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Comportamento
01/10/2018 18:06:00

O que acontece com o seu cérebro quando você sofre um apagão alcoólico


O que acontece com o seu cérebro quando você sofre um apagão alcoólico
Ilustração

www.huffpostbrasil.com 

Se você alguma vez já acordou depois de uma noite de bebedeira e percebeu que quase não se lembra do que aconteceu, já sabe como pode ser assustador sofrer esse blecaute. Mas o que é ainda mais preocupante é o que acontece com o corpo e o cérebro durante esse período.

Segundo George Koob, diretor do Instituto Nacional de Abuso Alcoólico e Alcoolismo, os blecautes são "um trecho em branco na fita" da memória, por assim dizer. "Quando a pessoa chega a um teor de álcool no sangue de 0,16, mais ou menos o dobro do limite legal, ela fica vulnerável a sofrer o blecaute – embora esse limite varie", disse ele. "Num blecaute ou apagão, o álcool desliga a capacidade do cérebro de consolidar memórias."

É assustador, não? Especialistas explicam exatamente como o álcool atua em nosso sistema quando estamos bebendo muito – e como podemos identificar quando estamos chegando perto de correr o risco de sofrer um apagão.

O que acontece no cérebro quando ele chega ao estado de apagão

RICHARD THEIS / EYEEM VIA GETTY IMAGES

O ingrediente principal que provoca os sintomas relacionados ao álcool é o etanol, composto encontrado nas bebidas alcoólicas que ingerimos. Quando você toma uma a quatro doses – ou mais – em um intervalo curto de tempo, os efeitos do etanol ficam mais pronunciados. Isso se agrava se você não tiver comido muito antes.

"A absorção do etanol ocorre no sistema gastrointestinal", principalmente em partes do estômago e intestino delgado, disse Benjamin M. Kaplan, médico internista da Orlando Health Internal Medicine Faculty Practice.

"Quando o estômago está vazio, o pico de etanol no sangue é alcançado entre 30 e 90 minutos após a ingestão." Em outras palavras, quando você bebe, seu nível de etanol de sangue, que é o que ajuda a determinar o que a maioria das pessoas conhece como concentração alcoólica no sangue (CAS), vai subir por cerca de uma hora. Isso também significa que você talvez não perceba o quanto está embriagado até já ter bebido uma dose demais.

Depois de duas horas bebendo, o etanol "pode se difundir livremente pela barreira sanguínea cerebral", disse Kaplan. O álcool pode então atingir receptores no hipocampo (a parte da mente que controla funções como emoções e memória), incluindo um receptor conhecido como o receptor de GABA (ácido gama-aminobutírico). Quando os receptores de GABA são afetados pelo álcool, a transmissão de sinais no cérebro é interrompida, incluindo a de sinais que solidificam a memória, e o resultado é o apagão alcoólico, disse Koob.

Quando você está sob o efeito do blecaute alcoólico, pode dançar em cima da mesa diante de seu chefe, mas no dia seguinte não vai se lembrar de nada.George Koob, diretor do Instituto Nacional de Abuso Alcoólico e Alcoolismo

Além disso, o álcool inibe um neurotransmissor cerebral chamado glutamato, levando você a se sentir mais calmo. Beber álcool também "libera outros inibidores, como dopamina e serotonina", disse Kaplan, que são substâncias químicas que promovem essas emoções felizes.

Os receptores de GABA e de glutamato são encontrados nos centros de recompensa do cérebro, explicou Kaplan, fato que pode criar um sistema de reforço positivo. É por isso que as pessoas podem começar a se sentir muito bem quando bebem, de modo que continuam a beber, ao mesmo tempo em que estão ficando um pouco instáveis. O sistema de recompensas do cérebro também regula ações corriqueiras como andar, falar e tempo de reação.

Koob acrescentou que, com o nível de álcool no sangue subindo, você também pode ser levado a agir de maneira que destoa de seu comportamento habitual, graças às modificações químicas no cérebro.

"Quando você está sob o efeito de blecaute alcoólico, pode dançar em cima da mesa na frente de seu chefe, mas no dia seguinte não vai se recordar de nada", ele explicou. Porém, e é importante ter conhecimento disso, ele ressaltou que um blecaute alcoólico "não causa danos permanentes ao cérebro, e sim uma espécie de período de tempo em branco" durante o qual o cérebro não produz memórias.

Isso pode parecer animador, mas não quer dizer que beber até ter um apagão seja isento de riscos. Um blecaute alcoólico vem acompanhado dos mesmos problemas associados ao consumo de álcool, incluindo riscos de curto prazo como se machucar e riscos de longo prazo como probabilidade aumentada de desenvolver determinadas doenças.

Como reconhecer o seu ponto de blecaute

IZUSEK VIA GETTY IMAGES

Beber até o correr o risco de sofrer um apagão é problemático – e você pode perceber quando outra pessoa está chegando perto desse ponto de risco (ou talvez tenha sido você mesmo no passado). Com o álcool correndo livremente por seu cérebro, a pessoa que está bebendo muito pode agir de modo que não faria normalmente. Mas, segundo Kaplan, os sintomas específicos provavelmente vão variar de uma pessoa a outra.

"Nem sempre é evidente quando uma pessoa está prestes a sofrer um blecaute", ele disse. "Pode até ocorrer um intervalo entre sintomas de 'coerência' e o que a pessoa se recorda ou deixa de recordar. E partes distintas do cérebro podem reagir de modos diferentes, provocando efeitos diferentes."

Mas haverá sinais de embriaguez forte. Os sintomas comuns de uma pessoa que corre risco de sofrer um apagão alcoólico podem ser que ela fica descoordenada, vomita ou precisa de ajuda para voltar para casa.

"Também é comum a fala ficar embaralhada, e as pessoas prestam atenção a isso – é a razão por que a polícia usa isso para testar o nível de embriaguez das pessoas", disse Koob. "Outro sintoma é a coordenação motora. A pessoa pode ficar esbarrando nas coisas. É difícil a pessoa andar numa linha reta quando está tão bêbada assim."

Koob disse que normalmente também há um ponto a partir do qual a embriaguez forte se evidencia no comportamento da pessoa.

"Um marcador que eu aplico são as mudanças repentinas e dramáticas de emotividade", ele explicou. "Em um momento seu amigo pode estar elogiando você e dizendo o quanto gosta de você. No instante seguinte é a emoção oposta – ele está com raiva de você."

Um marcador que eu aplico são as mudanças repentinas e dramáticas de emotividade. Em um momento seu amigo pode estar elogiando você e dizendo o quanto gosta de você. No instante seguinte é a emoção oposta – ele está com raiva de você.Koob

Nesse caso, segundo Kaplan, os riscos de curto prazo variam desde "disfunção de eletrólitos e sistêmica até traumatismo corporal devido a quedas. Todos já ouvimos casos de pessoas embriagadas que caem de uma escala, sofrem traumatismo craniano e cerebral, possivelmente a morte." Se a concentração alcoólica no sangue de uma pessoa se aproxima de 0,3, ela pode entrar em coma, ou o resultado pode ser fatal.

Koob destacou que, com relação ao consumo de álcool, a chave é a moderação. Se você quiser descobrir como o álcool afeta você pessoalmente, com base em sua altura, peso e número de doses de álcool que consome, há calculadoras que podem estimar esses fatores e lhe dar mais informações. Mas, em última análise, beber até o ponto de sofrer um blecaute alcoólico – especialmente quando isso é feito repetidas vezes – sempre é um problema para a saúde de longo prazo.

"Isso cria as condições para o câncer, problemas cardíacos, problemas hepáticos, até mesmo déficits cerebrais permanentes", disse Koob. "Se as pessoas querem beber, precisam aprender a conhecer seus próprios limites."

*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês.



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