Gazetaweb //
"Tenho 34 anos e precisei retirar uma mama. Como tinha grande chance de o problema voltar devido ao histórico na família, retirei a outra por precaução, não me arrependo e toco minha vida de maneira tranquila".
Esta
é Myrtha, que se junta à Teresa, à Tânia, À Fernanda, à Eduarda, à Cláudia e...
tantas outras Marias que driblaram o câncer de mama, doença que já levou a
óbito 115 mulheres de janeiro a 4 de outubro deste ano, em Alagoas, e 53 só em
Maceió. Lamentavelmente, há uma previsão de que o estado feche o ano com 520
casos novos deste tipo e a capital com 270.
O câncer de
mama é o mais incidente em mulheres, representando 25% do total de casos de
câncer no mundo em 2012, com aproximadamente 1,7 milhão de casos novos naquele
ano. É a quinta causa de morte por câncer em geral (522.000 óbitos).
No Brasil, o
câncer de mama também é o mais incidente no público feminino de todas as
regiões, exceto na região Norte, onde o câncer do colo do útero ocupa a
primeira posição. Para este ano, foram estimados 57.960 casos novos, que
representam uma taxa de incidência de 56,2 casos por 100.000 mulheres.
A estimativa
de câncer de mama esperado para Alagoas, no ano de 2014/2015, foi de 480 casos
novos, sendo que 360 em Maceió. Para este ano, esperam-se 520 casos no estado e
270 só na capital. Quanto às mortes, 115 mulheres foram vitimadas em Alagoas,
sendo 53 em Maceió. Os dados são da Coordenação da Saúde da Mulher, da
Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Segundo a
coordenadora, Suzângela Dória de Mendonça, apesar dos inúmeros casos da
enfermidade, a rede foi otimizada, de forma a atender um maior número de
mulheres vítimas da doença e de forma mais célere. Há algum tempo, a burocracia
era um dos entraves para o diagnóstico em relação às mulheres acima dos 50 anos
de idade.
"Na
faixa etária de 50 a 69 anos, não precisa de marcação pelo Cora [Complexo
Regulador da Assistência] para o exame da mamografia, por exemplo. Ou seja, vai
direto com o encaminhamento da Unidade Básica de Saúde. Os locais conveniados
são as Clínicas Nova Imagem, Hospital Universitário, Clínica Guri, Cenefrom,
Ambulatório Rodrigo Ramalho (Santa Casa), Clinimagem e Sonograf", explica
Suzângela.
Realidade
No início desta semana, a Gazetawebesteve presente na
solenidade de abertura da campanha Outubro Rosa, no Maceió Shopping, no bairro
de Mangabeiras. A reportagem ouviu histórias de mulheres que lutaram e venceram
a doença por meio da persistência no tratamento. A operadora comercial Myrtha
Jeanne Mesquita, de apenas 34 anos, é uma delas. Em 2013, ela descobriu um
nódulo na mama, o que acendeu um alerta, levando em conta os sete casos de
câncer na família. Desses, quatro foram fatais.
"Passei
por todos os procedimentos, inclusive, pela biópsia, que constatou o carcinoma.
Naquele momento, estava recebendo meu atestado de óbito estando viva. Mesmo
assim, encorajei-me e decidi lutar, fazendo as sessões de quimioterapia durante
seis meses e a cirurgia de retirada da mama em São Paulo, no ano de 2014. Minha
história se parece com a da atriz Angelina Jolie, porque acabei retirando a
segunda mama após algum tempo, por precaução, já que o histórico na família é
grande, tendo começado com minha avó", relatou a operadora
comercial.
Myrtha
acrescentou que, hoje, sente-se aliviada porque as chances de desenvolver algum
tipo de câncer são menores. "Sofri um pouco, mas sou uma nova mulher.
Queria eu que todas as mulheres que tivessem histórico familiar ou já
desenvolvido a doença agissem de imediato. Para mim, foi muito difícil no
início, mas tive que enfrentar. Lamento porque tenho um exemplo em casa, minha
irmã, que não faz nem os exames porque tem medo".
Tânia Maria Silva Rocha, 53 anos, é outra guerreira. Ela teve câncer há
12 anos e fala sobre as dificuldades da doença. "É difícil. A gente
encontra muitas portas fechadas, fica afastada da sociedade, mas tive o apoio
de minha família, pois não adianta passar por todo o tratamento sem o carinho
dos seus", comentou Tânia, ex-presidente da ONG Renascer, que trabalha em
conjunto com a Rede Feminina de Combate ao Câncer de Mama.
Há um ano, ela estava sem um fio de cabelo na cabeça e, hoje, a situação
é outra. Trata-se da vereadora por Maceió Tereza Nelma, que teve câncer nas
regiões do reto, pâncreas e mama. "Posso dizer que já sou vencedora, pois
passei por três tipos de câncer e estou de pé para contar a história. Sei que é
triste a mutilação, mas é preciso lutar e acabar com a autodiscriminação. É
melhor o aperto de dez segundos no peito do que a perda de uma vida", comentou.
Outubro Rosa
Em função do diagnóstico tardio - o que contribuiu para os altos índices
de mortalidade por câncer de mama -, surgiu, nos Estados Unidos, no final do
século passado, um movimento conhecido como Outubro Rosa, mês escolhido para simbolizar
a luta contra esse tipo de doença. A primeira iniciativa no Brasil se deu com a
iluminação rosa de monumentos famosos. Hoje, a campanha é divulgada em todo o
território nacional e tem como objetivo conscientizar e orientar as mulheres
sobre a importância da detecção precoce do câncer de mama.
A Rede
Feminina de Combate ao Câncer em Alagoas é a entidade responsável pela
campanha, que existe há oito anos no estado e ganha adeptos cada vez mais,
incluindo até os homens, que também desenvolvem o câncer mamário. Para a
presidente da rede, Fátima Costa, o trabalho faz cumprir leis que conferem
direitos às pessoas vítimas do câncer ou que tenham a pré-disposição para
desenvolver a doença, tendo em vista, por exemplo, o fator genético.
Neste ano, o
tema da campanha é "Acesso já", de forma que as mulheres tenham
acesso aos exames de diagnóstico em até 30 dias e possam iniciar o tratamento
em até 60 dias, além do acesso rápido ao tratamento inovador do câncer
metastático.
"Hoje,
temos avanços, como o aumento do número de mulheres que procuram as unidades de
saúde após fazerem o autoexame; por outro lado, nosso estado ainda carece do
acesso imediato a todos os recursos de amparo à mulher vítima da doença. Para
isso, pressionamos todos os envolvidos na causa e alertamos a própria sociedade
com o nosso trabalho diário e intenso, não somente no mês de outubro. Com mais
de 130 voluntários, realizamos palestras, oficinas, entrega de panfletos e
outras atividades em hospitais, maternidades, comércio, mercado, escolas e
demais localidades com grande fluxo de pessoas", explicou a
presidente.