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Brasil
20/01/2018 13:37:00

O Brasil estaria preparado para uma epidemia de febre amarela?


O Brasil estaria preparado para uma epidemia de febre amarela?
Ilustração

Filas dobrando o quarteirão. Pessoas dormindo nas calçadas e uma espera de até 15 horas para tomar uma dose da vacina contra a febre amarela em São Paulo. O Estado vive o maior surto da doença em 14 anos. Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás também registram dezenas de mortos pela doença.

As notícias recentes de novos casos causaram pânico em parte da população e uma corrida aos postos de saúde e clínicas particulares. Mas o país realmente corre o risco de uma epidemia urbana da doença - e está preparado para responder, caso isso ocorra?

Especialistas ouvidos pela BBC Brasil disseram que as chances de uma epidemia como essa são muito pequenas, mas não estão descartadas. E afirmam que o país não estaria preparado, pois sua rede de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), médicos e capacidade de realização de exames já estão saturados.

 

O médico epidemiologista da USP Eduardo Massad disse que "a situação em que estamos é de muita sorte", devido à baixa quantidade de mosquitos Aedes aegypti - possíveis transmissores da doença em ambientes urbanos - registrada neste ano em São Paulo. Essa condição reduz as chances de epidemia urbana. A última vez que o país enfrentou uma epidemia urbana de febre amarela foi em 1942, no Estado do Acre.

Os casos de febre amarela registrados recentemente em São Paulo foram transmitidos por mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes - vetores da febre amarela silvestre.

Pesquisadores apontam que esse baixo risco de epidemia possibilitará que a população seja vacinada antes de uma possível transmissão em massa da doença. Caso a disseminação da doença em áreas urbanas começasse antes das imunizações "seria um grande desastre", segundo os especialistas.

O representante da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS), Joaquín Molina, disse que o Brasil está tomando as decisões corretas para o controle do avanço da doença. "Estamos muitos satisfeitos com a resposta que o país está dando ao surto de febre amarela", elogiou.

"Apoiamos plenamente as medidas que o país está tomando, estamos de comum acordo", avaliou Molina.

O órgão destacou, porém, que o maior risco para a ocorrência de epidemias é a chegada da doença a áreas densamente povoadas e que, por isso, está monitorando de perto o avanço dos casos no país.

A OMS ainda emitiu um alerta recomendando que todos os estrangeiros se vacinem contra febre amarela antes de viajar para qualquer cidade do Estado de São Paulo após considerar a região uma área de risco para febre amarela.

Erros causaram surto?

A doença pode estar controlada no país, mas, na visão do infectologista Eduardo Massad, o governo cometeu uma série de erros que poderiam ter evitado inclusive o atual surto de febre amarela no Estado de São Paulo. Dois deles foram a falta de mapeamento de áreas de mata onde a doença poderia se proliferar e o início tardio da campanha de vacinação para moradores da região.

"Fiz um estudo com base no surto que ocorreu em Botucatu (interior de SP) em 2009, quando 11 pessoas morreram. Mostrei para o governo há quatro anos, alertei sobre as áreas onde as pessoas não estavam sendo vacinadas e que era preciso fazer uma campanha racional priorizando as zonas de mata, mas isso foi ignorado. O governo não está ouvindo as instituições acadêmicas. Também houve uma negligência do governo por não reforçar o estoque de vacina", disse o professor.

A informação é contestada pelo infectologista coordenador da área de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde de São Paulo, Marcos Boulos. Em entrevista à BBC Brasil, ele disse que todas essas ações foram tomadas.

"As pessoas que ficam na universidade e na academia acabam não sabendo o que está acontecendo. Não é a primeira crítica do Eduardo e ele não sabe o que está acontecendo. O primeiro caso de febre amarela foi em abril de 2016, quando percebemos que o vírus passou para os macacos e eles começaram a morrer com a doença. Traçamos um caminho e vimos que ele começou a se aproximar dos centros urbanos. Então, começamos a vacinar", afirmou Boulos.

Ele disse que o trabalho iniciado há 20 meses evitou uma mortalidade dez vezes maior de pessoas em Mairiporã - a secretaria de saúde do município informou que desde dezembro há 57 casos suspeitos da doença, com sete mortes.

"Nós vacinamos 7 milhões de pessoas no ano passado. No próximo mês, vacinaremos mais 8 milhões. O trabalho foi de excelência. Vacinamos segundo os corredores ecológicos onde tinham macacos mortos. Só não vacinamos quem se recusou", disse o infectologista do governo de SP.

Por outro lado, o professor da USP concorda que a atual decisão de vacinar toda a população do Estado de São Paulo é a mais correta.

Procurada pela reportagem para explicar o que o Brasil poderia ter feito para evitar a eclosão do surto, a Opas/OMS disse não poder dar recomendações logísticas específicas para o país porque as medidas necessárias em cada lugar podem variar. A estratégia de enfrentamento depende das condições em cada região.

 

BBC Brasil

 



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