforme dados do Atlas da Violência 2018”. Todos os estados e o Distrito Federal se encaixam nesse critério.
Segundo as novas regras de posse, cada cidadão poderá ter até 4 armas de fogo. O decreto também amplia a validade do registro da arma, de 5 anos para 10 anos.
Conheça cinco fatos sobre a empresa e o mercado de armas no Brasil.
Diante de falas durante a campanha eleitoral a favor do armamento e do anúncio sobre o decreto feito em dezembro por Bolsonaro, os investidores do mercado financeiro anteciparam a mudança oficial.
Em 2018, as ações da empresa ficaram entre as maiores altas da Bolsa de Valores. As ações ordinárias da Taurus chegaram a subir 180,8% e as preferenciais acumularam valorização de 130,9%, de acordo com reportagem do UOL.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, as ações ordinárias da empresa se valorizaram mais de 800% nos últimos 12 meses, com a expectativa de mudança de governo.
Nesta terça, os papéis oscilaram. Chegaram a disparar mais de 10% na abertura da bolsa, mas passaram a cair no início da tarde. Analistas avaliam que o movimento é natural, devido a essa antecipação, e reflete a venda de ações para embolsar lucros. Outro avaliação é que a companhia pode vir a ter concorrentes.
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, confirmou nesta terça-feira que o governo estuda uma abertura do mercado de fabricação de armas no país a empresas estrangeiras. Ele disse a jornalistas que “não tem problema” se 100% do investimento nas fábricas do setor for externo.
No início do ano, o presidente já tinha demonstrado essa intenção, em entrevista ao SBT. Durante a campanha, Bolsonaro disse que iria “quebrar o monopólio da Taurus”.
Atualmente o R-105, regulamento de 1936 do Exército brasileiro restringe a importação de armas de fogo se o produto estrangeiro competir com o nacional.
Classificada como uma ”empresa estratégica de defesa”, a companhia trocou seu histórico nome Forjas Taurus por Taurus Armas nesta semana, a fim de surfar na onda pró-armas no Brasil.
No site, a empresa relaciona o nome com virilidade. “A marca Taurus, em latim, significa Touro, símbolo de força, segurança e virilidade e que também guarda relação direta com trabalho, otimismo, robustez econômica e prosperidade”, diz o texto.
Principal executivo da companhia, Salesio Nuhs foi à posse presidencial de Jair Bolsonaro. O executivo atua há 27 anos no segmento de armas e munições e é presidente da Associação Nacional de Armas e Munições (ANIAM) desde 2012.
Em dezembro, Nuhs fez um discurso otimista em relação ao novo governo para acionistas e brincou com o fato de Bolsonaro ser o 38º presidente do Brasil, referência ao popular revólver calibre 38.
Em 2015, a Taurus fechou um acordo de US$ 30 milhões para encerrar uma ação coletiva, movida contra três empresas do grupo nos Estados Unidos. A acusação era de venda de pistolas com defeito na trava de segurança do gatilho.
A companhia disse que decidiu aceitar o acordo para evitar um longo e custoso julgamento, mas não admitiu culpa. “Não implica em confissão ou admissão de culpa quanto às alegações de defeitos em certas pistolas”, informou, à época.
As investigações são diversas. Um relatório do Painel da ONU aponta que a fabricante brasileira de armas enviou em 2015 um carregamento de 8 mil armas a um filho do iemenita Fares Mohammed Mana’a, um dos maiores traficantes internacionais de armas, de maneira irregular.
De acordo com reportagem do Globo, a empresa vem sendo pressionada por questões legais e dá prejuízo desde 2013. Em outubro, a Taurus buscou levantar até R$ 400 milhões junto a investidores.
No terceiro trimestre de 2018, a fabricante faturou R$ 192,3 milhões, crescimento de 3% na comparação com igual período de 2017. O lucro foi de R$ 48 milhões, ante um prejuízo de R$ 18,5 milhões no terceiro trimestre de 2017. A dívida líquida da companhia era de R$ 887,5 milhões também no terceiro trimestre, segundo a Folha de S. Paulo.