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Leitura de Domingo
26/08/2018 08:35:00

Nosso Sangue, Nosso Corpo' leva para o YouTube novos olhares sobre o tabu da menstruação


Nosso Sangue, Nosso Corpo' leva para o YouTube novos olhares sobre o tabu da menstruação
Ilustração

Em uma escola só para meninas, na África, as alunas se dividem entre as que têm peitos salientes e as que ainda não têm. Logo nos primeiros dias do programa escolar, as meninas são introduzidas a uma aula importante: costura. Com o tecido branco trazido de casa, aprendem a fazer almofadinhas, com um colocador. As meninas sem peitos não sabem para que servem as almofadas. Mas, no primeiro dia da menarca, são levadas a um salão de acesso restrito e aprendem que devem lavá-las até que fiquem quase brancas. O salão cheira mal. As almofadas das colegas estão penduradas em fileira, e as mais escuras - algumas, quase pretas - pertencem às alunas menos aplicadas.

As cenas fazem parte do romance Nossa Senhora do Nilo, da escritora africana Scholastique Mukasonga - a adaptação para o cinema está sendo filmada em Ruanda pelo diretor e escritor franco-afegão Atiq Rahimi - mas bem poderia ser não-ficção. A verdade é que a menstruação ainda é tabu ao redor do mundo.

De acordo com uma pesquisa global*, mais da metade das meninas no Brasil se sente suja e desconfortável durante a menstruação, e boa parte delas muda seus hábitos: 74% deixam de entrar na piscina, 66% param de praticar esportes e 47% não dormem fora de casa.

Se vamos para outros países, os números são ainda menos confortáveis. Na Índia, por exemplo, 40% das mulheres não dormem na própria cama ou conhecem alguém que evita fazer isso. Na África do Sul, 34% não encostam em imagens religiosas ou conhecem alguém que evitar fazer isso.

O documentário Nosso Sangue, Nosso Corpo, que subirá em cinco episódios no YouTube do canal FOX (confira o primeiro deles abaixo) quer naturalizar o tema. Cinco meninas de quatro países - Brasil, Argentina, África do Sul e Índia - foram convidadas a falar sobre menstruação e outros tabus, como sexualidade e gênero.

O projeto é do FOX Lab, a co-produção, da YOURMAMA - de longas como O Órfão, que marcou presença na Quinzena de Diretores do último Festival de Cannes. Embora seja assinado por uma marca, a Sempre Livre, da Johnson & Johnson, a voz é das personagens: todas entre 13 e 19 anos, falam sobre o assunto com a devida naturalidade.

"O sangue em uma calcinha, uma calça branca que acabou manchando. Nos escandalizamos com tudo isso. Mas acredito que o maior tabu é, na verdade, a mulher", diz a argentina Candela Abril, 18 anos, que se autodefine como bigênero.ranya Johar, poeta e influenciadora indiana - autora do vídeo em formato slam Bleed without violence abaixo - junta-se a Candela. "Acho que nunca conheci uma única mulher que não tivesse sido assediada ou não se sentisse desconfortável com o próprio corpo, achando que não lhe pertencia". Em seu vídeo Sangrar sem Violência, ela afirma que espera por uma época em que "a period does not equal a stop": quando ciclos menstruais não limitarão as mulheres de nenhuma forma.

De apenas 13 anos, a baiana Natália Correia tem consciência "sobre o que é ser mulher". Aos cinco anos, pediu à mãe, de presente de aniversário, que alisasse o seu cabelo. Mas depois do primeiro dia, a raiz começou a enrolar e o resultado já não era tão bom. Hoje, vive com seu cabelo afro na cor rosa. "Ser mulher é sangrar todo mês, é ser mãe, pai, a família toda". Natural da periferia de Salvador, ela sonha em ser uma modelo "muito profissional" e digital influencer.

De perfis bastante diferentes, as sul-africanas Luciana Fasani e Miche Williams também fazem parte do time. Luciana tem uma relação quase mística com o corpo: "Uso a lua como uma forma de me reconectar com a natureza e os ciclos naturais. Gosto de chamar a minha menstruação de minha lua". Já Miche sonha em ser atriz, mas não quer deixar a comunidade, pois pretende ser um dos principais agentes de mudança em seu bairro.

* A pesquisa foi conduzida pela Sempre Livre em parceria com a KYRA Pesquisa & Consultoria. Foram entrevistadas 1.500 mulheres, de 14 a 24 anos, em cinco países: Brasil, Índia, África do Sul, Filipinas e Argentina.

** A autora trabalha na equipe de atendimento de Relações Públicas da FOX Networks Group no Brasil.

*Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do HuffPost Brasil e não representa ideias ou opiniões do veículo. Mundialmente, o HuffPost oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.




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