18/04/2024 06:00:32

Meio Ambiente
31/10/2018 00:00:00

Lagoa Mundaú é “sufocada” por toneladas de lixo e dejetos


Lagoa Mundaú é “sufocada” por toneladas de lixo e dejetos
Lagoa Mundaú

Via Extra Alagoas

Assistir ao pôr do sol na Lagoa Mundaú é se deslumbrar com um dos mais belos espetáculos da natureza. Mas assistir de perto a degradação desse ambiente causa revolta e descrédito com o poder público. Para saudosistas como o aposentado Antônio Vasconcelos e o ex-pescador Tenório de Lima o cenário é mais triste. Eles vivenciaram os tempos áureos da laguna, assistiram o movimento de embarcações carregadas com mercadorias nos canais navegáveis sem assoreamento de bancos de areia que atracavam no porto das lanchas no Trapiche da Barra. Pescaram e tiraram sustento da família das águas límpidas do estuário.

Embora a lagoa apresente uma beleza incomparável e teime em se manter viva, enfrenta vários problemas de poluição com despejos de dejetos que vêm do sistema de esgoto de Maceió e outras cidades ribeirinhas. Moradores pedem socorro também para os canais da Levada, do Brejo, do Passarinho (hoje canal do Mosquito) e do Paiô, que praticamente desapareceram e se transformaram em depósitos de sujeira e fedentina. 

Dos tempos áureos da navegação restam apenas as lembranças e histórias para contar. Seu Antônio relembra o caso de um pequeno navio que afundou no canal do Trapiche, próximo ao porto das lanchas. Para muitos, o episódio não passa de história de pescador com espaço para fantasmas. 

Na verdade, o nome Mundaú, que vem do tupi e significa “água de ladrão”, se encaixou bem para esta lagoa. Ao longo dos anos sua vida vem sendo roubada e aos poucos tem sido sufocada pela poluição e falta de políticas públicas. Lixo, sujeira, assoreamento, ocupação desordenada e esgoto a céu aberto completam o cenário de degradação. Com área de aproximadamente 23 quilômetros quadrados, a região possui um grande manguezal com uma variedade de moluscos, peixes e crustáceos que estão morrendo aos poucos. 

Em companhia de Antônio Vasconcelos, 79 anos, e Tenório de Lima, 73, o EXTRA percorreu trecho margeado pela lagoa. Parte do que era mangue se transformou em depósito de lixo e até desova de corpos. Tudo sob o olhar da Virgem dos Pobres, imagem que fica ao lado do Papódromo, espaço que em 1991 recebeu o papa João Paulo II.  Praticamente em toda a extensão da Avenida Senador Rui Palmeira (conhecida como Dique Estrada), que corta os bairros do Trapiche da Barra (que agrega os conjuntos Virgem dos pobres I, II, e III, as comunidades da Muvuca, Torre e  Sururu de Capote), do Vergel do Lago e Levada, o abandono é visível. A insegurança, ocupação desordenada, com barracos, pequenos comércios, estribaria, igrejas e animais circulando livremente se misturam a adultos e crianças que, sem muito o que fazer, conversam nas portas das casas. Alguns vivem da pesca de peixe e sururu, mas reclamam da escassez. 

Seu Antônio, morador do Vergel do Lago há 68 anos, não conteve a tristeza e disse que não se cansa de lutar pelo meio ambiente. Participante do MP Comunitário como mediador de conflitos, o ex-pescador lamentou que a quantidade e qualidade dos peixes vêm diminuindo, prejudicando quem depende da pesca. “Antes isso aqui era uma beleza. Hoje, só se vê poluição, o solo cada vez mais contaminado, assoreamento por toda parte, construção irregular, corte e aterro dos manguezais acontece a luz do dia e ninguém faz nada para salvar essa riqueza”, desabafou, com olhar de quem conhece de perto o problema.

Menos falante, mas com propriedade de quem alcançou o apogeu da lagoa, o ex-pescador Tenório de Lima se orgulha em dizer que tirou dela o sustendo da família, porém se mostrou triste com a realidade. “É difícil ver nossa mãe (Mundaú) morrendo aos poucos e ninguém faz nada. Fui obrigado a abandonar a pesca por falta de peixe porque meu desejo era pescar até hoje”, lamentou.

E assim, a Lagoa Mundaú tem resistido à ação do tempo e do homem. São toneladas de lixo e dejetos jogados diariamente todos os dias. Vários lixões se formam ao longo dos 7 km do Dique Estrada, via que margeia a laguna. Carcaças de animais, cascas de sururu, plásticos, móveis, entulhos e mato se misturam a ratos, moscas e baratas que convivem com os moradores. Não se sabe até quando sobreviverá.

PROMESSA DO GOVERNO 

Em julho deste ano, o prefeito Rui Palmeira (PSDB) disse que as obras de requalificação urbana da orla lagunar vão incluir a construção de uma via que irá margear a Mundaú a fim de evitar novas ocupações na região. Serão construídas quase 1.800 moradias em uma área de 50 hectares. “Para ter uma solução definitiva, vamos construir as moradias, tirar as pessoas e, quando elas estiverem em suas residências, vamos remover a favela e passar com a faixa de rolamento margeando a lagoa para ter um cinturão de defesa de novas ocupações na região”, afirmou o gestor. O EXTRA quis saber quando a promessa sairá do papel, mas até o fechamento desta edição a assessoria do prefeito Rui Palmeira não respondeu. A aposta dos moradores e de quem depende da Mundaú para sobreviver é que este dia aconteça. Até lá, tudo continua como sempre.

Moradores pedem cancelamento da taxa de esgoto

Moradores dos bairros do Vergel do Lago, Ponta Grossa e Levada, em Maceió, através do Programa MP Comunitário, encaminharam abaixo assinado ao Ministério Público Estadual pedindo cancelamento da taxa de esgoto cobrada pela Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal). Os moradores questionam a cobrança integral da taxa, já que, segundo eles, as localidades não são contempladas integralmente pelo serviço de saneamento básico, além do que o esgoto que é coletado não é devidamente tratado, sendo despejado diretamente na Lagoa Mundaú e nos canais que compõem a região. “A taxa nem é compatível com a realidade socioeconômica da população dos bairros e nem com os baixos indicadores de saneamento do município”, diz trecho do documento.



Enquete
Na Eleição de outubro, você votaria nos candidatos da situação ou da oposição?
Total de votos: 27
Notícias Agora
Google News