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Brasil
03/12/2018 09:00:00

Laranja sacava até R$ 800 mil ao mês para filho de governadora de RR


Laranja sacava até R$ 800 mil ao mês para filho de governadora de RR
Ilustração

empresa no centro de uma operação da Polícia Federal que prendeu na última quinta (29) Guilherme Campos, filho da governadora de Roraima, Suely Campos (PP), é de propriedade formal de um assistente administrativo que ganha pouco mais de um salário mínimo.

Acusado de ser "laranja" de Guilherme Campos, João Kleber Siqueira diz ter comprado a empresa Qualigourmet, que fornece refeições para o sistema penitenciário do estado, por R$ 3,5 milhões pouco antes do início do contrato com o governo roraimense.

Segundo a investigação, Siqueira retirava mensalmente da conta da empresa valores em dinheiro que algumas vezes chegaram a cerca de R$ 800 mil. As retiradas estão documentadas em vídeo e relatórios bancários. Em seguida, ao sair do banco, ele regularmente repassava o dinheiro a Renan Bekel Pacheco, parceiro de negócios do filho da governadora e sócio oculto da empresa.

Esses repasses também foram registrados: a sociedade não declarada está explicitada em gravações de telefonemas entre Siqueira e Pacheco. Depois de receber os valores, Pacheco passava parte deles a Guilherme Campos, como as gravações sigilosas mostraram.

A Folha de S.Paulo teve acesso aos documentos, que correm em sigilo. O nome da governadora não consta entre os acusados da representação da PF aceita pela Justiça para dar início às prisões e apreensões de bens e documentos desde quinta-feira.

A investigação da Polícia Federal, conduzida pelo delegado Anderson Alves Dias, começou em 2017, mas teve como base indícios originais de 2015. Naquele ano, logo após a posse, o governo estadual fez um contrato emergencial (sem licitação) com empresa para fornecimento de refeições para as cinco prisões estaduais (quatro na capital, Boa Vista, e uma no interior). A fornecedora até aquele momento pediu o rompimento amigável do contrato alegando que os sucessivos atrasos de pagamento impediam a prestação do serviço. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) apontou que, nesse caso, deveria ter sido contratada a segunda colocada na licitação original, pelo preço oferecido então.

O governo de Suely Campos, no entanto, optou pelo contrato emergencial, firmado com uma companhia chamada M.A. Rodrigues de Barros Eireli, que tinha sido criada oito dias antes. O preço aumentou. O Ministério Público de Contas (ligado ao TCE) contestou o contrato e no ano seguinte foi realizado um pregão eletrônico, que foi vencido pela Qualigourmet. 

A investigação da PF mostra que a Qualigourmet é de fato a mesma empresa, que havia mudado de nome e sido vendida para Siqueira pouco antes do contrato. Além disso, o edital tinha cláusulas que privilegiavam a empresa, exigindo experiência anterior no fornecimento de alimentos para os presídios locais e que as concorrentes fossem proprietárias do local de produção da comida, enquanto a Qualigourmet, por ser sucessora da contratada anterior, pôde apresentar prédio público como sua cozinha, com evidente economia.

O superfaturamento estimado é de cerca de 30% do contrato de R$ 18 milhões/ano (ou R$ 1,5 milhão/mês), uma vez que os acusados faziam retiradas regulares em dinheiro em torno de R$ 500 mil. Mas em alguns meses os valores retirados chegaram a quase R$ 800 mil.

Suely Campos foi eleita em 2014 com votos transferidos pelo marido, o ex-governador Neudo Campos, que se tornou inelegível ao ser condenado no processo relativo ao chamado "Escândalo dos Gafanhotos", que revelou o desvio de milhões de dinheiro público por políticos com e sem mandato, em 2003. A ação, 15 anos atrás, foi a maior operação contra corrupção na história do estado e era considerada uma espécie de Lava Jato de Roraima. 

O sistema prisional de Roraima tem dado constantes sinais de ser controlado por organizações criminosas. Como é recorrente no estado, que é totalmente dependente das verbas de fundos federais, o governo local pediu auxílio de Brasília, que acaba de iniciar uma intervenção de fato (eufemisticamente denominada "força tarefa") nas cadeias. 

Em julho passado, a juíza Joana Sarmento de Matos, da Vara de Execução Penal da Justiça de Roraima declarou à reportagem que sua missão é "administrar o'caos dia sim, dia também" e, em agosto, apontou a falência do sistema ao dizer: "Em Roraima, a Justiça finge que manda prender e os presidiários fingem que ficam presos. Nada funciona, e quem quiser entra e sai das cadeias".

A Operação Praga do Egito levou à prisão der Neudo Campos e à inelegibilidade do ex-governador Flamarion Portela. As esposas dos dois receberam seu espólio político (Suely Campos é governadora e Ângela Portela, senadora), mas não se reelegeram na última eleição. 

De forma implícita, a Polícia Federal ressaltou a coincidência entre esquemas e personagens investigados nas duas ações separadas por 15 anos, a "Operação Praga do Egito", que investigou Neudo, e a "Escuridão", que prendeu seu filho.

O comunicado da PF à imprensa, na quinta (29), ressalta que, segundo a Bíblia (no livro do Êxodo), a escuridão foi a praga que seguiu aos ataques de gafanhotos, com que o Deus hebraico maltratou o Egito para forçar o faraó a libertar os judeus. E sugestivamente aponta para resistência dos criminosos, ao terminar dizendo que "o faraó se recusou a libertar os judeus". 

Outro lado Na última quinta, por meio de nota, o governo de Roraima informou que sempre contribuiu com as investigações e que a Secretaria de Justiça e Cidadania prestou os esclarecimentos.

A defesa de Guilherme Campos informou que as acusações não são verdadeiras e "carecem do mínimo de prova".  Com informações da Folhapress.



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