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Brasil
26/01/2018 18:09:25

Artesãos e artistas brasilienses demonstram sua fé por meio da arte


Artesãos e artistas brasilienses demonstram sua fé por meio da arte

Conciliar arte e fé. Esse é o objetivo de alguns artistas plásticos e artesãos de Brasília. Decorando peças de gesso, produzindo rosários ou esculpindo imagens em argila e madeira, eles buscam reforçar a crença por meio da profissão, e tentam fazer com que mais pessoas cultivem a sua religiosidade.

É assim que pensa o artesão Benedito da Silva, 58 anos. Há cerca de três décadas, a sua vida é voltada ao artesanato. Devoto do cristianismo, demonstra a sua crença por intermédio dos vários terços que produz diariamente. A opção religiosa, contudo, não o fez fechar os olhos para outras doutrinas. Por acreditar que a fé pode fazer diferença na vida de alguém, ele também faz artigos para adeptos do budismo, hinduísmo e espiritismo.

“Além dos terços, também faço japamalas e guias. Muitas pessoas usam esses símbolos, principalmente para fazer uma oração a alguém que está doente, por exemplo. Nunca deixei de acreditar, sempre tive fé, e penso que todos precisam acreditar em alguma coisa. A pessoa sem crença é uma pessoa perdida”, pontua.

 

Benedito conta que fica feliz pela quantidade de pessoas que compram os seus artigos. O seu sentimento, contudo, não está relacionado ao dinheiro. Para ele, é importante saber que ainda existem pessoas que não deixam a fé de lado, mesmo em momentos difíceis.

“O que mais vemos, nos dias de hoje, são tragédias. Muitas pessoas não pensam no próximo. Só querem saber do próprio bem-estar. Falta um pouco de paz no coração, e as religiões oferecem isso. Eu me sinto bem, por estar ajudando alguém a se realizar dentro do contexto da sua crença. Consigo perceber que muitas pessoas ficam agradecidas, porque aquilo tem um significado especial para elas”, comenta.

A artista plástica Gal Santana, 44, tem o mesmo pensamento. Há três anos fazendo decorações em esculturas santas de gesso, ela afirma que o ponto principal do seu trabalho é contribuir para que as pessoas renovem a sua fé.

“Percebo que muita gente está desacreditada, principalmente pelas coisas que acontecem no mundo atualmente. Mas quando eu coloco a fé de alguém em uma imagem, consigo passar muita energia. As pessoas compram porque acreditam, e não apenas para decorar. Receber o retorno delas, dizendo que as esculturas ajudaram de alguma forma, é muito bom”, ressalta.

Gal Santana entrou no mundo artístico antes disso, e começou decorando caixas de madeira. A sua opção por fazer um trabalho com imagens sagradas surgiu por conta da filha. “Cada vez que nós íamos à igreja, escutava a mesma pergunta: ‘Mãe, por que os santos são tão tristes?’. Ela falava isso por causa da cor esculturas, predominantemente brancas, e achava que as peças poderiam ter ‘mais vida’”, explica.

 

Detalhes

Dessa forma, com a ajuda da mãe, a também artista plástica Maria Lúcia Santana, 64, Gal passou a decorar peças de gesso de figuras católicas. Entre anjos e santos, cada detalhe conta, e é preciso de muita atenção. “Pintamos os cabelos e os olhos. Depois, passamos verniz, e fazemos o acabamento com pérolas. Colocamos uma por uma. Demoramos, no mínimo, três horas para terminar uma peça”, conta.

O tempo, contudo, não é um problema para as duas. A paz que a atividade proporciona é o aspecto mais importante. “Nem percebo o tempo passar, porque eu gosto muito. Você tem que gostar do seu trabalho. Às vezes, fico 10 horas decorando os santos. Tem muito mais coração do que negócio no meu trabalho. É como uma terapia, me acalma muito”, destaca Gal.

Para a artesã Cleziania Ribeiro, 39, é essa dedicação que faz a diferença na hora da produção das suas esculturas. Seja com argila ou cerâmica, ela procura entregar aos clientes muito mais do que uma obra de arte. “Faço peças de santos brincando com crianças, para reforçar a importância da família. Quero incentivar as pessoas a buscarem o amor e o carinho. Tento transmitir para cada um o significado de se fazer o bem, afinal, é esse o objetivo das religiões”, ressalta.

Devoção

Natural de Vigo, na Espanha, o artesão Gil Marcelino, 73, tomou gosto pela atividade ainda criança. A vontade por esculpir imagens santas nasceu da sua devoção a São Tiago Maior e São Francisco de Assis. Fazer da fé uma forma de trabalho é uma grande felicidade. “Sou um cristão fervoroso e, por meio das esculturas, consigo difundir a minha crença. Acredito que a fé pode ser a salvação para todos nós”, observa.

Gil possui um ateliê específico para obras sacras, com mais de 50 esculturas, a maioria feita com madeira. A principal criação levou quase quatro anos para ficar pronta e retrata toda a trajetória de Jesus Cristo. Ele conta que o local é um dos preferidos dos visitantes, que saem da sua casa revigorados. “Muita gente sai daqui melhor. Alguns adquirem as obras, mas o meu intuito não é lucrar. É tentar evangelizar. Cada um sente e absorve de uma forma diferente”, completa.


O espanhol observa que a crença em uma religião pode ajudar qualquer pessoa a superar adversidades. “Não importa em qual doutrina você acredite, a fé pode salvar as pessoas. O homem precisa de algo intangível que o motive e lhe dê forças para sair de uma situação ruim, como alguma doença. Sem a ajuda da fé, a química por si só não resolve”, destaca.

 

Milagres

Maria Lúcia relata que alguns milagres já aconteceram a pessoas que adquiriram os seus santos. Apesar de entender que esse é um assunto contestável, ela pontua que acontecimentos improváveis podem acontecer dependendo da fé de cada pessoa.

“No fim do ano passado, um homem que nos comprou uma Nossa Senhora Rosa Mística, precisou fazer cinco pontes de safena. Ele levou a santa para o hospital e nós fizemos orações. Disseram que ele não tinha muitas chances de sobreviver, mas, no dia seguinte à operação, ele estava ótimo. O médico disse que, em 40 anos de profissão, nunca tinha visto uma recuperação tão rápida.

Além disso, um casal nos procurou para comprar uma Nossa Senhora do Bom Parto. A mulher já havia perdido dois bebês, e depois de fazer uma novena à santa, conseguiu, enfim, ganhar um filho. Eu fico emocionada, é muito gratificante”, afirma.

Assim como a mãe, Gal se sente agraciada por contribuir com algo que tem um significado especial para outra pessoa. “É uma experiência única. Trabalhar com a fé das pessoas é ótimo. Vale muito a pena. Já recebi fotos de pessoas que levaram uma santinha para alguém que estava internado, e disseram que ajudou na recuperação. Às vezes você faz como decoração, mas vai além disso. Esse retorno é o que me motiva a ficar várias horas trabalhando”, exalta.

Por sua vez, Cleziania conta que fazer a alegria dos seus clientes não tem preço. Acrescenta que esse trabalho faz parte da sua vida. “É algo natural, nem vejo o tempo passar. Agradeço todos os dias por esse dom. Eu me aproximo ainda mais da minha religião e quero que as outras pessoas também façam isso, independentemente daquilo que acreditam. Respeito todas as crenças, pois elas têm um papel importante no cotidiano de cada um”, completa.

Correio Braziliense

 






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