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Mundo
25/10/2018 14:08:00

"O mundo vive uma nova Guerra Fria"


Ilustração

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A retirada do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, na sigla em inglês) anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no último fim de semana (20/10) pode ser sinal da irrelevância atual de pactos de desarmamento nuclear firmados no fim da Guerra Fria, avalia o russo Pavel Felgenhauer, analista militar e político.

Para o especialista independente baseado em Moscou, a situação mundial atual difere totalmente do fim da Guerra Fria, em que pactos como o INF – firmado entre EUA e a ex-União Soviética para reduzir arsenais nucleares – foram criados. É por isso que esses acordos não espelham mais o quadro de uma "nova Guerra Fria" que se vive no mundo atualmente, diz.

Felgenhauer afirma ainda que a Rússia está pronta para usar mísseis desenvolvidos – mas ainda não testados com lançadores de solo – se o INF realmente acabar. 

DW: Quão séria é para a segurança global a decisão dos Estados Unidos de sair do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF)? Há uma nova corrida armamentista à espreita?

Pavel Felgenhauer: É como voltar a 1983. Naquela época, parecia que uma guerra nuclear podia começar a qualquer momento – e podia mesmo. Estamos mais ou menos de volta à estaca zero nesse assunto.

Esses tratados [o INF e outros acordos de desarmamento nuclear] surgiram no final da Guerra Fria e criaram um quadro legal para a situação que se instalou após o fim do conflito, depois que o regime comunista entrou em colapso na Rússia e depois que o Pacto de Varsóvia foi extinto.

Agora, temos uma nova Guerra Fria. Então, os tratados que acabaram com a anterior são irrelevantes, porque correspondem a uma situação mundial totalmente diferente. Isso significa que, provavelmente, era inevitável que esses acordos fossem por água abaixo.

Os Estados Unidos indicaram que considerariam renegociar o tratado se ele fosse expandido para incluir a China. É uma opção realista?

[Vladimir] Putin falou nisso publicamente em outubro de 2007, dizendo que a Rússia abandonaria o tratado se os EUA não ajudassem a torná-lo internacional, já que a Rússia e os Estados Unidos não possuem esses mísseis – mas a China, sim. Agora, o mesmo pretexto está sendo usado pelos americanos com a China.

Dos mísseis chineses, 90% podem ser agrupados na classificação do INF. Portanto, se eles aderirem ao tratado, terão de destruir 90% de seus mísseis – o que se recusaram e vão se recusar a fazer. Então, essa não é uma opção.

A Rússia tem interesse num novo acordo INF?

Num futuro imediato, os EUA não têm nada a ganhar do ponto de vista militar ao anular o INF – mas a Rússia tem muito a ganhar. Apesar de não terem sido muitos, a Rússia desenvolveu e, aparentemente, instalou mísseis de cruzeiro baseados em sistemas lançadores modificados, ainda que não tenham sido testados por lançadores em solo. Testamos [modificação de mísseis] e implementamos esse sistema, e estamos prontos para instalá-lo assim que o INF sair de circulação.

Os americanos não têm nada para implementar que seja proibido pelo tratado. No futuro, os Estados Unidos poderiam começar a desenvolver mísseis se o INF acabar, mas isso vai levar anos para se concretizar.

A Rússia já instala o mesmo tipo de míssil em fragatas, cruzeiros, corvetas e submarinos, mas se o INF acabar teremos a possibilidade de instalá-los em caminhões lançadores, e estes são bem mais baratos que uma fragata, e mais fáceis de esconder. Faz muito sentido para a Rússia abandonar o INF. Putin e generais russos vêm criticando o acordo desde 2007.

O presidente americano, Donald Trump, fez outro favor ao presidente russo, Vladimir Putin, ao assumir a culpa por denunciar o INF.



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