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Economia
08/06/2018 10:00:00

Dólar atinge R$ 3,92 e Banco Central intensifica atuação


Dólar atinge R$ 3,92 e Banco Central intensifica atuação
Presidente do Bancio Central

por correio braziliense

Após críticas e pressões do mercado sobre como atuará para conter a volatilidade cambial, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, anunciou ontem que ofertará US$ 20 bilhões em swaps até o fim da próxima semana. Ele não descartou atuações adicionais nos próximos dias e deixou claro que os estoques de contratos que correspondem à venda futura da divisa podem ultrapassar a máxima histórica de US$ 110 bilhões, atingida durante a gestão de Alexandre Tombini. As medidas anunciadas ocorreram após a moeda estrangeira disparar no pregão de ontem e fechar o dia em alta de 2,19%, vendida a R$ 3,922.

Nas casas de câmbio, a divisa norte-americana é vendida a R$ 4,20 para os turistas que se preparam para viajar durante as férias escolares de junho e julho. Para piorar, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) desabou 2,98%, aos 73.851 pontos. A volatilidade, explicam analistas, começou com a  expectativa de alta dos juros nos Estados Unidos, agravou-se  com a decisão do Banco Central (BC) de manter os juros em 6,5% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e cresceu com a greve dos caminhoneiros.
 
Além disso, ressaltam os economistas, a crise tomou contornos preocupantes com a falta de clareza sobre quem será o próximo presidente da República. Até o momento, candidatos polêmicos da direita e da esquerda lideram as pesquisas de intenção de votos. Diante da perda de valor dos ativos no Brasil, o BC e o Tesouro Nacional realizaram ontem operações de venda de títulos públicos com compromisso de recompra para um prazo de nove meses. Com isso, o governo colocou R$ 10 bilhões em papéis para tentar conter a volatilidade nos juros cobrados pelos investidores.
 
Na outra ponta, a autoridade monetária ofertou ao mercado US$ 3,2 bilhões em contratos swap cambial. A medida, entretanto, foi insuficiente para conter a escalada da divisa estrangeira. Para se ter uma ideia, o real foi a segunda moeda que mais se desvalorizou entre os países emergentes, perdendo apenas para rand sul-africano.
 

Demanda

 
O presidente da autoridade monetária deixou claro que, se houver demanda, fará leilões de linha ou usará os US$ 380 bilhões de reservas internacionais. Para ele, o cenário atual decorre de uma piora do ambiente internacional. “Houve uma mudança significativa do cenário externo em relação ao apetite dos investidores às várias economias emergentes. Nós aqui vínhamos falando que o cenário internacional era benigno, mas era um interregno e poderia mudar”, destacou.
 
Ilan ainda colocou fim em rumores de que deixaria o comando do BC, afirmou que o Brasil não sofre ataques especulativos e detalhou que usará todos os instrumentos existentes para conter a volatilidade do dólar. Outro boato rechaçado por ele foi o da possibilidade de convocação de reuniões extraordinárias do Comitê de Política Monetária (Copom) para revisar o percentual da taxa básica de juros (Selic), atualmente, em 6,5% ao ano. Para o presidente do BC, os encontros que ocorrem a cada 45 dias são a melhor oportunidade para avaliar se houve ou não mudança no balanço de riscos.
 
Mais cedo, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, tentou acalmar os mercados ao afirmar que o Tesouro Nacional e o BC atuariam de maneira coordenada para conter a alta do dólar. Segundo ele, o movimento de escalada da divisa estrangeira é global, mas admitiu que, no caso brasileiro, a expectativa das eleições geram ainda mais incertezas. “Existe atenção maior no caso brasileiro dado o cenário de eleições, isso agrega maior volatilidade aos mercados”, afirmou.
 
Clareza
 
A falta de clareza sobre como seria a atuação do BC no mercado cambial era uma das principais justificativas para o nível de volatilidade, explicou o gestor Guilherme Macedo, sócio da Vokin Investimentos. “Hoje ninguém sabe se o BC vai usar reservas para conter o dólar, se vai subir juros. É um mercado de especulação, que está testando a autoridade monetária”, disse.
 
Para ele, a volatilidade é prejudicial para o mercado, mas não está associada à piora dos fundamentos econômicos no país. “Nada mudou. Os prejuízos com os subsídios do óleo diesel nas contas públicas, o Produto Interno Bruto (PIB) mais fraco, o cenário eleitoral confuso, todas essas questões já estão precificadas pelo mercado”, disse. “O que ocorre agora é que, passada a greve dos caminhoneiros, o mundo vê um cenário mais perigoso para o Brasil e a paralisação fez uma crise que deflagrou essa desconfiança”, ressaltou.
 
A crise atual, explica Thiago Figueiredo, gestor da GGR Investimentos, passa por uma preocupação maior do mercado com as pressões inflacionárias diante da greve e da alta do dólar. Segundo ele, esse motivo levou à expansão dos juros futuros. “Nós temos um número muito grande de estrangeiros saindo da bolsa. Parece, agora, que o mercado prefere precificar o pior cenário. Os papéis da IBovespa estão com quedas grandes”, ressaltou. “Isso gera apreensão para as pessoas físicas que estão desesperadas”, contou. Os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 subiram 0,43 ponto percentual, cotados a 7,58%. Os contratos para janeiro de 2021 subiram 0,32 ponto percentual e alcançaram 9,77%.
 
Na avaliação do economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, a crise é uma combinação de fatores negativos que começou com a decisão do Copom de manter os juros em 6,5% ao ano quando havia sinalizado um corte de 0,25 ponto percentual. Após esse equívoco, ele ressaltou que a greve dos caminheiros mostrou a fragilidade do governo. “Abriu-se uma Caixa de Pandora que precisa ser fechada. O BC trouxe o debate cambial para a mesa na última ata do Copom e, agora, precisa fazer alguma coisa”, alertou.


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