28/03/2024 17:00:41

Mundo
01/08/2018 20:37:00

México atravessa a época mais sangrenta de sua história


México atravessa a época mais sangrenta de sua história
Ilustração

No México morrem assassinadas mais de 85 pessoas por dia. Os números publicados na segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística chocam um país que em 2017 sofreu a época mais sangrenta de sua história. Ainda pior do que nos anos em que os mortos eram contados em dezenas, em que as capas dos jornais nacionais anunciavam grandes chacinas e os dados de 2011 – em plena guerra contra o tráfico de drogas – escandalizaram toda a nação. E a tendência indica que ano que vem ocorrerá novo recorde.

No ano passado morreram assassinadas 31.174 pessoas – a grande maioria por arma de fogo –, 6.615 a mais do que em 2016 e mais do que o dobro de oito anos atrás. Os dados apresentados na segunda-feira pelo órgão são baseados nos relatórios forenses das vítimas e nos prontuários de investigação e são os mais certeiros publicados nos últimos meses. O México entrou pela primeira vez na taxa de 25 mortes por 100.000 habitantes, à frente do índice de crimes da Colômbia (24) e se aproximando da taxa brasileira (29), tradicionalmente muito superior.

O país atravessa uma situação muito diferente da que viveu na época dos grandes chefes da droga e a declaração de guerra feita pelo ex-presidente Felipe Calderón (que governou de 2006 a 2012). A estratégia de segurança nacional, centrada na decapitação dos cartéis históricos e poderosos do país, como foi a prisão de Joaquín El Chapo Guzmán, provocou, além de uma luta pelos locais que ficaram livres, a fragmentação das quadrilhas em grupos menores, decentralizados e interessados em outras coisas além do tráfico de drogas. Isso explica o aumento notório da criminalidade em áreas tradicionalmente seguras e à margem da violência extrema do tráfico, como a Baixa Califórnia Sul, Guanajuato e Quintana Roo.

“Já não é só o tráfico de drogas, é o roubo de combustível, a extorsão, o sequestro... Essa mudança no modelo de negócio faz com que se dispersem a outras áreas. Antes estava concentrado nas regiões de produção de drogas e próximas à fronteira. Agora qualquer lugar é bom para o negócio”, diz o especialista em segurança Alejandro Hope em uma entrevista ao EL PAÍS. “A diversificação e dispersão dos cartéis provocou uma mudança no mapa: enquanto em 2010 24% dos homicídios se concentravam em Chihuahua e, concretamente, no município de Ciudad Juárez; em 2017 não existe um só Estado que concentre mais de 10% dos assassinatos”, afirma Hope. Se mata mais do que em plena guerra contra o tráfico e a morte se estendeu a novos territórios.

O Estado de Quintana Roo, onde estão as joias turísticas do México, como Cancún e a Riviera Maia, fechou 2017 com 450 mortes, mais do que o dobro do ano anterior. Uma ameaça letal a um país cuja economia depende em grande medida do turismo – que é 8,7% do PIB nacional – e esse Estado concentra 40% dos rendimentos desse tipo recebidos pelo país. A Baixa Califórnia Sul, outro destino de sol e praia por excelência, triplicou os homicídios em somente um ano, passando de 238 assassinatos em 2016 a 740. E Guanajuato, que concentra em grande parte o investimento automotriz, uma terra tradicionalmente à margem do terror do tráfico, registrou 2.252 homicídios, quase 10 vezes mais do que há oito anos.

A estratégia de pacificação do país anunciada pelo presidente eleito López Obrador – que inclui uma proposta de lei de anistia para todos os que participam do tráfico de drogas – espera reduzir notadamente esses índices, ainda que os especialistas digam que os resultados serão vistos a longo prazo. A taxa de homicídios não parou de crescer desde o começo de 2015 e tudo indica que em 2018 os números superarão os desse último ano. “Supondo que seu plano seja muito bem-sucedido, é quase certo que chegue na metade de seu mandato com 100.000 homicídios. E isso é um cenário sumamente otimista”, diz Hope.



Enquete
Se fosse fosse gestor, o que você faria em União dos Palmares: um campo de futebol ou a barragem do rio para que não falte agua na cidade?
Total de votos: 93
Notícias Agora
Google News