G1 - Os cursos de pedagogia e licenciatura registram, em
cinco anos, um aumento de 36,3% em matrículas trancadas no Brasil. A quantidade
de pedidos para suspender temporária ou definitivamente os estudos passou de
154.876, em 2011, para 211.124 em 2015. O levantamento feito pelo G1 leva em conta os
cursos presenciais e a distância da graduação.
Os dados são
do Inep, órgão vinculado ao Ministério da Educação. Os números de 2016 e 2017
ainda não foram divulgados. Neste domingo (15), é comemorado o Dia do
Professor.
Teste
vocacional online, grátis e rápido ajuda na escolha da carreira
O crescimento em matrículas trancadas ocorre, principalmente, em
cursos de universidades públicas (74,3%). Em faculdades privadas, o aumento
fica em 22,4%. No Brasil, cerca de 1.200 instituições oferecem a formação.
No mesmo
período, os cursos de pedagogia e licenciatura apresentaram uma alta nas
matrículas, mas em uma proporção bem menor: 8,6%. Em 2015, eram 1,5 milhão de
matriculados. Já a taxa de concluintes caiu 0,3% durante os cinco anos.
A professora Natalia Affonso, de 26 anos, faz parte da estatística. Ela
já dava aula particular e em cursos de idiomas desde 2011 e queria alcançar a
estabilidade financeira. Por isso, quando se formou no bacharelado em inglês,
em 2013, Natalia decidiu não terminar a licenciatura. “Não sei se vou ter a
disponibilidade de voltar para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Uerj) e concluir o curso", conta. Se quiser retomar os
estudos, Natalia terá de solicitar o reingresso porque não mantém vínculo com a
universidade há mais de dois anos. E o pedido terá de ser julgado pela
instituição.
Ela guarda boas lembranças das quatro matérias da
licenciatura que cursou. Para ela, as aulas a ajudaram a se preparar para a
sala de aula. “O conteúdo era relevante e tinha gente de diferentes cursos, não
só de letras. Às vezes as aulas eram muitos mundos se encontrando.” No momento,
porém, ela não tem planos de voltar ao curso.
Outros cursos
Os dados do Inep também mostram que esse aumento em matrículas
trancadas se repete em todas as áreas com curso de graduação. No grupo de
cursos que engloba engenharia, por exemplo, essa taxa de suspensão dos estudos
teve crescimento de 141,6%, passando de 78.545 matrículas trancadas em 2011
para 189.754 em 2015.
O número de
matrículas nessa categoria, porém, também teve um crescimento maior no período
(64,3%), assim como a quantidade de concluintes (63,1%).
‘Apagão do magistério’
O sociólogo Cesar Callegari, relator da comissão de formação de
professores do Conselho Nacional da Educação, aponta que um dos problemas pode
ser uma falha no ensino dentro das escolas. “Os universitários já entram no
ensino superior com deficiência.”
Callegari afirma,
porém, que faltam professores qualificados em todas as áreas, como matemática,
química e física. Para ele, o país passa por um “apagão do magistério”.
Jacques de Lima, doutor em educação pela PUC-PR e
organizador do livro "Formação de Professores - Teoria e Prática
Pedagógica", conta que ouve relatos que alunos que deixam o curso por
falta de plano de carreira e "condições adequadas" para o exercício
da profissão.
Para ele, os
cursos a distância são importantes para alcançar pessoas que moram em locais de
difícil acesso e desejam estudar pedagogia e licenciatura. O importante, diz
Lima, é encontrar um curso com boa qualidade – seja presencial, seja a
distância.
Novo modelo
Em setembro deste ano, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes), ligada ao MEC, anunciou que fará mudanças na formação
de professores em exercício. O repasse de recursos passa a ser direto para as
instituições e haverá ainda mudanças no currículo dos cursos.
Em nota, o
Ministério da Educação informa que está finalizando uma política nacional de
formação de professores, já articulada à Base Nacional Comum Curricular.
"De acordo com o Censo Escolar da Educação Básica 2016, são 2,2 milhões de
professores e grande parte deles não é formada na área em que atua."