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Comportamento
20/09/2018 18:30:00

Autoestima incompleta: 54% dos brasileiros que perderam dentes afirmam que sorrir em público é pior


Autoestima incompleta: 54% dos brasileiros que perderam dentes afirmam que sorrir em público é pior
Ilustração

No Brasil, 39 milhões de pessoas sofrem com a perda total ou parcial de dentes e utilizam próteses dentárias. Desses, 16 milhões não possuem nenhum dente sequer. O número é agravado com o envelhecimento da população: mais de 41% das pessoas acima de 60 anos já perderam todos os dentes.

Mas engana-se quem pensa que o problema da perda dentária é uma questão apenas de idosos. De acordo com dados do IBGE, 1 em cada 5 brasileiros até 25 anos usa prótese dentária.

Perder os dentes é um processo traumático para essas pessoas mais jovens. O silêncio e o embaraço sobre o problema podem levar a uma condição de vida em que a informação é limitada, bem como o acesso a tratamentos profissionais de saúde qualificados.

Em busca de detalhar qual o impacto da perda de dentes para as pessoas em sua intimidade e socialização, a pesquisa Percepções latinoamericanas sobre perda de dentes e autoconfiança, realizada por Corega, foi lançada em evento em São Paulo nesta quinta-feira (16).

"Eu perdi os meus dentes quando eu tinha 18 anos. Morava em uma cidade que não tinha tratamento de água adequado e nem acesso ao dentista. Não fui só eu; meus pais e meus irmãos também não tinham dentes. E é horrível. Eu ficava admirando as pessoas que sorriam normalmente. Eu mal abria a boca, quanto mais sorrir", compartilhou a aposentada Margarida Maria Marzoch, de 79 anos, em depoimento ao público no evento.

De acordo com a odontogeriatra Tânia Lacerda, dona Margarida, infelizmente, não é um caso isolado. A dentista explica que, no Brasil, a falta de acesso aos cuidados básicos da saúde bucal ainda é um problema do presente.

"O Brasil precisa enfrentar isso e o principal vilão disso tudo é a desinformação. A perda dos dentes se dá por traumas, por cárie ou por doenças periodontais. Essas doenças são silenciosas, e as pessoas não têm a cultura de procurar o dentista em sua rotina. Quando você recebe o paciente, a situação já está grave", explicou a dentista.

 

REINALDO CANATO

O impacto da perda dos dentes na autoestima

A pesquisa foi realizada com mais de 600 pessoas entre 40 e 75 anos em 4 países - Brasil, Colômbia, México e Argentina. Os dados compartilhados no evento demonstram que falar de saúde bucal muitas vezes é um tabu. Isso porque o sorriso saudável vai muito além de uma mera vaidade, ele afeta como as pessoas constroem as suas relações interpessoais e se colocam no mundo.

Para 52% dos entrevistados, a perda dos dentes tornou o seu rosto muito pior; 54% deles consideram que rir em público se tornou mais difícil e mais de 46% das pessoas ouvidas disseram que se sentiram menos atraentes. Ou seja, o bem-estar das pessoas fica comprometido.

"A gente precisa prestar atenção ao nosso corpo. Mas não é comum a gente olhar para nossos dentes. E nesse contexto temos um recorte de classe também. Porque tem muita gente que sofre com a perda dentária mas não tem nem coragem de falar sobre isso. Eu realmente fiquei muito alarmada com os números. Para mim, já havíamos superado essa situação no Brasil", ressaltou a jornalista Astrid Fontenelle, que participou do debate.

Para Fontenelle, a principal medida para combater os preconceito é falar abertamente sobre o tema e disponibilizar informações. "Vivemos num País com 13 milhões de desempregados. Fico pensando, se já é difícil arranjar emprego com a sua saúde plena, imagine se o seu sorriso, que é o seu cartão de visitas, não estiver bem, como você vai se colocar? É importante, sim. Em tempos de tanta vaidade exagerada, é preciso se importar com o que importa."

Sorriso saudável não é vaidade:

  • 42% dos brasileiros concordam totalmente ou em parte com a afirmação de que a perda de dentes não lhes permite viver a vida ao máximo;
  • 32% concordam que a perda de dentes impede de ter um estilo de vida saudável e ativo;
  • 52% consideram que a perda de dentes deixou a aparência do seu rosto pior ou muito pior;
  • 54% consideram que sorrir ou gargalhar em público ficou pior ou muito pior;
  • 43% dizem que ficou pior ou muito pior paquerar ou namorar;
  • 23% dizem que a perda de dentes afastou do marido/ esposa;
  • 38% consideram que ficou pior ou muito pior ir a uma entrevista de emprego;
  • Em relação a se sentirem atraentes, 46% dizem que ficou pior ou muito pior;
  • 34% acham que a confiança em si mesmo ficou pior ou muito pior;
  • 71% dizem que sua mastigação ficou pior ou muito pior;
  • 38% dizem que ficou pior ou muito pior ir a festas e eventos.
    Dados da pesquisa encomendada por Corega: "Percepções latinoamericanas sobre perda de dentes e autoconfiança", Edelman Insights, Junho, 2018.

A importância do acesso a prótese dentária

Moacir Schul de Carvalho tem 77 anos. Aos 14 anos, ele já usava prótese dentária.

"Me lembro de ter ido a uma feira no Ceará e, em uma das bancas, ver um monte de dentaduras disponíveis. Como funcionava: você ia, escolhia uma, o homem da banca te dava uma massa que você colocava na boca e depois de cinco minutos a prótese fixava. Ai você ia embora, assim, sem nenhuma orientação", compartilhou Moacir durante o evento.

A trajetória do aposentado para cuidar da saúde bucal lhe rendeu algumas cirurgias, diversas próteses e a retirada de sua dentição completa. Aos 18 anos ele teve uma infecção na raiz dos dentes que o obrigou a passar por um processo cirúrgico: "Fique vários dias sem nenhum dente na boca", disse.

Depois disso, Moacir usou uma prótese provisória por mais de 15 anos. Ele conta que o aparelho machucava a boca, atrapalhava a mastigação e era inapropriado para a fala.

"Eu sentia muita dor, mas não voltava no dentista. Não tinha tempo, porque trabalhava de 10 a 12 horas por dia. Até que eu tive uma crise de dor de cabeça tão forte que até a água do chuveiro que molhava a minha cabeça incomodava. Quando procurei o médico, ele me disse que era por conta da prótese inapropriada."

Atualmente, Moacir usa uma prótese feita sob medida para o seu rosto: "Mudou minha aparência, até minha expressão é mais feliz. E eu aprendi com o tempo que a gente precisa cuidar da gente", reflete.

De acordo com especialistas, o ideal é que sejam feitas duas visitas ao dentista por ano. A ida ao consultório auxilia na higienização e na prevenção de doenças. Ainda, o diagnóstico precoce de possíveis doenças permite que o paciente faça tratamentos mais simples e menos invasivos.



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