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Saúde
06/09/2018 11:00:00

Como saber se você tem doença celíaca ou intolerância ao glúten


Como saber se você tem doença celíaca ou intolerância ao glúten
Ilustração

Para muitas pessoas, eliminar o glúten da alimentação não é um simples modismo para ajudar com a perda de peso. É uma necessidade imposta por condições de saúde como doença celíaca ou intolerância ao glúten (algo que frequentemente é descrito como sensibilidade não celíaca ao glúten ou senbilidade não celíaca ao trigo).

Mas como saber qual condição você talvez sofra? Qualquer pessoa que enfrente problemas digestivos como inchaço, cólicas, dor de estômago e diarreia depois de comer glúten – ou mesmo outros sintomas como depressão, fadiga e confusão mental – pode ter ou doença celíaca ou intolerância ao glúten. E pode ser difícil diferenciar as duas coisas, segundo médicos.

Isto dito, as duas condições estão longe de ser a mesma coisa. A seguir, especialistas decompõem as diferenças entre sensibilidade ao glúten e doença celíaca, os sinais de que você tem uma coisa ou outra, e conselhos para enfrentar os dois problemas.

A linha tênue que distingue sensibilidade ao glúten de doença celíaca

A doença celíaca afeta 1% dos americanos e se desenvolve quando pessoas geneticamente predispostas a ela são expostas ao glúten. É uma doença autoimune em que o sistema imunológico do organismo equivocamente ataca o intestino delgado, inibindo sua capacidade de absorver os nutrientes adequadamente e produzindo uma inflamação.

"Essa inflamação no intestino delgado pode ter consequências para a saúde do paciente, porque pode impactar sua capacidade de absorver os alimentos, causando desnutrição e perda de peso", disse a gastroenterologista Rabia De Latour, professora assistente de medicina na NYU Langone Health.

Alimentos que contêm glúten podem levar pessoas com doença celíaca a sentir sintomas gastrointestinais incômodos, como inchaço, diarreia, perda de peso e prisão de ventre, ao lado de outros problemas como deficiências de vitaminas e minerais, deficiência de ferro, anemia, dor nas articulações, osteoporose e outros.

Já a sensibilidade não celíaca ao glúten não é uma doença autoimune e não envolve a inflamação intestinal. As pessoas que vivem com essa condição "geralmente não apresentam as complicações mais graves da doença celíaca, como desnutrição e perda de peso, porque seu intestino delgado não está inflamado", explicou De Latour.

A sensibilidade ao glúten é menos conhecida em termos de como ela se manifesta, quanto tempo dura, como pode ser diagnosticada e quais são seus riscos e complicações no longo prazo.

"O mecanismo da doença celíaca é bem compreendido, embora estejamos aprendendo mais a cada ano que passa. Mas a sensibilidade não celíaca ao glúten é algo que se conhece há menos tempo", disse a especialista em medicina integrativa e nutricionista Amy Burkhart, de Napa, Califórnia.

O mecanismo da doença celíaca é bem compreendido, embora estejamos aprendendo mais a cada ano que passa. Mas a sensibilidade não celíaca ao glúten é algo que se conhece há menos tempo.Amy Burkhart, especialista em medicina integrativa e nutricionista

Ela acrescentou que a doença celíaca é vitalícia e pode ser hereditária, mas que sabe-se menos sobre a sensibilidade ao glúten. "Não há dúvida de que existem casos de sensibilidade temporária ao glúten, em que a pessoa tem reações ao glúten e depois, seja por que razão, a sensibilidade desaparece", ela disse.

E as duas condições podem se manifestar de várias maneiras. Assim, não apenas os sinais e sintomas variam de pessoa a pessoa como podem ser muito mais graves em algumas pessoas que em outras.

Diagnóstico

A diferença mais marcante entre a sensibilidade ao glúten e a doença celíaca é que a doença celíaca pode ser diagnosticada. Quando um médico quer determinar qual é o problema de um paciente que está tendo dificuldade em tolerar glúten, é fácil determinar com exames se o paciente apresenta doença celíaca.

"Existe um exame de sangue simples para averiguar se há doença celíaca. O exame procura anticorpos específicos", disse o gastroenterologista Guy Weiss, líder do Programa de Doença Celíaca da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

"Em pessoas com alto grau de suspeita da doença, realizamos uma endoscopia e biópsias do intestino delgado para confirmar o diagnóstico", ele prosseguiu. Essencialmente, isso significa que, se há a suspeita de que você tem doença celíaca, o médico vai inserir um tubo longo e fino por sua boca, indo até seu intestino delgado, para olhar e colher amostras. É uma maneira de checar e confirmar a presença de inflamação ativa, que é típica da doença celíaca.

É um pouco mais difícil diagnosticar sensibilidade não celíaca ao glúten. Segundo De Latour, não existe um exame definitivo que determine se você tem essa condição. O médico precisará excluir outras doenças, como doença celíaca e alergia ao trigo, antes de fazer a determinação.

Essa ausência de um exame definitivo leva a altos índices de autodiagnósticos, frequentemente incorretos, segundo Weiss.

"Os sintomas podem coincidir com os vistos em outras condições, como o sobrecrescimento bacteriano do intestino delgado, síndrome do cólon irritável e disfunção do assoalho pélvico, para citar apenas alguns", ele disse.

Os sintomas podem coincidir com os vistos em outras condições, como o sobrecrescimento bacteriano do intestino delgado, síndrome do cólon irritável e disfunção do assoalho pélvico, para citar apenas alguns.Guy Weiss, gastroenterologista e líder do Programa de Doença Celíaca da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

Segundo Burkhart, sem um exame que defina o diagnóstico é difícil determinar até que ponto a sensibilidade não celíaca ao glúten é comum, mas acredita-se que ela seja mais comum que a doença celíaca. Weiss disse que até 6% da população teria a condição, segundo estimativas, mas que não se conhece o número exato.

Os exames para determinar a presença da doença celíaca são mais simples, mas há uma condição importante para que possam funcionar: a pessoa precisa estar consumindo glúten quando é examinada. Se ela estiver fazendo uma alimentação sem glúten, o exame de sangue pode dar falso negativo e a inflamação intestinal pode diminuir, levando os médicos a pensar que o paciente tem sensibilidade não celíaca ao glúten, quando na realidade tem a doença celíaca.

"Se o paciente com doença celíaca se abstiver de qualquer alimento glúten por muito tempo, seus anticorpos podem ficar negativos", explicou De Latour. "E, quando estamos tentando distinguir entre os dois problemas, é a presença dos anticorpos que realmente permite traçar a distinção."

Tratamento

Podemos afirmar que determinar qual é a condição que você sofre é uma das partes mais complicadas dos problemas envolvendo glúten. Mas existe uma boa notícia: uma vez feito o diagnóstico, as duas doenças geralmente podem ser administradas com uma alimentação sem glúten.

O glúten é encontrado em grãos como o trigo, cevada e centeio. Para evitá-lo, será preciso deixar de consumir pães, massas, pratos feitos com trigo e alimentos processados que contenham esses grãos. A quantidade de glúten que a pessoa consegue tolerar varia de pessoa a pessoa, mas a maioria dos médicos recomenda que os pacientes com uma ou outra condição evitem o glúten por completo, como medida de segurança.

O tratamento da sensibilidade não celíaca ao glúten pode ser um pouco diferente, dependendo das razões da sensibilidade. Em alguns casos pode ser recomendada uma dieta sem trigo, em lugar de sem glúten. Isso é porque os problemas de algumas pessoas vêm de uma reação a um carboidrato chamado frutano, presente no trigo, e não ao glúten (basicamente, proteínas encontradas no trigo e outros grãos).

Para esses pacientes os médicos recomendam uma dieta pobre em FODMAPs, ou seja, que limita o consumo de carboidratos fermentáveis específicos como o alho, cebola e manga. Esse tipo de dieta ajudaria a reduzir inchaço, dores abdominais e outros sintomas. Obviamente você deve seguir as recomendações de seu médico.

Será que você deve evitar consumir glúten se não tiver sensibilidade a ele? Provavelmente não é boa ideia. Especialistas destacam que cortar o glúten desnecessariamente de sua dieta pode reduzir a qualidade geral de sua alimentação e ter efeitos negativos. Não é necessariamente uma solução para quem quer perder peso.

"Esse equívoco é muito comum. Estudos recentes mostram, na realidade, que limitar o consumo de glúten sem a recomendação correta pode estar ligado ao ganho de peso, diabetes e perda de densidade óssea", disse Weiss. "Sem falar que essas dietas sem glúten são caras, restritivas e nem sempre fáceis de seguir."

Para qualquer pessoa que sofra de problemas intestinais ou outros sintomas gastrointestinais inexplicados, sempre é boa ideia procurar um médico para averiguar o que está acontecendo. A vida é muito melhor quando podemos comer sem dor.

*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês.



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