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Geral
26/08/2018 08:34:00

Mulheres usam táticas de defesa pessoal para se proteger de agressões e assédio

Em 2018, foram mais de 2.800 casos de violência doméstica e 75 estupros em AL


Mulheres usam táticas de defesa pessoal para se proteger de agressões e assédio
Ilustração

O vídeo em que uma jovem reage sozinha a um assédio sofrido em um ônibus lotado de passageiros deixou alagoanos revoltados no início do mês. 

Poucos dias depois, outro caso de violência contra mulher repercutiu no estado: Valdilene da Silva dos Santos, de 47 anos, morreu no Hospital Geral do Estado (HGE), cindo dias após ser espancada pelo marido dentro de casa.    

De acordo com Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP/AL), mais de 2.800 casos de violência doméstica foram registrados em Alagoas este ano, além de 75 registros de estupros contra mulheres adultas, também em 2018.   

Aliado aos números, casos como os da última semana só acentuam a omissão da sociedade e a sensação de que a mulher está sozinha, conforme acredita a socióloga Belmira Magalhães.   

E é o sentimento de perigo constante que tem levado mulheres a tentar diminuir ao máximo o dano de possíveis agressões, abusos e assédios. Como, por exemplo, aprendendo a arte marcial chinesa Wing Chun, desenvolvida para que qualquer pessoa possa se defender ou desvencilhar de agressores maiores e mais fortes.    

Além de reduzir a possibilidade de se tornar uma vítima, a servidora púbica, Elineide Valença, viu na defesa pessoal uma chance de reparar um estigma passado pelos pais na adolescência: a de que arte marcial "não é coisa para menina".  "A filosofia Wing Chun ajudou a me valorizar, entender que não preciso aceitar tudo. Isso faz você ficar atento ao perigo", avalia. 

 

Elineide já precisou usar técnicas em situação de perigo na 'vida real'

FOTO: RICARDO LÊDO

Elineide já precisou utilizar, na "vida real", uma das técnicas que tem treinado arduamente nos últimos seis anos. Ela foi agarrada por um homem em show, mas conseguiu se desvencilhar utilizando o que aprendeu.  

 

"Ele veio por trás e colocou os braços sobre mim. Eu já estava alerta, pois percebi que ele havia incomodado outras mulheres e dei um uma cotovelada .Ninguém tinha feito nada até então. E elas vieram me agradecer depois", contou.    

A vontade do professor de Wing Chun, da Academia de Defesa Pessoal Maceió , Elder Lima, é que mais mulheres minimizem a chance de passar por violência usando artes marciais. "É usar força que você tem aliada a técnica. Porém, não é só físico, revólver e faca continuam matando. Trabalhamos valorização e percepção do perigo", explicou.  

Ensinamentos da arte chinesa também mudaram a visão de outras alunas da academia. É o caso da arquiteta, Louise Cerqueira. Ela diz que antes se imaginava paralisada em momento de violência.  

"Eu naturalizava violência. Achava que beijos forçados e passadas de mão não eram agressões. Mudei meu olhar sobre isso por causa da filosofia, além perceber que não preciso ter porte físico para me defender. Eu sou capaz", afirmou Louise. 

O assédio do ônibus fez o Centro de Defesa dos Direitos da Mulher (CDDM), uma organização voltada para assistência judicial e psicológica de mulheres, adiantar os planos de oferecer defesa pessoal e oficina de spray de pimenta caseiro.  

A organização não governamental (ONG), localizada no bairro do Santos Dumont, passou a ofertar os cursos gratuitamente todas às quartas-feiras pela manhã.   

"Estávamos considerando ofertar as aulas há um tempo. No entanto, os últimos acontecimentos nos deixaram tão indignados que começamos a ofertar na semana seguinte", contou a coordenadora do Centro de Defesa dos Direitos da Mulher, Paula Lopes.   

Medidas paliativas   

Embora o Projeto de Lei 113/2018, que aprova comercialização do spray de pimenta para proteção pessoal no Brasil, ainda transite pelo Senado Federal, as mulheres têm depositado esperança de defesa em soluções caseiras parecidas, sem eficácia comprovada.  

 

Primeira aula de defesa pessoal ofertada pelo CDDM

FOTO: REPRODUÇÃO

Paula Lopes passou por diversas situações em que pensou em utilizar o frasco cor de rosa que carrega dentro da bolsa. Ela relatou que chegou a presenciar um homem se masturbando enquanto caminhava por uma praça no bairro do Farol.   

 

"Não me sinto segura, mas penso que de alguma forma vou conseguir fugir daquela situação. Nós, mulheres, já nascemos com mais medos para se preocupar que homens, como estupro e violência doméstica. Por isso, precisamos nós defender", afirma.  

 

Para a comandante da Patrulha Maria da Penha, capitã Danielle Assunção, todos meios que provoquem proteção a mulher são benéficos. "No entanto, é preciso ter cautela. Não adianta estimular mulheres a reagir a qualquer tipo de situação sem qualificação, arriscando a vida", avalia.  

 

 

ONG está ofertando oficinas de como preparar a solução caseira

FOTO: CORTESIA À GAZETAWEB

O projeto Patrulha Maria da Penha tem como objetivo fiscalizar o cumprimento das medidas protetivas concedidas pelo Poder Judiciário a mulheres vítimas de violência doméstica. A capitã Danielle Assunção também ressalta a importância de ficar atento aos sinais do assédio e violência doméstica.    

A socióloga Belmira Magalhães também alerta sobre o perigo da naturalização da autodefesa como uma obrigação da mulher. De acordo com ela, a luta contra machismo e conscientização da população não podem ser esquecidos.   

"É uma medida paliativa bem-vinda, mas é preciso tomar cuidado para não levantar rótulos como 'foi estuprada porque não se defendeu' e se juntar a estigmas antigos como o da roupa curta", explica.   




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