25/04/2024 03:41:28

Especial
22/05/2018 17:48:00

Por que as milícias de direita têm tanto medo das agências de checagem de fatos?


Por que as milícias de direita têm tanto medo das agências de checagem de fatos?

Por Matheus Pichonelli - yahoo notícias

Em junho de 2017, a Agência Pública entrou em contato com o Movimento Brasil Livre para saber as fontes das informações divulgadas pelo grupo sobre progressão de regime de sentenciados. A resposta foi a imagem de um pênis de borracha com um capacete onde se lia “imprensa” e a seguinte legenda: “Cheque isto!”.

De lá pra cá, não apenas grupos como o MBL, que prometiam lutar contra a corrupção levantando o dedinho em sincronia com Eduardo Cunha, como também as redes onde se proliferam postagens ora agressivas, ora descoladas da realidade, passaram a ter a atuação questionadas e monitoradas.

Com a credibilidade em xeque desde que se tornou terreno fértil das Fake News, o Facebook anunciou, durante a semana, o lançamento de um serviço de verificação de notícias falsas em parceria com duas respeitadas agências de fact-checking, a Aos Fatos e a Lupa.

Elas terão acesso a denúncias feitas por usuários da rede social e, caso o conteúdo seja considerado falso, como o meme que acusava Marielle Franco de ser amante de um traficante no Rio, as publicações terão seus alcances reduzidos e não poderão receber impulsos por patrocínio.

A estratégia pode representar a morte de grupos que se proliferam nas redes justamente com base em notícias falsas ou desinformação.

Essas agências, vale lembrar, têm feito um grande trabalho para desconstruir discursos oficiais de todos os matizes. No discurso do ex-presidente Lula em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC antes da sua prisão, por exemplo, a agência Aos Fatos identificou na fala duas afirmações falsas, três insustentáveis, uma contraditória e uma imprecisa.

A essa altura o leitor mais atento já terá imaginado que quem reproduz informações corretas pode dormir tranquilo sem risco de ser penalizado pelo Facebook; pelo contrário, quem surfou até agora na onda de Fake News provavelmente entrou em desespero.

Pois após o anúncio da parceria, jornalistas e colaboradores das agências de checagem se tornaram alvos de ataques no Facebook, Twitter e WhatsApp.

Segundo a Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, por meio de vídeos e montagens de imagens, páginas e pessoas públicas ?classificam a iniciativa de checagem como “tentativa de censura da direita”, atribuindo às agências ?e a profissionais que as compõem ?o rótulo de “esquerdistas”?. Os conteúdos e as falas, segundo a entidade, incitam o público a “reagir”.

“Perfis pessoais de colaboradores dos veículos? em redes sociais ??têm sido vasculhados? e ?expostos? em montagens, como supostas evidências de que as agências de checagem estariam a serviço de uma ideologia. Em alguns casos, fotos de cônjuges e pessoas próximas aos profissionais também foram disseminadas junto a afirmações falsas e ofensivas”, relatou a Abraji, em nota de solidariedade aos profissionais.

Por ironia, a campanha da milícia contra o combate a Fake News apoia-se em outra mentira: a de que redução de alcance equivale a censura.

“Ao incitar, endossar ou praticar discurso de ódio contra jornalistas, porém, aqueles que reprovam as iniciativas de checagem promovem exatamente o que dizem combater: o impedimento à livre circulação de informações”, diz a entidade.

O MBL é um dos campeões em ataques contra jornalistas. Sua ojeriza ao exercício jornalístico, travestido de combate a esquerdistas, faria inveja aos delírios autoritários do stalinismo, que sufocavam as vozes contraditórias e transformaram escolas e canais de comunicação em panfleto de uma única voz.

Por aqui, se alguém apanhou de todos os lados desde que o Brasil se transformou numa gincana do Xou da Xuxa ideológico foi a imprensa – ora acusada de referendar o golpe, ora de escalar jornalistas a serviço de projetos à esquerda.

O mote para os ataques são as posições políticas não dos veículos, mas dos seus profissionais – que, fora do ambiente de trabalho, votam, debatem e pensam.

As milícias erram e desinformam, mais uma vez, ao imaginar que opinião é incompatível com o exercício da profissão.

O problema do jornalista não é quando os fatos influenciam uma opinião pessoal, mas quando a opinião pessoal influencia os fatos. Fatos e convicções estarão sempre em conflito, e não necessariamente impedirá alguém de fazer um bom trabalho – muitos que votaram no PT foram acusados de serem “vendidos” durante a cobertura do mensalão ou da Lava Jato, provavelmente porque fizeram seu trabalho direito.

A gritaria e os ataques pessoais, com a exposição covarde de pessoas próximas e familiares de jornalistas, é mais um golpe baixo de quem ganhou terreno com a desinformação e não está nem um pouco preocupado em transformar o debate político do Brasil em um ambiente menos tóxico. Daí o desespero com iniciativas como a recentemente anunciada pelo Facebook.

Nesta seara, o melhor detergente ainda é a transparência e o bom jornalismo – o resto é conversa de moleque.



Enquete
Na Eleição de outubro, você votaria nos candidatos da situação ou da oposição?
Total de votos: 42
Notícias Agora
Google News