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Especial
15/06/2018 18:04:00

Brasileiro com a doença de Stephen Hawking é candidato a deputado federal


Brasileiro com a doença de Stephen Hawking é candidato a deputado federal
Dr. Hemerson é candidato a deputado federal

Após 28 anos trabalhando como cirurgião cardiovascular, o Dr. Hemerson Casado foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), a doença que acompanhou o físico Stephen Hawking até o fim de sua vida. Em sua trajetória, descobriu as dificuldades para as vítimas de doenças raras no Brasil e virou um ativista. Com seu empenho criou a Associação Dr. Hemerson Casado Gama e luta pela criação de um centro de referência na área.

Sua luta, relatada na edição de maio da revista GALILEU na reportagem “Meus dias com ELA”, está perto de ganhar um novo episódio: ele foi escolhido pelo RenovaBR, uma organização voltada à formação de novos líderes com potencial de renovar a política brasileira, e se filiou ao Partido Progressista (PP), pelo qual pretende se candidatar ao cargo de deputado federal pelo estado do Alagoas. Seria o primeiro membro do legislativo com ELA.

Em entrevista concedida por Whatsapp, o médico conta como foi o processo que levou ao lançamento da candidatura e o que espera dessa nova empreitada.

Me conta como você virou candidato.

Eu adoeci há seis anos. De médico, virei paciente de uma doença cruel, rara, progressiva, sem cura e nem tratamento. Senti medo, pavor, solidão e depois senti muito o amor de Deus e uma vontade enorme de fazer algo pela causa. Foi quando virei um ativista. Tive que lidar com os meus problemas, os problemas dos outros pacientes, dos familiares de classes sociais menos favorecidas.

Também tive que lidar com duas classes muito difíceis: os cientistas e os políticos. Além dos  burocratas de todas as esferas de governos. Foi aí que veio à tona a minha personalidade de cirurgião cardiovascular. Tinha que enfrentar o problema de frente e resolver isso com as próprias mãos.

E a política foi o caminho?

Me filiei PP porque eles me abriram as portas e viram em mim um potencial candidato. Mas o fator decisivo foi o convite para participar da seleção do RenovaBR. É uma organização que tem como missão identificar novos potenciais talentos políticos, submeter eles a uma seleção e tentar formar estas pessoas para se preparar para a campanha, ensinar como enfrentar os problemas do Brasil, e como ser um político de conceitos modernos, respeitando a moral, ética, transparência, simplicidade e honestidade. Eles também, farão uma preparação para o mandato, caso a liderança seja eleita.

Eu tinha uma bandeira de luta, uma pequena mas importante formação, coragem e vontade que o senhor Deus me deu para ter na política uma ferramenta poderosa para fazer uma transformação na realidade dos pacientes com doenças raras no cenário nacional, com assistência médica, reabilitação social, e na forma como o governo federal, enfrenta esse problema. Vi também que eu posso contribuir para a educação, ciência, tecnologia e inovação, além de educação, turismo e trabalho inclusivo.

Dr. Hemerson durante simpósio (Foto: Divulgação)

E como você acredita que pode ajudar a melhorar essas questões que você mencionou? Na prática, o que pretende defender?

Eu tenho uma grande vantagem. Eu vivo para isso. Não faço outra coisa, senão trabalhar para que possamos mudar o cenário das doenças raras. Eu acredito, que se eu já peregrino pelos ministérios da saúde, educação e ciência e tecnologia para pedir melhorias para o desenvolvimento de pesquisas, assistência médica e social para os portadores de doenças raras, pedir investimentos em infraestrutura de laboratórios, hospitais, universidades federais.

Tudo para que possamos avançar nos experimentos científicos, nos estudos clínicos e na formação de uma geração de cientistas arrojados, diferenciados para produção científica de nível internacional

E como você vê que essas coisas funcionam hoje em dia? Quais os principais problemas?

O Brasil não sabe o que é a economia do conhecimento. O país não conhece ou não quer conhecer os benefícios que os investimentos em tecnologia e biotecnologia, podem trazer para o desenvolvimento e prosperidade de um país. A pesquisa científica aqui é inocente e inócua. Se fizéssemos coisa séria, o Brasil, já teria um prêmio Nobel.

O fato de que só universidades federais e instituições estatais, como Fiocruz e Butantã, fazerem pesquisas trava em muito o desenvolvimento da economia do conhecimento no Brasil. Não há uma preocupação com um relacionamento com os anseios da sociedade. È uma produção científica que não tem nenhuma utilidade pública e somente serve para preencher prateleiras de bibliotecas.

E quanto ao PP? Você se identifica com o partido e sua bancada na câmara?

O Partido Progressista tem uma bancada muito grande e muito forte. Sei que alguns dos membros da bancada estão envolvidos em investigações, por denúncias de envolvimento em corrupção, mas eu tenho que ficar à parte dessas histórias e procurar trabalhar para que a imagem do partido possa melhorar.

No atual sistema político brasileiro, você não consegue fazer com que os partidos sigam rigorosamente a sua filosofia e os seus princípios, então é muito difícil você encontrar um partido político que você realmente se identifique. E não há condições, pela lei brasileira, que você seja um candidato independente. Então eu diria que uma pessoa como eu vai ter que encontrar no partido, e principalmente no Congresso Nacional, pessoas que comunguem com às suas ideias, bandeiras e filosofia de vida.

Para a eleição, o partido que veio até a minha casa, para me fazer o convite, foi o Progressista, então eu tenho que fazer jus à confiança do presidente estadual do partido e trabalhar com a narrativa da minha história de vida pessoal e profissional, minhas bandeiras de luta e a minha vontade de participar das decisões que podem afetar o Brasil para melhor. Eu acredito que o Congresso Nacional precisa ter uma renovação radical em seus quadros e eu quero fazer parte dessa renovação.

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Já se imagina assumindo o cargo? 

Eu tenho que me imaginar no parlamento nacional. Se eu não passar essa confiança para os que podem votar em mim, não o farão. Em relação às minhas condições para exercer o mandato, eu já provei que sou capaz de me deslocar até Brasília. Tenho como me comunicar, através de uma tecnologia assistiva que me permite teclar com os meus olhos e fazer dos olhos o meu mouse. Por último, eu tenho as minhas funções cognitivas intactas, os meus pensamentos, a minha moral, ética, capacidade de discernir entre o certo e o errado, tudo intacto, além dos meus sentimentos totalmente preservados.

Não vejo o que um político saudável pode fazer a mais do que eu. Claro que eu tenho consciência do meu esforço sobrenatural para essa nova possível função e dos obstáculos que eu irei enfrentar. A minha fé em Deus e o propósito que ele me incumbiu vão ser o meu combustível. Eu não posso deixar de ressaltar que os cuidadores e técnicos de enfermagem que são os meus anjos da guarda, serão as pessoas fundamentais para que eu possa exercer o mandato.



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