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Brasil
13/01/2018 16:40:01

O adeus delas ao Nordeste: mulheres que vieram e venceram


O adeus delas ao Nordeste: mulheres que vieram e venceram
Nordestina que migrou para o sudeste

Por Bruna Somma

“Até sopa com miolo de cacto eu já tinha comido”, conta Maria das Graças Vasconcelos ao relembrar sua convivência com a mãe biológica, morta quando ela tinha quatro anos. Três dias e três noites de viagem de ônibus foram necessários para que ela e sua família adotiva, de Angicos, interior do Rio Grande do Norte, chegassem a São Paulo. No primeiro dia de 1973, o pai, já estabelecido há algum tempo na cidade, estava à espera. Os prejuízos causados pela estagnação econômica e pelas constantes secas na região precisavam ficar para trás.

Morando em uma residência composta apenas por cozinha e sala na zona sul de São Paulo, o clima frio foi uma das primeiras lembranças que marcariam a mudança no imaginário de Maria.

Perto dali, sete anos depois, a pequena Jane Silva também iria fazer de São Paulo a sua casa. Vinda de Flores, Pernambuco, ela recorda sua migração como algo sacrificante. Durante a viagem de ônibus, a presença de animais domésticos e a alimentação, frango assado e farofa levados por sua mãe, divertiam Jane e seus seis irmãos, todos crianças à época. Durante sua adolescência, empenhou-se incansavelmente cuidando de mulheres grávidas, não tendo tempo restante para estudar.

“Gostaria de ter tido uma carreira. Eu era independente, mas de uma classe baixa, então não tive muitos recursos”, comenta Jane, hoje empresária. Maria foi diferente. Passando grande parte da vida trabalhando como empregada doméstica, afirma nunca ter visto a educação acadêmica como prioridade: “Mas se eu pudesse escolher, teria sido aeromoça ou engenheira”, garante ela.

Fugida de um relacionamento abusivo, a mãe de Jane trabalhou como operária em São Paulo. Construiu uma casa para a família em um lugar que antes servia para um aterro sanitário. Pela mesma razão, em 1995, Aparecida Sampaio, conhecida como Cida, deixaria a sua cidade natal baiana, Santa Teresinha.

Aos 17, Cida casou-se com um homem com o dobro da sua idade, com o qual teve dois filhos. Era constantemente ameaçada de morte, subjugada e humilhada por ele. “Ele dormia com uma arma embaixo do travesseiro. Meus pais não acreditavam em mim.” Sem o devido apoio, com cerca de 100 reais no bolso, viajou e encontrou abrigo na casa de uma tia, na região leste de São Paulo.

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