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Viver Bem
18/04/2018 07:36:00

A solidão faz mal para a sua saúde, afirma psiquiatra


A solidão faz mal para a sua saúde, afirma psiquiatra

Imagine uma senhora de 65 anos que visita frequentemente seu médico devido a dores que vem sentido. Ela pode reclamar de um incômodo na coluna durante uma visita, falar sobre dores de cabeça na próxima e de uma cerca fraqueza na outra consulta. Cada vez, seu médico realiza exames e nunca acha nenhuma causa para seus sintomas. Quando isso acontece, ela sai da clínica frustrada, sentindo que nada pode ser feito para curar suas dores.

No entanto, se olharmos mais de perto, iremos descobrir que essa paciente perdeu seu marido há cinco anos e está morando sozinha desde então. Seus três filhos vivem em outro estado. Apesar de adorar seu neto, ela só o vê uma vez ao ano. Ela tem poucos amigos que só encontra ocasionalmente. Se lhe perguntassem, ela provavelmente diria que, sim, ela é sozinha.

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Esse é um cenário comum em clínicas médicas. Sintomas de doença sem nenhuma causa aparente podem ser o resultado de isolamento social e tédio. Pesquisas mostram que pessoas que se sentem sozinhas têm mais problemas de saúde, se sentem piores e talvez até morram mais cedo.

A psiquiatria, minha especialidade, sabe há muito tempo que sentimentos de todos os tipos podem afetar nossa saúde física de maneira profunda. Parece que alguns governantes estão levando isso a sério – o Reino Unido até ganhou o Ministério da Solidão. E por uma boa razão.

Efeitos negativos
Em 2015, pesquisadores da Universidade Brigham Young estudaram múltiplas pesquisas sobre solidão. Após avaliar dados de centenas de milhares de pessoas, o grupo concluiu que a solidão resulta em um aumento de 50% de morte prematura.

Solidão e isolamento também estão associados com aumento da pressão sanguínea, níveis elevados de colesterol, depressão e, como se não bastasse, em uma diminuição de habilidade cognitiva e surgimento de Alzheimer.

Os seres humanos evoluíram para estarem conectados. Há muito tempo atrás, nós caçávamos em pequenos grupos nos quais a colaboração social nos garantia proteção de predadores. Ficar sozinho e sem ajuda na natureza selvagem é perigoso – e estressante. Você teria que estar constantemente vigiando o perigo iminente e pronto para lutar ou perder seu território a todo tempo.

A curto prazo, o estresse pode ser saudável. Mas a longo prazo, o estresse descontrolado vira um problema. Há evidências de que o estresse crônico eleva os níveis de cortisol, hormônio que pode diminuir as respostas do sistema imune às infecções. O estresse pode tornar os neurônios menos ativos e até acarretar em morte celular. Ele contribui, também, para inflamações, quadro que está conectado a diagnósticos de síndrome cardiovascular, enfarto, hipertensão e é uma  possível causa da depressão.

Assim como uma pessoa há muito tempo na floresta, um indivíduo sozinho a longo prazo pode experimentar essas respostas ao aumento de cortisol. Seres sozinhos estão estressados durante a maior parte do tempo.

Outro hormônio, conhecido por oxitocina, parece desenhar um papel importante no isolamento social. Popularmente, ele é citado como o “hormônio do amor”. Sem o exagero do termo, a oxitocina está envolvida na construção de relacionamentos e na constituição de pares. Após o parto, por exemplo, níveis elevados de oxitocina estão associadas com um forte laço entre mãe e bebê.

A oxitocina também parece estar relacionada à redução do estresse: sua aparição pode contribuir com a diminuição dos níveis de noradrenalina, da pressão sanguínea e do batimento cardíaco, em oposição aos efeitos do cortisol crônico. A oxitocina também pode reduzir a atividade na amígdala, parte do cérebro que é acionada em momentos de ameaça.

Um pouco menos sozinho
O que podemos fazer com tudo isso? De fato, não há nenhum medicamento para tratar da solidão, apenas aqueles que cuidam de sintomas de depressão ou de ansiedade.

Os casos de solidão costumam ser mais prevalentes em adultos e pessoas mais velhas. O grupo de pesquisas sobre velhice AARP, dos Estados Unidos, averiguou que 17% dos idosos norte-americanos são sozinhos ou isolados.

O médico Sanjay Gupta sugere que a sociedade passe a tratar a solidão como uma doença crônica. Se assim fosse feito, os pacientes precisaram de estratégias a longo prazo para lidar com a efemeridade.

Atualmente, o tratamento recomendado é estabelecer relações sociais. Para os mais velhos, participar de grupos de idosos é uma maneira maravilhosa de se envolver em atividades e conhecer novas pessoas. E o voluntariado? Sempre há programas que estão em busca de idosos interessados em entregar refeições, enviar correspondências e uma gama de outras atividades. É surpreendente como pequenas coisas podem ajudar.

Uma simples ligação do filho ou do neto por dia é uma oportunidade de compartilhar informações do dia. Ou ainda conferências por vídeo, que são fáceis e baratas. É possível conversar com seus familiares que estão do outro lado do país. Alguns estudos em centros de cuidados indicam que animais de estimação também ajudam a apaziguar a solidão.

Como é necessários seguir esses indivíduos ao longo de anos para determinar se essas intervenções podem funcionar de fato, poucos são os resultados que temos agora. Parece razoável, no entanto, acreditar que intervenções psicossociais são poderosas, uma vez que pessoas saudáveis têm essas práticas.

De uma perspectiva médica, o profissional sensato irá recomendar que indivíduos solitários agendem visitas periódicas apenas para conversar. Na minha opinião, isso poderia evitar mais testes desnecessários e custos caros.

Por fim, se você possui uma lista grande de contatos, talvez o seu vizinho que passeia sozinho não tenha tantos colegas assim. Seja gentil.

*Professor associado de do curso de Psiquiatria na Universidade do Estado de Michigan. Texto publicado originalmente em inglês no The Conversation.

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