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Saúde
15/01/2019 14:00:00

Transplantados não conseguem medicamentos na Ceaf, em Maceió


Transplantados não conseguem medicamentos na Ceaf, em Maceió
Ceaf em Maceió

Pessoas transplantadas que vivem em Maceió estão enfrentando dificuldades para conseguir imunossupressores no Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (Ceaf), antiga Farmex. Esses remédios são importantes para evitar a rejeição dos novos órgãos e devem ser tomados durante toda a vida, mas são muito caros e não são vendidos em farmácias.

Os medicamentos em questão são o Microfenolato de Sódio e o Tracolimo, usados por pacientes que tenham feito qualquer transplante. Eles agem diminuindo a imunidade e, consequentemente, a possibilidade de o órgão recebido ser rejeitado pelo sistema imunológico do corpo. Juntos, eles passam de R$ 2 mil.

Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) informou à reportagem do G1 que estes dois medicamentos integram a lista dos que foram adquiridos pelo Ministério da Saúde (MS), mas um grande incêndio na indústria farmacêutica EMS em Hortolândia (SP), em outubro de 2018, resultou no atraso da produção, comprometendo a distribuição para todos os estados.

Enquanto o problema não é resolvido, pacientes como a estudante Paula Ruthielle do Nascimento Oliveira, que recebeu um transplante de rim há cerca de 3 anos, ficam sem alternativa. Ela contou ao G1 que costumava pegar a dose dos remédios suficiente para um mês na Ceaf até o dia 10. Neste início de ano, no entanto, ela ainda não conseguiu a medicação.

“Nesse mês, a gente foi pegar, mas disseram que não tinha, e que também não havia previsão para chegar. Um amigo disse que chegou só uma caixa no fim do mês passado, mas acabou logo. Deixei meu telefone para me avisarem quando chegar, mas nunca recebi a ligação”, diz Paula.

Ela explica ainda que o Tracolimo vem em diferentes dosagens, e o que mais falta é o de 5 mg. No fim do ano passado, foram três meses sem e, para compensar, a instituição estava distribuindo uma dosagem menor, de 1 mg, o que acaba afetando quem depende dela.

“Eu passei 2 anos e 4 meses na hemodiálise, 6 meses na fila de transplante no Recife. Se eu deixar de tomar a medicação, volto para a máquina”, lamenta a estudante.

Quem também enfrenta problema parecido é Otávio Cipriano da Silva Neto. Ele está desempregado e recebeu um novo rim há cerca de 8 meses.

“No mês passado, peguei só o Tracolimo, mas em uma quantidade reduzida, que dava para 15 dias. Nesse mês, não peguei mais porque não tinha. Eu tenho que voltar na Ceaf no dia 17, porque a previsão é que chegue no dia 19, que cai em um sábado. Me pediram para voltar antes, mas não especificaram um dia exato. É na sorte”, relata Neto.

Após o transplante, ele passou 4 meses no Recife e conta que conseguiu tomar os medicamentos corretamente. O problema de fornecimento surgiu depois que voltou para Maceió.

“Nesse intervalo, já são três meses, pelo menos, com dificuldade. Sem esses medicamentos, posso ter que começar a batalha pela minha vida toda novamente. Tantos anos esperando o órgão, e perder por causa disso. Não tenho condições de pegar por fora, porque esses remédios são muito caros”, diz Silva Neto.

Diante da falta do fornecimento desses remédios pelo Estado, a produtora de eventos Marília Chamusca de Oliveira, 34, precisou dar um jeito para comprar. Ela também é transplantada do rim, há 5 anos.

“Eu pegava medicamentos em São Paulo, mas lá está faltando também. Há um ano pego aqui, e a situação veio piorar agora. Nesse um ano, faltou uma ou duas vezes. Em outubro, como a Ceaf não tinha, eu comprei um dos medicamentos. Passei no cartão, dividi em 10 vezes, e tô pensando em comprar de novo, para fazer um estoque, para não perder o rim”, afirma Marília.

Ela diz ainda que diante dessa situação, o sentimento é de indignação e medo. “Conheço gente no Recife que perdeu o órgão por não ter tomado os medicamentos. Conseguimos, com muita sorte, passar no máximo uma semana sem remédio, dependemos deles 100% para viver. É absurdo tanto dinheiro entrar no SUS e faltar um medicamento essencial para a pessoa. Me sinto impotente”.

G1-Al



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