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Mundo
22/10/2018 19:06:00

Escassez de remédios causada por sanções faz estragos no Irã


Escassez de remédios causada por sanções faz estragos no Irã
Remédios em falta

Via Agência EFE

A escassez de remédios é patente nas farmácias e hospitais do Irã, onde conseguir o tratamento necessário para algumas doenças se tornou uma odisseia devido às dificuldades de importação provocadas pelas sanções dos Estados Unidos.

Percorrer um sem-fim de farmácias ou recorrer ao mercado negro para encontrar os remédios já é algo habitual tanto para os pacientes como para os profissionais do setor de saúde, que não escondem seu desespero diante dos problemas para tratar doenças graves, como os problemas cardíacos e o câncer.

"Nos últimos cinco ou seis meses enfrentamos a falta de remédios. Muitos pacientes vêm e nós não podemos lhes dar grande parte dos remédios receitados pelos médicos", lamentou a farmacêutica Mandana Bani Mostafa.

Mostafa, que trabalha há sete anos em uma farmácia do bairro de Darrus na capital Teerã, explicou à Agência Efe que alguns remédios não estão sendo importados e que a produção local praticamente parou pela falta de algum componente procedente do estrangeiro.

Warfarina (um anticoagulante), deferoxamina (para a insuficiência renal e o excesso de ferro) ou metilfenidato (para o transtorno por déficit de atenção com hiperatividade) são alguns dos medicamentos que desapareceram das farmácias.

Estes eram importados de Finlândia, Canadá e Suíça. A deferoxamina tem um equivalente iraniano, mas alguns pacientes sofrem de alergia, enquanto o metilfenidato só é encontrado no mercado negro e a um preço mais elevado, segundo vários farmacêuticos e médicos consultados pela Efe.

A reimposição de sanções dos EUA sobre o Irã, após a saída de Washington do acordo nuclear multilateral de 2015, fez com que muitas empresas deixassem de fazer negócios com o país, ao mesmo tempo que fomentou uma desvalorização da moeda nacional, o rial, o que prejudica as importações.

A situação não parece que vai melhorar apesar da Corte Internacional de Justiça (CIJ) ter ordenado no início deste mês que os EUA paralisassem as sanções que afetam produtos médicos e alimentares, entre outros.

O CIJ também exigiu de Washington que sejam dadas as licenças necessárias e autorizadas as transferências de fundos para que esses bens básicos possam ser exportados ao Irã.

No entanto, hoje, muitos remédios chegam às farmácias racionados. Alguns medicamentos que antes tinham oferta abundante agora só estão disponíveis para alguns poucos pacientes.

Antes, a cada paciente eram dados entre 50 e 100 comprimidos de warfarina, mas agora só podem ser oferecidos entre 10 e 20, o que não deixa outra alternativa a muitos doentes além de recorrer ao mercado negro.

Na porta de uma farmácia em Teerã, Shahrazad, uma mulher de 50 anos, se queixou à Efe que só tinham lhe dado dois comprimidos de fluconazol, um remédio para tratar a micose das unhas, em vez da caixa completa, enquanto outra lamentou que fazia dias que não encontrava colírio para seus olhos.

Nos hospitais a situação não é melhor. A variedade de medicamentos caiu entre 30% e 50% e os preços aumentaram absurdamente, segundo um anestesista de um hospital de Teerã.

O médico, que não quis revelar sua identidade, disse à Efe que até o soro e a efedrina estão escassos no centro cirúrgico e que, vez ou outra, é preciso recorrer ao mercado negro, apesar dos altos preços, para poder realizar uma operação.

Tanto este especialista como a farmacêutica Mostafa atribuíram a situação às sanções dos EUA e à corrupção interna, já que há companhias locais que estão armazenando remédios para tirar proveito no futuro com a oscilação da moeda nacional.

"As pessoas estão desesperadas. De alguns remédios para o tratamento do câncer não se consegue nem o exemplar iraniano. Outro dia um cliente veio à farmácia em busca de oxaliplatina de uma marca francesa e, apesar de ter buscado em diferentes distribuidores, não consegui achar", comentou Mostafa.

O diretor do sindicato do ramo farmacêutico no Irã, Ahmad Sheibani, denunciou recentemente que, apesar de os produtos médicos terem tradicionalmente ficado de fora da lista das sanções, nos últimos meses algumas companhias estrangeiras anunciaram que estavam deixando de vender remédios e compostos para a fabricação dos mesmos ao Irã.

Na República Islâmica, cerca de 97% dos remédios são produzidos localmente, mas o país importa a metade dos componentes para sua fabricação, segundo dados do sindicato, por isso que, a curto e médio prazo, é provável que muitos doentes continuem saindo das farmácias com as mãos vazias.



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