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Meio Ambiente
26/09/2018 14:06:00

Linguagem secreta faz com que árvores criem ecossistemas equilibrados


Linguagem secreta faz com que árvores criem ecossistemas equilibrados
Ilustração

Agência EFE

Uma árvore sozinha não consegue fazer uma floresta inteira. No entanto, várias árvores, juntas, através de uma linguagem secreta, conseguem criar ecossistemas que amortecem o calor e o frio extremo, armazenam água e produzem ar úmido.

A resposta para como conseguem fazer isso está em suas raízes, onde formam uma super estrutura similar à de um formigueiro, através da qual se comunicam sobre diversos perigos, como a falta de água e de nutrientes e até sobre a presença de um incêndio.

De acordo com o presidente da Fundação Mexicana da Árvore, Teobaldo Eguiluz, a sociedade das árvores é muito parecida a dos seres humanos, pois nela cada membro tem a sua importância para a comunidade, a própria função e vale a pena mantê-lo com vida pelo maior tempo possível. As árvores, por exemplo, se protegem e proporcionam nutrientes para as mais doentes, até que melhorem, mesmo mecanismo usado pelos exemplares mais jovens.

"As árvores são como uma casa, elas inclusive se comunicam com seus filhos e com parentes através das raízes. Podem alimentar os filhos pelas raízes quando eles são muito pequenos e não alcançam a luz e, portanto, não podem fazer a fotossíntese sozinhos", detalhou o geneticista florestal à Agência Efe, que ressaltou que elas também ajudam as árvores mais velhas que não têm força de para conseguir o próprio sustento.

Além disso, a árvore convive com "uma microfauna" composta por fungos, bactérias e vírus "que está interconectada à ela".

Nesta linha, o gerente da Comissão Nacional Florestal (Conafor), Gustavo López Mendoza, disse à Efe que toda esta comunicação é pelo fato de as raízes das árvores viverem em simbiose com fungos micorrízicos.

"A árvore utiliza a energia solar para gerar carboidratos e açúcares através da clorofila, que é uma substância que elas sintetizam. Elas não a utilizam, produzem para seus simbiontes parceiros que vivem debaixo da terra, os fungos, já que eles não estão expostos à luz e não podem fazer a fotossíntese", explicou Mendoza.

Em troca, segundo ele, "os fungos, através das raízes fornecem os minerais do solo que são indispensáveis para que a árvore forme madeira, ou seja, carbono". Caso tudo corra bem, as micorrizas, ectomicorrizas e ectendomicorrizas proporcionarão às árvores todos os elementos químicos que a planta precisa para crescer: nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, boro e cobre.

Conforme o professor pesquisador da Divisão de Ciências Florestais na Universidade Autônoma de Chapingo, José Armando Gil, além de decompor matéria orgânica, os fungos se desenvolvem mediante uma rede de filamentos ultra finos chamados hifas. Elas são muito longas e um grama de solo chega a ter 100 metros de hifas.

No entanto, quando a floresta tem algum tipo de deficiência, um fungo parasita, conhecido como armillaria ou fungo de mel, se desenvolve. Ele é responsável pela "podridão branca", que ataca as raízes das árvores nas florestas e se distingue das micorrizas positivas por sua natureza prejudicial.

Em 2000, o Armillaria solidipes matou no Oregon, nos Estados Unidos, 900 hectares de árvores. As condições de extrema umidade geraram muita sombra de forma contínua por muitos anos e isso terminou assassinando toda a floresta. As hifas foram as encarregadas de comunicar às árvores que um fungo negativo estava presente.

"Quando acontece um incêndio ou a temperatura está anormal, a informação de que algo não está bem no ecossistema é enviada e chega muito rápido através das hifas e, algumas vezes, também através de receptores químicos", acrescentou Gil.

A comunicação entre as árvores não acontece apenas no solo, e pode também ser feita pelo ar, de acordo com Eguiluz. Segundo ele, isso acontece "principalmente quando há incêndios, pragas, tempestades ou danos ambientais extremos".

Então, as árvores se comunicam, soltando fenóis terpenos, um composto químico liberado no ar e percebido através dos estomas das folhas. As árvores absorvem, reconhecem e detectam os sinais enviados. Estes sinais são reações termodinâmicas e químicas que elas utilizam para se comunicar.

"Não devemos esquecer que as árvores usam todas as formas possíveis de energia que nós não podemos usar como seres humanos", concluiu Eguiluz.

Martha Mejía.



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