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Brasil
28/12/2018 16:00:00

Apaixonado pelo Exército após dicas para capturar Lamarca, Bolsonaro teve preparo físico de “cavalão” e foi avaliado como ambicioso em carreira militar


Apaixonado pelo Exército após dicas para capturar Lamarca, Bolsonaro teve preparo físico de “cavalão” e foi avaliado como ambicioso em carreira militar
Bolsonaro no Exército

Perto de ser empossado como Presidente da República, o que acontecerá na próxima terça-feira (1), Jair Bolsonaro será o primeiro militar – atualmente um capitão reformado – a comandar o Brasil desde João Figueiredo, presidente entre 1979 e 1985. A história do novo chefe do governo brasileiro nas Forças Armadas começou em 1973. Mas o primeiro contato de Bolsonaro com o Exército se deu com apenas 15 anos de idade, em Eldorado (SP), cidade onde viveu a partir dos 11.

De acordo com as palavras do próprio em entrevista à revista Isto É em 2000, Bolsonaro era um adolescente que usava cabelo com gumex (espécie de gel), calça boca-de-sino e sapato “cavalo de aço” quando Carlos Lamarca, um dos líderes da luta armada contra a ditadura militar, chegou à cidade de Eldorado em 1970 para montar um campo de treinamento no Vale do Ribeira. Por causa disso, o Exército também desembarcou no município buscando prendê-lo.

Aos poucos, o jovem Bolsonaro foi estreitando relações com os soldados, ajudando com dicas sobre possíveis esconderijos e caminhos pela mata para encontrar Lamarca. O agora presidente disse que andava por aquela região extraindo palmito nativo do mato e morou em uma fazenda. Após essa experiência, apaixonou-se pelo Exército brasileiro e decidiu partir para a carreira militar.

Para isso, deixou Eldorado e foi para Campinas, onde entrou na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em 1973, quando tinha 18 anos de idade. No fim daquele ano, prestou concurso e foi aprovado pela Academia Militar das Agulhas Negras, onde se formou em 1977. Por causa disso, mudou-se para o estado do Rio de Janeiro. Assim, começou a vida em solo fluminense, onde construiria as bases política e eleitoral dele no futuro.

Ainda antes de se formar, no último ano de estudos, se especializou em paraquedismo na Brigada de Infantaria Paraquedista, no Rio de Janeiro. De acordo com um relato feito em matéria da revista Época, Bolsonaro quase morreu em um salto mal sucedido. Ao perder o controle do paraquedas, esteve perto de cair no meio da Avenida das Américas, no bairro carioca da Barra da Tijuca. Atravessou a via, bateu na lateral de um prédio, em uma altura de oito metros. Com a queda, quebrou os dois braços e as duas pernas.

Resistir a um acidente desse tamanho demonstrou a força física de Bolsonaro na época, motivo de elogios de colegas. Com bom porte atlético, Jair cursou a Escola de Educação Física do Exército, formando-se como o primeiro da turma em 1982. Especialista em corridas de fundo no atletismo, tornou-se um atleta do pentatlo militar e ficou conhecido como “Cavalão”.

No ano seguinte, voltou à Brigada de Infantaria Paraquedista para se tornar mestre em saltos e serviu no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista. Como tenente, avaliava a condição física dos soldados que se inscreviam no curso de paraquedismo.

Documento secreto avaliou Bolsonaro como ambicioso e agressivo

 
Reprodução

Em maio de 2017, o jornal Folha de S.Paulo revelou um documento sigiloso do Exército cujo conteúdo era uma avaliação feita por oficiais superiores de Jair Bolsonaro na década de 1980. O agora presidente eleito foi descrito na época como uma pessoa com “excessiva ambição em realizar-se financeira e economicamente”.

Em um dos exemplos citados pelo documento para fundamentar esse perfil, é apontado que Bolsonaro “deu mostras de imaturidade ao ser atraído por empreendimento de garimpo de ouro”. O então tenente admitiu ter feito garimpo na Bahia durante as férias, sem obter lucro.

A avaliação também mostrou que Bolsonaro era considerado como um profissional que deveria estar dedicado ao seu aprimoramento militar, através do adestramento, leitura e estudos, e não aventurar-se em conseguir riquezas.

Um dos depoentes para a composição do documento, o coronel Carlos Alfredo Pellegrino, superior de Bolsonaro na época, relatou que o então tenente tinha permanentemente a intenção de liderar os oficiais subalternos, no que foi sempre repelido, tanto em razão do tratamento agressivo dispensado a seus camaradas, como pela falta de lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos.

O fim da carreira militar de Bolsonaro

 
Reprodução

Em setembro de 1986, a sequência de fatos que faria a transição das carreiras militar e pública de Bolsonaro teve início. Já como capitão, escreveu um artigo na revista Veja cobrando melhores salários a militares de patente baixa do Exército. No texto, disse que a tropa vivia “uma situação crítica no que se refere a vencimentos”, apresentou números, um ritmo incessante de trabalho que não condizia com os ganhos e uma crise instalada com o abandono de cadetes na Academia das Agulhas Negras.

Essa postura rendeu problemas a Bolsonaro, punido com prisão domiciliar de 15 dias pelo ato, acusado de “ter ferido a ética, gerando clima de inquietação no âmbito da organização militar”. A trajetória no Exército ficaria ainda mais tumultuada no ano seguinte, 1987, sendo acusado de um plano para explodir bombas em unidades militares como forma de pressão às altas patentes e ao Ministério do Exército na época pela insatisfação com os salários da categoria. Tal situação também foi relatada pela revista Veja.

Bolsonaro nunca assumiu os ataques. A acusação gerou um processo interno contra o capitão, que recorreu ao Superior Tribunal Militar (STM) e foi absolvido por oito votos a quatro. Mas a carreira no Exército acabaria mesmo assim, já que a projeção que todos esses casos deram a ele dentro do meio militar renderia uma filiação ao Partido Democrata Cristão (PDC), legenda conservadora, e uma candidatura bem-sucedida à Câmara Municipal do Rio de Janeiro em 1988.

A partir daí, o militar Bolsonaro deu espaço ao político Bolsonaro, sempre preocupado em brigar pelas causas do meio onde viveu por muitos anos.

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