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Violência
13/08/2018 13:30:00

Presidente eleito terá de lidar com ao menos 30 facções ativas em presídios


Presidente eleito terá de lidar com ao menos 30 facções ativas em presídios
Facção criminosa

Há ao menos 29 mil filiados só no Brasil. Organizado, o PCC se divide em células — conhecidas como “sintonias” — atuantes nas prisões e nos bairros de periferia das cidades. Os setores são conectados e formam coletivos decisórios em âmbito regional, estadual, nacional e internacional, a partir de divisões para segurança, finanças e jurídica. É essa espécie de comando que a torna tão distinta das outras facções.

O sociólogo Gabriel Feltran, professor da Universidade Federal de São Carlos e diretor científico do CEM (Centro de Estudos da Metrópole) da Universidade de São Paulo e autor do livro recém-lançado Irmãos, uma história do PCC (Companhia das Letras, 320 págs, R$ 49), explica que a estrutura do grupo é distante das outras. Não carrega a natureza empresarial ou militar e não há um chefe específico, mas bandidos experientes que são respeitados por outros integrantes. As prisões são comandadas por esses líderes e, mesmo os detentos que não são integrantes, seguem a lógica estipulada pela facção, explica Feltran.

Fernandinho Beira-Mar, Marcola, Marcinho VP e Nem são integrantes de facções que ficaram conhecidos como líderes pela atuação no crime. Todos estão presos em penitenciárias federais, de segurança máxima. Para Feltran, o fato de alguém ser preso não o retira do mundo do crime, apenas favorece a expansão do movimento. “Marcola, como outras lideranças do PCC, são, na visão dos integrantes, apenas ladrões reconhecidos. Mas não têm capacidade de mando.”

Quanto ao montante movimentado pela facção, o sociólogo afirma que não é possível mensurá-lo. “É muito difícil fazer esse cálculo. Os números que circulam sobre as drogas são baseados nas apreensões policiais. Só o mercado ilegal de veículos movimenta bilhões. O mercado de drogas é muito maior que isso.”

Em 2016, segundo último levantamento do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), havia 726.712 pessoas encarceradas — o dobro do número de vagas oferecidas nas unidades prisionais, com 368.049. Além da população acima da capacidade dos presídios, o número de agentes penitenciários é insuficiente. Há 78.163 agentes penitenciários no país, relação de nove presos para cada agente penitenciário.

Mandantes

O ideal, de acordo com especialistas, é até cinco pessoas por agente. Nas penitenciárias federais de segurança máxima, por sua vez, oferece-se 832 vagas, mas só há 437 presos. Entre a população, estão líderes de facção ou mandantes de rebeliões nos presídios. O tempo máximo de permanência é de até dois anos. Contudo, tem presos que estão lá há sete anos.

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, afirmou à reportagem que os constituintes erraram, ainda em 1988, ao estabelecer que a segurança pública teria competência estadual em vez de nacional. Torquato criticou a falta de transparência nos repasses ao setor, o baixo número de agentes penitenciários e a negligência do Estado em relação à população carcerária. “Nos governos de Lula e Dilma, foram repassados R$ 1,2 bilhão para serem criadas 42 mil vagas para o sistema penitenciário. Cadê esse dinheiro? Não se sabe nem quantos presos há, de fato, no país”, disse.

Para o subprocurador-geral de Justiça, Mário Sarrubbo, a questão das facções criminosas envolve o grande número de presos e as más condições carcerárias, que facilitam a opção pelo ingresso nas facções — que proporcionam sobrevivência no sistema, algo não oferecido pelo Estado. “A rebelião de Carandiru, em 1992, foi um marco para o avanço das facções, que depois passaram a dominar outros estabelecimentos e saíram de São Paulo”, acrescentou.

Entre as razões para que os governos não tenham conseguido, até hoje, controlar a atuação e a formação das facções, estão, segundo Sarrubbo, nas “válvulas de escape da própria legislação que impede o controle absoluto dessa massa”. “Quanto maior for o problema carcerário, mais aumentará o crime organizado. O preso tem direito às visitas, por isso é impossível impedir a comunicação entre eles”, alertou.

A atuação das organizações se intensificou após a dominação nas fronteiras, quando passaram a se envolver mais com o tráfico de drogas internacional, armas, produtos contrabandeados, combustíveis e transporte de pessoas. “O país tem muitas fronteiras, por isso há a internacionalização delas. Atualmente, atuam na área sul da América”, pontuou, entre as regiões brasileiras que ainda não conseguiram firmar braços no Distrito Federal, na Bahia e no Rio Grande do Sul.

Apesar do alastramento das organizações Brasil afora, Sarrubbo ressalta que, em São Paulo, a situação está “sob controle”. Estudiosos, no entanto, afirmam que nunca houve um controle de fato. Foi feito apenas um “acordo” entre as organizações e os agentes públicos, que passaram a designar aos grupos a responsabilidade de gestão dos presídios. “Em troca, não fazem rebelião”, explicou Guaracy Mingardi, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo.

Como solução, para Sarrubbo, está a integração entre as forças. Para isso, seria necessária a destinação de recursos para os setores e o cumprimento do Código Penal, que prevê a utilização dos regimes prisionais semiaberto, aberto e fechado. “Há verbas que não chegam aos estados. É preciso aperfeiçoar o sistema prisional, mas, antes disso, tem que cumprir o artigo 5º da Constituição, de que todos são iguais perante a lei”, disse. “O modelo de segurança pode até ser mantido, mas os trabalhos de inteligência devem ser aperfeiçoados.”



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