Aanomalia magnética do Atlântico Sul é uma região onde o campo magnético terrestre é anormalmente baixo, o que interfere no funcionamento de satélites artificiais e em voos intercontinentais. Em busca da sua origem, pesquisadores do Instituto de Astrofísica, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP analisaram o magnetismo de uma rocha coletada na caverna Pau D’Alho, localizada no Estado de Mato Grosso. Os cientistas descobriram que a anomalia é recorrente, possivelmente originária da África, e provocada por variações no fluxo térmico dentro da Terra.Os resultados do trabalho são apresentados em artigo da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), nos Estados Unidos, publicado no último dia 10 de dezembro.
O campo magnético terrestre é semelhante ao de um imã de barras, como se estivesse centralizado no interior do planeta. Ele é gerado no núcleo externo, a partir da lenta movimentação de uma liga metálica rica em ferro, no estado líquido. “A anomalia ocupa parte significativa do sul do Atlântico e da América do Sul, sendo a mais importante registrada atualmente”, aponta o professor Ricardo Trindade, do IAG, que coordenou a pesquisa, juntamente com o aluno de doutorado Plinio Jaqueto. “Ela é responsável pela assimetria do campo magnético terrestre, fazendo com que ele seja mais variável do Hemisfério Sul, em relação ao Hemisfério Norte”.
Trindade destaca que a anomalia também é a principal responsável pelos riscos espaciais. “Ela facilita a entrada de partículas carregadas do vento solar de fora da Terra, o que aumenta o perigo de acidentes envolvendo satélites artificiais em órbita, voos espaciais e intercontinentais”, afirma. “O trabalho buscou responder três grandes questões: Quando a anomalia surgiu? Qual a sua causa? Ela é recorrente em milhares de anos, sempre vai ocorrer?”
Em 2015, o pesquisador John Tarduno, dos Estados Unidos, sugeriu que o fenômeno surgia em função de uma anomalia térmica na interface entre o manto e o núcleo da Terra, que provocava um maior fluxo magnético. “Estudos com solos queimados na África mostraram que em certos períodos aconteciam variações muito rápidas do campo magnético”, relata o professor. “Para estudar o fenômeno na América do Sul, havia uma dificuldade causada pela falta de dados, pois não há registros no continente anteriores à chegada dos europeus, no século XVI”.
Os pesquisadores utilizaram no trabalho um material pouco analisado em estudos sobre a evolução do campo magnético terrestre, as estalagmites. “Esse tipo de rocha se forma em cavernas, de baixo para cima”, conta Trindade. A pesquisa utilizou uma estalagmite da coleção do Instituto de Geociências (IGc) da USP, em colaboração com o grupo do professor Francisco Cruz. “Ela se formou há 1.500 anos, na caverna Pau D’Alho, que fica no município de Rosário Oeste, em Mato Grosso, onde foi coletada”.
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