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Saúde
14/09/2018 14:30:00

Número de casos da câncer seguem aumentando em função do envelhecimento


Número de casos da câncer seguem aumentando em função do envelhecimento
Ilustração

Com o rápido crescimento e envelhecimento da população, a incidência e mortalidade por câncer aumenta no mundo, com 18,1 milhões de novos casos estimados e 9,6 milhões de óbitos associados em 2018. Um relatório divulgado ontem pela Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a carga global da doença — conceito que engloba o número de anos perdidos precocemente e o número de anos que se passa debilitado devido à enfermidade — mostra que, em 185 países, o impacto está em alta. Há quatro anos, data do estudo anterior, esses números eram menores: 14,1 milhões de casos e 8,2 milhões de mortes.

A análise, feita a partir do banco de dados da Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (Iarc/OMS), indica que um em cada cinco homens e uma em cada seis mulheres vão desenvolver um tumor oncológico em algum momento da vida. Além disso, um em cada oito homens e uma em cada 11 mulheres morrerão por essa causa em 2018. Em todo o mundo, o número de pessoas que estará viva cinco anos depois do diagnóstico — estatística chamada prevalência em cinco anos — é estimado em 43,8 milhões.


Dos 32 tipos de câncer analisados, o de pulmão é o mais comum (11,6% da incidência total), seguido de perto pelo câncer de mama feminino (também 11,6%). Em terceiro lugar, está o colorretal (10,2% de todos os novos casos diagnosticados); em quarto, o de próstata (7,1%); e, em quinto, o de estômago (5,7%). Os tumores pulmonares também são a principal causa de morte pela doença: 18,4% de todos os óbitos por câncer em 2018. “O câncer mais frequentemente diagnosticado e a principal causa de morte por câncer, porém, variam substancialmente entre os países e dentro de cada país, dependendo do grau de desenvolvimento econômico e dos fatores sociais e de estilo de vida associados”, destaca o estudo, publicado no CA: A Cancer Journal for Clinicians.

O autor sênior do artigo, Freddie Bray, que preside a Sessão de Vigilância sobre Câncer da Iarc, afirma que as mudanças demográficas são um importante fator por trás disso. “A incidência e a mortalidade por câncer estão aumentando em todo o mundo. As razões são complexas, mas refletem tanto o envelhecimento quanto o crescimento populacional, assim como as mudanças na prevalência e distribuição dos principais fatores de risco para o câncer, muitos dos quais estão associados ao desenvolvimento socioeconômico.”

A influência do envelhecimento é clara quando se avalia a distribuição regional da doença. Embora abrigue apenas 9% da população mundial, a Europa, que passa por um processo de baixa natalidade e alta longevidade, concentra 23,4% dos casos globais. Nas Américas, que começam a acompanhar esse padrão demográfico, estão 13,3% dos habitantes do planeta, e 21% dos novos diagnósticos.

Bray destaca que, em vários países, a doença lidera o ranking dos óbitos em parte devido ao declínio nas taxas de mortalidade por males coronarianos e acidente vascular cerebral (AVC). Ele chama atenção para o fato de que esse é um fenômeno observado na maioria das nações com índice de desenvolvimento humano (IDH) muito alto ou alto, como Estados Unidos, Canadá, Austrália, membros da União Europeia, Brasil e Argentina. Já em regiões mais pobres, onde a longevidade é mais baixa e as doenças infecciosas ainda são responsáveis pela maior parte dos óbitos, como na África Subsaariana e em países do sudeste asiático, o câncer está entre a 3ª e a 10ª causa de mortalidade. O autor sênior do artigo também ressalta que, nessas localidades, nem sempre há registros estatísticos de alta qualidade, o que também impacta nas estimativas.

Maus hábitos 

Essa, porém, é apenas parte das explicações. O relatório destaca a influência dos hábitos no aumento da incidência. “Nos países de renda alta, de um terço a dois quintos dos novos casos poderiam ser evitados, eliminando ou reduzindo a exposição a fatores de risco ambientais e de estilo de vida conhecidos”, diz. Em todo o mundo, o câncer de pulmão, que tem prognóstico ruim, mata 1,8 milhão de pessoas. Esse é um tumor altamente associado ao tabagismo.

Já o câncer de mama, que tende a ser diagnosticado precocemente, tem taxa de mortalidade menor (está em quinto lugar no ranking), mas é o mais incidente entre mulheres (24,2%) e, além dos fatores genéticos, tem relação com obesidade e consumo de álcool, ressalta o artigo. “Esses novos quadros destacam o quanto temos de fazer para nos adereçar ao aumento alarmante na carga global do câncer e que a prevenção tem um papel a desempenhar”, disse, em nota, Cristopher Wild, diretor da Iarc. “Prevenção eficiente e políticas de detecção precoce devem ser implementadas urgentemente para complementar os tratamentos, com objetivo de controlar essa doença devastadora pelo mundo.”

"Prevenção eficiente e políticas de detecção precoce devem ser implementadas urgentemente para complementar os tratamentos, com objetivo de controlar essa doença devastadora pelo mundo”

Cristopher Wild, diretor da Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer

Palavra de especialista

Recursos mal utilizados

“A tendência de aumento no número de casos é algo que já se percebe mesmo no cotidiano profissional. São causas multifatoriais e muitas delas estão associadas, além do envelhecimento populacional, ao próprio processo de urbanização. Nós saímos de uma população rural para nos concentrar no meio urbano. Então, há um número muito grande de pessoas vivendo em um meio onde há diversas substâncias carcinogênicas. O cigarro é um fator ambiental importante e qualquer política de combate ao tabagismo vai representar diminuição nos casos. Outro fator ambiental é a mudança na dieta, a modificação da comida de fogão para a mais industrializada, algo imposto pela modernidade. A perversidade nisso é que os países em desenvolvimento concentram os fatores ligados ao desenvolvimento, como a industrialização e a urbanização, mas sem ter superado problemas como falta de cobertura da vacina contra HPV, falta de exames preventivos, falta de acesso ao tratamento... Nos países em desenvolvimento, não se tem nem tratamento preventivo nem curativo. É preciso pensar, em termos de política de saúde, que se está fazendo um investimento grande demais no tratamento das doenças em fase avançada, em sacrifício das políticas de diagnóstico precoce. Com isso, chega-se tarde demais e o tratamento já não é tão eficaz. É preciso saber alocar os recursos nos dois lados, repartir os recursos com responsabilidade.”

Roberto Gil, diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc)



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