Uma história que iniciou com requintes de esperança acabou tornando-se um pesadelo para uma equipe do Centro Médico Acadêmico, na Holanda. Em artigo divulgado este ano, os médicos da instituição relataram o caso de um homem de 53 anos, morto em 2007 após sofrer um derrame, que teve rins, pulmões, fígado e coração doados para cinco receptores compatíveis. No entanto, apesar do gesto ter sido celebrado à ocasião, todos os pacientes adquiriram câncer — a situação não terminou bem para a maioria.
Antes de submeter cada receptor ao seu respectivo transplante, a saúde do doador foi extensivamente checada: tanto exames físicos como laboratoriais não indicaram qualquer presença de tumores malignos. No entanto, um ano e cinco meses após receber novos pulmões, uma das receptoras — uma mulher de 42 anos — apresentou tumores no tecido epitelial e viu o câncer se espalhar pelo organismo. Ela faleceu em 2009 e suas células indicaram que a doença decorreu de um câncer de mama derivado do doador. O caso foi o primeiro registrado devido a uma infecção por meio de transplante.
A morte da paciente acionou um alerta nos especialistas, que procuraram a receptora do rim esquerdo, uma senhora de 62 anos. A princípio nada foi encontrado e não havia possibilidade de remover o órgão transplantado. Cinco anos depois, no entanto, novos testes revelaram que um câncer transmitido pelo doador havia se espalhado por rins, fígado, ossos e em outros lugares — ela faleceu dois meses após a descoberta.
A receptora do fígado, de 59 anos, só detectou o seu tumor quatro ano após a cirurgia. Embora tenha tratado da doença por três anos, também veio a óbito. Já homem que recebeu o coração morreu seis meses depois do transplante, embora a causa não tenha qualquer ligação com tumores recebidos.
Apenas um dos cinco transplantados sobreviveu: um homem de 32 anos que recebeu o rim direito. No entanto, ele também apresentou células cancerígenas no órgão e precisou remover o órgão em 2011. Submetido a tratamentos, conseguiu se recuperar.
A situação ainda permanece um mistério para os médicos, que não descobriram como foi possível que tal doença estivesse ocultada dos diversos exames realizados. A hipótese é que drogas imunossupressoras, que ajudam na adaptação do novo órgão, podem atrasado o aparecimento de vestígios de câncer.